3ª Parte

Num desses domingos, depois de tudo ajeitado, à tardinha, e porque nada na televisão me interessava, peguei aquela mesma cadeira velha e fui sentar-me ali no gramado do campo, de frente para a varanda, de modo a observar o que acontecia no ninho.
Abri um livro já pelo meio a leitura e assim, por um tempo, nessa calma, achei a vida mais maravilhosa. No coração e no pensamento uma grande paz.
Enquanto leio, de vez em quando levanto os olhos lá pro ninho. E nesse ler e olhar os passarinhos, eis que pela beirada de cimento do telhado vem se arrastando, sonso que só ele e como quem não quer nada, um baita camaleão.
Até me arrepio. Tão devagarinho se arrasta que dá a impressão de que nem sai do lugar. Bicho mal intencionado.
Reparo: no ninho, os dois inocentes filhotinhos; lá em cima, na ponta do alambrado do muro do campo, a mãe rolinha que, apesar da distância, não desvia os olhinhos pretos da direção do ninho. Na certa se afastara para buscar comida quando, no último instante – coisa de mãe – percebeu o perigo.
Fecho o livro no colo pra ficar só observando. Não posso perder a cena, o desfecho será incrivelmente rápido. Mas um bom tempo se passa, o camaleão é muito sonso.
Fecho o livro no colo pra ficar só observando. Não posso perder a cena, o desfecho será incrivelmente rápido. Mas um bom tempo se passa, o camaleão é muito sonso.
A rolinha, do alto, só manjando, não move uma peninha; os filhotinhos, alheios a tudo e o camaleão, na dele.
O ninho já está próximo. O camaleão agora chegou tão perto que entre ele e os filhotinhos só cabe um bote certeiro. Estou atenta, quero ver tudo.
Mas muito pouco eu vi, quase nada mesmo. Não me distraí um instante, sequer pisquei e não sei dizer se o camaleão chegou a se espichar para abocanhar os filhotinhos.
Mas muito pouco eu vi, quase nada mesmo. Não me distraí um instante, sequer pisquei e não sei dizer se o camaleão chegou a se espichar para abocanhar os filhotinhos.
Também não posso dizer que vi a rolinha deixar o alto do alambrado. Só sei que os dois, em segundos, se encontraram e se engalfinharam. O voo da rolinha foi qualquer coisa de incrível.
Num tabefe só ela mandou o baita camaleão ao chão: pleft! E ele se esborrachou ali mesmo no acimentado cheio de sujinho de passarinho. Depois de muito sacrifício, todo escadeirado, ele se mandou. Xô, camaleão!
Ofegante, mas vitoriosa, no ninho a rolinha puxou os filhotinhos pra debaixo de suas asas. Mais tarde, só bem mais tarde ela levantou voo novamente, em busca de alimento.
( Continua na próxima semana)
Ofegante, mas vitoriosa, no ninho a rolinha puxou os filhotinhos pra debaixo de suas asas. Mais tarde, só bem mais tarde ela levantou voo novamente, em busca de alimento.
( Continua na próxima semana)
Postar um comentário