Já a cuidadora de idosos Mayara Ferrreira*, de 31 anos, viveu momentos de horror com o ex-companheiro, um mototaxista que a manteve sob tortura por 12h na casa onde moravam, em Ricardo de Albuquerque, Zona Norte do Rio.
E Fernanda Coelho *, de 29 anos, demorou seis anos para assumir que o relacionamento que vivia com o pai da sua filha era violento.
Larissa*, Mayara* e Fernanda* nunca foram amigas e jamais se viram. Mas, acabaram com destinos parecidos: são vítimas, como milhares de mulheres no Brasil, da violência doméstica.
Larissa*, Mayara* e Fernanda* nunca foram amigas e jamais se viram. Mas, acabaram com destinos parecidos: são vítimas, como milhares de mulheres no Brasil, da violência doméstica.
As três integram a triste e crescente estatística de mulheres agredidas, mortas e humilhadas por homens que algum dia acharam que seriam parceiros e não algozes.
Somente em janeiro deste ano, foram 11 novos casos de feminicídio no estado do Rio, que registrou outros 94 processos do segmento em 2021.
Somente em janeiro deste ano, foram 11 novos casos de feminicídio no estado do Rio, que registrou outros 94 processos do segmento em 2021.
Já em relação a outros tipos de violência doméstica, como agressão física e psicológica, por exemplo, foram 5.765 registros em janeiro de 2022, tendo havido 62.008 novos casos em 2021.
No mesmo ano de 2021, o TJRJ deferiu 33.830 medidas protetivas de urgência, número 17,01% superior ao registrado em 2020.
No mesmo ano de 2021, o TJRJ deferiu 33.830 medidas protetivas de urgência, número 17,01% superior ao registrado em 2020.
E essa violência também chega às crianças e adolescentes: em 2021, o Núcleo de Depoimento Especial de Crianças e Adolescentes (Nudeca) registrou 737 depoimentos, um aumento de 208% em relação ao ano anterior.
E a punição aos agressores não tem trégua. Em 2021, o TJRJ deu 71.772 sentenças em processos de violência doméstica, 33,4% a mais do que em 2020. Neste ano, somente em janeiro, foram 4.498 sentenças.
Neste Dia da Mulher, a desembargadora Suely Magalhães, presidente da Coordenadoria Estadual da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar (Coem) do TJRJ, avalia que já houve grandes avanços no combate à violência doméstica, mas ainda há muito a fazer para dar cumprimento à Lei Maria da Penha e às Recomendações 33 e 35 da Convenção Para a Eliminação de Todas as Formas de Violência Contra a Mulher (Cedaw), do qual o Brasil é signatário.
E a punição aos agressores não tem trégua. Em 2021, o TJRJ deu 71.772 sentenças em processos de violência doméstica, 33,4% a mais do que em 2020. Neste ano, somente em janeiro, foram 4.498 sentenças.
Neste Dia da Mulher, a desembargadora Suely Magalhães, presidente da Coordenadoria Estadual da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar (Coem) do TJRJ, avalia que já houve grandes avanços no combate à violência doméstica, mas ainda há muito a fazer para dar cumprimento à Lei Maria da Penha e às Recomendações 33 e 35 da Convenção Para a Eliminação de Todas as Formas de Violência Contra a Mulher (Cedaw), do qual o Brasil é signatário.
As recomendações determinam que seja garantido o acolhimento célere e humanizado no âmbito do Judiciário de todas as mulheres que forem vítimas de violência de gênero, isento de estereótipos e preconceitos de gênero.
De acordo com a magistrada, o Brasil é um país com grandes índices de violência doméstica em que a maior parte das agressões ocorre dentro de casa e, com o isolamento devido à pandemia, a situação ficou pior.
“Alguns fatores colaboraram com o agravamento da violência, como a dificuldade de acesso aos serviços de proteção, o medo da doença e do desemprego e um maior controle do homem sobre a mulher. Nesse contexto nunca imaginado, constatamos que a articulação da rede de enfrentamento da violência contra a mulher (sistema de justiça, órgãos se segurança pública, da saúde e da assistência social) é fundamental. A violência contra a mulher é um fenômeno multidimensional, não basta punir, deve haver um compromisso de todos os órgãos governamentais e não governamentais e da sociedade civil”, afirma.
Para ao presidente do Tribunal de Justiça do Rio, desembargador Henrique Carlos de Andrade Figueira, essa deve ser uma luta contínua de todos.
Também houve um trabalho conjunto com a Polícia Civil para garantir o atendimento 24 horas das mulheres vítimas de violência doméstica nas delegacias e para o aprimoramento dos meios remotos de denúncias, como o RO on-line e o canal telefônico 197.
Mayara*
A cuidadora de idosos não esquece a sessão de torturas pela qual passou. Em janeiro deste ano, seu então companheiro chegou à residência do casal após o trabalho na hora de sempre, por volta de meia-noite, e, depois de perguntar pela sua comida, começou a agredir fisicamente Mayara, a mantendo sentada de cabeça baixa durante as agressões.
Se ela se levantasse, ele quebraria suas pernas; caso levantasse o olhar, teria sua cabeça quebrada pela pá que ele segurava para ameaçá-la.
De acordo com a magistrada, o Brasil é um país com grandes índices de violência doméstica em que a maior parte das agressões ocorre dentro de casa e, com o isolamento devido à pandemia, a situação ficou pior.
“Alguns fatores colaboraram com o agravamento da violência, como a dificuldade de acesso aos serviços de proteção, o medo da doença e do desemprego e um maior controle do homem sobre a mulher. Nesse contexto nunca imaginado, constatamos que a articulação da rede de enfrentamento da violência contra a mulher (sistema de justiça, órgãos se segurança pública, da saúde e da assistência social) é fundamental. A violência contra a mulher é um fenômeno multidimensional, não basta punir, deve haver um compromisso de todos os órgãos governamentais e não governamentais e da sociedade civil”, afirma.
Para ao presidente do Tribunal de Justiça do Rio, desembargador Henrique Carlos de Andrade Figueira, essa deve ser uma luta contínua de todos.
“A união, o empenho e o combate ininterrupto à violência doméstica por toda a sociedade, cada um em sua esfera de atuação, é que nos trará dias melhores, com a paz social que tanto almejamos. O Judiciário fluminense está ao lado dessas mulheres”, ressalta.
Canais e instrumentos de apoio
E é nessa direção, de combate à violência doméstica e apoio às mulheres vitimadas, que a Coordenadoria Estadual da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar (Coem) segue intensificando seu trabalho.Os esforços e iniciativas são ininterruptos. Na pandemia, por exemplo, foram realizadas reuniões semanais virtuais com os integrantes da rede de proteção existente visando a promover, divulgar, fortalecer e implementar ações para diminuir os obstáculos adicionais que as mulheres enfrentaram.
Também houve um trabalho conjunto com a Polícia Civil para garantir o atendimento 24 horas das mulheres vítimas de violência doméstica nas delegacias e para o aprimoramento dos meios remotos de denúncias, como o RO on-line e o canal telefônico 197.
Foram realizadas ainda campanhas informativas como a Campanha Covid-19 - Confinamento sem Violência, em que foram distribuídos cartazes pelo estado em locais de essenciais divulgando o canal 197 e a cartilha da Escola da Magistratura do Estado do Rio (Emerj), assim como a mobilização pela campanha Sinal Vermelho contra a Violência do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB).
A Coem e a Emerj, em parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), lançaram ainda o Aplicativo Maria da Penha Virtual.
A Coem e a Emerj, em parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), lançaram ainda o Aplicativo Maria da Penha Virtual.
O app permite que a mulher possa pedir diretamente ao Judiciário medidas protetivas de forma simples e rápida por meio de qualquer computador, tablet ou telefone celular. A ferramenta está, a partir de hoje, disponível em todo o estado.
Na avaliação da desembargadora Suely Magalhães, para mudar a realidade, é preciso informar, acolher e acreditar. “A prevenção e a proteção da mulher são os principais remédios”, destaca. Às mulheres que vivem hoje neste ciclo de violência ela orienta: “Denuncie. O seu silêncio é o principal aliado do seu agressor”, alerta.
Antes de ser vítima das agressões do marido, Larissa* via no companheiro o amor de sua vida. Jamais imaginou que o rapaz gentil e educado dos tempos de escola viria a se tornar seu agressor. Porém, durante o relacionamento, ele se mostrou possessivo.
Na avaliação da desembargadora Suely Magalhães, para mudar a realidade, é preciso informar, acolher e acreditar. “A prevenção e a proteção da mulher são os principais remédios”, destaca. Às mulheres que vivem hoje neste ciclo de violência ela orienta: “Denuncie. O seu silêncio é o principal aliado do seu agressor”, alerta.
Histórias cruzadas pela dor
Larissa*Antes de ser vítima das agressões do marido, Larissa* via no companheiro o amor de sua vida. Jamais imaginou que o rapaz gentil e educado dos tempos de escola viria a se tornar seu agressor. Porém, durante o relacionamento, ele se mostrou possessivo.
Queria ter o controle de tudo, sempre dava um jeito de buscá-la nos lugares e ligava para o seu trabalho para confirmar se de fato estava lá. Após cada traição descoberta por Larissa – e foram muitas – ele ainda a agredia.
Ele que dependia financeiramente dela, mas a violência patrimonial, muitas vezes desconhecida, também acabou ocorrendo na relação.
Ele que dependia financeiramente dela, mas a violência patrimonial, muitas vezes desconhecida, também acabou ocorrendo na relação.
Até o carro comprado por Larissa foi exigido por seu hoje ex-companheiro – o que levou a militar a devolver o veículo onde comprou, perdendo parte do dinheiro, para evitar a perda total do bem.
Mesmo com uma medida protetiva em curso, Larissa ainda não se sente totalmente livre e evita, por exemplo, postar fotos em redes sociais com medo de que ele descubra por onde ela anda.
E faz um alerta sobre promessas de mudanças: “Não muda de fato, é irreversível. Pode até mudar por um tempo, mas depois tudo volta a ser como antes”, diz.
Mayara*
A cuidadora de idosos não esquece a sessão de torturas pela qual passou. Em janeiro deste ano, seu então companheiro chegou à residência do casal após o trabalho na hora de sempre, por volta de meia-noite, e, depois de perguntar pela sua comida, começou a agredir fisicamente Mayara, a mantendo sentada de cabeça baixa durante as agressões.
Se ela se levantasse, ele quebraria suas pernas; caso levantasse o olhar, teria sua cabeça quebrada pela pá que ele segurava para ameaçá-la.
Até sair de casa para trabalhar, já no fim da manhã, como se nada tivesse acontecido, ele ainda a estuprou.
Depois que ele deixou o local, Mayara procurou a ajuda de uma conselheira tutelar que conhecia, que a orientou a fazer o registro do ocorrido na Delegacia da Mulher.
Foi assim que conseguiu se livrar desse relacionamento abusivo. Hoje, ela tem a seu favor uma medida protetiva, que vem sendo cumprida.
Para ela, as mulheres devem reagir logo caso venham a se ver em uma situação como a sua. “Digo para não se intimidarem, ao menor sintoma – dizendo que não gosta da sua roupa ou fazendo algo que a ofusque. Perceba que não é um relacionamento saudável. Procure sempre ajuda, seja com um amigo, um vizinho, a polícia. Não fique calada, pois a tendência é piorar”, indica.
Fernanda Coelho*
Fernanda custou a atender que vivia um relacionamento abusivo. No início, minimizava as agressões físicas e psicológicas por que passava, e ainda sustentava sozinha a casa, pois companheiro estava desempregado.
Para ela, as mulheres devem reagir logo caso venham a se ver em uma situação como a sua. “Digo para não se intimidarem, ao menor sintoma – dizendo que não gosta da sua roupa ou fazendo algo que a ofusque. Perceba que não é um relacionamento saudável. Procure sempre ajuda, seja com um amigo, um vizinho, a polícia. Não fique calada, pois a tendência é piorar”, indica.
Fernanda Coelho*
Fernanda custou a atender que vivia um relacionamento abusivo. No início, minimizava as agressões físicas e psicológicas por que passava, e ainda sustentava sozinha a casa, pois companheiro estava desempregado.
Mesmo alertada, seguia perdoando o homem que amava. Só depois conseguiu ver que ele era manipulador e a fazia sentir que estava sempre errada.
Atualmente, com uma medida protetiva que impede judicialmente o ex-marido de se aproximar, Fernanda respira aliviada, mas não sem os traumas e medos que essa relação destrutiva a causou.
Atualmente, com uma medida protetiva que impede judicialmente o ex-marido de se aproximar, Fernanda respira aliviada, mas não sem os traumas e medos que essa relação destrutiva a causou.
“É difícil voltar a confiar em alguém”, contou ela, que dá um alerta a mulheres que estejam passando pelo mesmo problema.
“A agressão física, psicológica não vai ser passageira. São abusadores psicológicos, manipuladores. É preciso estar alerta, denunciar e sair deste ciclo de violência”.
*Nomes fictícios para não identificar as vítimas.
Saiba mais informações sobre violência doméstica e como denunciar o agressor acessando a cartilha abaixo: https://www.emerj.tjrj.jus.br/publicacoes/cartilhas/violencia-domestica/versao-digital/index.html
*Nomes fictícios para não identificar as vítimas.
Saiba mais informações sobre violência doméstica e como denunciar o agressor acessando a cartilha abaixo: https://www.emerj.tjrj.jus.br/publicacoes/cartilhas/violencia-domestica/versao-digital/index.html
Fonte: Ascom TJRJ
Imagem: Paulo Pinto/ AGPTfull-width
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