Quem samba aqui, samba lá também

Apaixonados pelo samba e o carnaval de Três Rios, com a ausência dos desfiles na cidade, irão mostrar seus talentos em abril, na Cidade Maravilhosa



Fotos: Reprodução rede social

Redação

Quem ama o samba e o carnaval não se aquieta. Se Três Rios não teve carnaval e nem o tradicional desfile das escolas de samba na Avenida Condessa do Rio Novo, o negócio é se refugiar na capital para curtir e aproveitar o desfile das escolas de samba em abril.

Já é sabido que a cidade tem muitos talentos em diversos segmentos das escolas de samba, feito que a coloca como um dos melhores carnavais do interior fluminense.

Apesar da distância, trirrienses ou não, eles não perderam tempo e estão se dedicando aos ensaios e em pouco menos de um mês estarão desfilando na Marquês de Sapucaí, palco do maior espetáculo a céu aberto do mundo.

A maioria vai desfilar entre os ritmistas das baterias da Imperatriz Leopoldinense, Acadêmicos do Salgueiro e Paraíso do Tuiuti, que são escolas de samba da chamada "elite" do carnaval carioca. Mas tem quem vai estar abrindo o desfile da Mocidade Independente de Padre Miguel entre os integrantes da comissão de frente da escola carioca. E também quem ainda promete dar show entre os passistas da Unidos da Tijuca.

Professor na ala de tamborins



Experiente no tamborim, instrumento que toca com muita intimidade, o professor de educação física e diretor de carnaval da Mocidade Independente de Vila Isabel, Flávio Roberto, 33 anos, estará entre os ritmistas da Bateria Furiosa do Salgueiro; isso no primeiro dia do desfile do Grupo Especial. No segundo dia, no mesmo instrumento, ele vai desfilar pela bateria Supersom, da Paraíso do Tuiuti.

A experiência não é nova para o vassourense que mora em Três Rios e desfila na capital desde 2010, já tendo passado por cerca de 10 agremiações. O talento à frente de uma bateria o rendeu o troféu Ziriguidum de Revelação em 2020, quando o professor comandou os ritmistas da escola de samba trirriense Sonhos de Mixyricka.

“Todo ano é uma emoção muito grande, como se fosse a primeira vez. Desfilar na Sapucaí era um sonho meu de criança e que pude realizar. Hoje contribuo para que outros realizem esse sonho e sintam essa emoção de atravessar o templo do samba em uma bateria”, ressalta Flávio que disse também estar morrendo de saudades do desfile trirriense.

Quanto à parada de dois anos do carnaval de Três Rios, ele é categórico: "Tendo em vista que nos últimos anos as escolas vêm tendo seus contingentes diminuídos e algumas com dificuldade na renovação, a parada é bastante prejudicial, pois afasta a comunidade de suas quadras, além do fato de que as pessoas passam a buscar outras formas de aproveitar o Carnaval em outros locais como praia, por exemplo, esvaziando a cidade no período da folia. Teremos um árduo trabalho para a reconstrução do Carnaval de Três Rios”.

Ansiedade pela estreia




Quem vai estrear na Sapucaí é o trirriense e design de moda João Vitor Barbosa, 23 anos. A ansiedade toma conta do ritmista que a exemplo do amigo Flávio, também vai estar na bateria do Salgueiro tocando chocalho. E haja disposição para sacolejar o instrumento por cerca de 65 a 75 minutos, ou um pouco mais contando-se o esquenta antes do início do desfile.

João freqüenta os ensaios em uma escala que o faz ir ao Rio para estar afinado com os colegas de ritmo da Furiosa.

"Talvez esse seja um dos maiores sonhos da minha vida! Sou apaixonado pelo carnaval desde criança e sempre me imaginei um dia desfilando na Sapucaí. Nos últimos carnavais, Flavio me chamou para poder tentar a vaga lá no Salgueiro, mas, às quintas-feiras, dia do ensaio, eu tinha aula na faculdade em Juiz de Fora. Então, pensei comigo: no momento certo vai acontecer. Me formei no meio do ano passado e poucas semanas depois, Flavio me falou novamente para tentar a vaga no Salgueiro. Fui cheio de esperança, mas já ciente que é muito difícil entrar numa bateria do Grupo Especial, onde só tem 24 vagas no naipe. Chegando lá fui conversar com a diretora, Denise, que me deu a triste notícia que não tinha vagas para a ala de chocalho, mas que eu poderia ficar à vontade para ensaiar aquele dia. No final do ensaio ela me disse que eu poderia continuar frequentando, mesmo sem compromisso. Até que um dia me adicionaram no grupo do WhatsApp da ala; quase caí pra trás. Já sofro de ansiedade no dia a dia, com essa estreia na Sapucaí junto com o Salgueiro, me faz ficar imaginando como vai ser no dia; já sinto o frio na barriga só de lembrar!", revela o ritmista trirriense.

Quanto à ausência do desfile trirriense por dois anos, ele também opinou: "Todos sabem dos riscos, as medidas e cuidados as serem tomados. Não faço questão dos quatro dias de folia, mas coloco toda a força que eu tiver para levar uma escola de samba pra avenida. Estamos repetindo essa fala que chega a ser clichê há anos, mas ainda a grande população que defendeu na internet o cancelamento dos desfiles e não entendeu que escola de samba não é só folia, é cultura, educação, emprego e renda, e a falta do desfiles impede que muitas pessoas trabalhem para se sustentar. A cultura das escolas de samba precisa ser fomentada na nossa cidade e região. Precisamos de incentivo para trazer a renovação para dentro das quadras, tanto como torcedores quanto pessoas que fazem o desfile acontecer como ritmistas, aderecistas e carnavalescos, a fim de perpetuar a nossa cultura por gerações futuras. Mas se infelizmente deixarmos parados, como nesses dois últimos carnavais, essa tradição tão amada vai acabar de vez aqui na nossa cidade, o que seria triste para Três Rios, que tem o melhor carnaval da região. A Mocidade da Vila vem desempenhando um papel importantíssimo ao querer fazer 100 % do seu próximo carnaval dentro da cidade na intenção dessa fomentação e incentivo. Vamos continuar trabalhando para voltar com tudo em 2023", disse esperançoso.

Mestre entre os ritmistas



Um dos diretores da Bateria Explosão da escola de samba trirriense Mocidade da Vila, Mestre Igor Brisa, 25 anos, vai desfilar na bateria Supersom, da Paraíso do Tuiuti.

Não é a primeira vez que Igor vai desfilar na Sapucaí, pois já passou pela Inocentes de Belford Roxo e pela Império da Tijuca, mas ele também gostaria de estar lá e mais ainda desfilando no carnaval trirriense.

“É triste o momento que estamos passando devido à pandemia. Eu, como sambista, entendo alguns pontos, porém, vejo que o carnaval trirriense anda sofrendo críticas devido à pandemia; às vezes fico pensando: será que é só na avenida que tem pandemia ? E os bares, restaurantes festas clandestinas que vivem lotados, será que é só no carnaval que tem a pandemia ?

Fico triste porque sou apaixonado. Sem a Avenida Condessa do Rio Novo, não sou ninguém. Primeiro porque ia ser o ano de minha estreia como mestre de bateria junto com meus irmãos de farda, Pedro e Kim. Ali é o meu lazer; é como se fosse meu esporte favorito. Dou minha vida ali. Às vezes reclamava um pouco de que estava cansado (normal). Nunca mais vou repetir isso (risos). Se continuarmos sem o desfile mais um ano, creio eu que para retornar será muito difícil e nosso carnaval venha a acabar de vez”, disse Brisa.

Entre a farda e a fantasia



Renato Duarte Pereira, 43 anos, é cria do bairro Caixa D´Água e outro apaixonado pelo samba e pelo carnaval; mais ainda por sua escola de samba do coração em Três Rios: o Bom das Bocas. Mas, com a ausência da verde e branco na Condessa do Rio Novo, Renato, que é primeiro tenente do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro, em abril vai deixar a farda por um dia e vestir a fantasia de ritmista da bateria Swing da Leopoldina, da Imperatriz Leopoldinense, primeira a entrar na Sapucaí, abrindo o desfile do Grupo Especial, no dia 22 de abril.

“A minha história com a Imperatriz Leopoldinense começou por influência de um amigo/irmão, o Alan, do RJ, que já fazia parte da Swing da Leopoldina. Não sei precisar o ano, mas há aproximadamente sete ou oito anos, a Imperatriz veio fazer um show no Bom das Bocas, onde eu o conheci. Ele ficou amigo de toda a minha família, chegando a morar em Três Rios. Cheguei a considerá-lo um Duarte Pereira (brinca). Em julho do ano passado, ele me chamou para ir ao ensaio de bateria na quadra da Rainha de Ramos. Lembro que fomos eu, meu filho Mateus e os amigos Brunão e Josemar. Me senti muito bem naquele ambiente e logo no primeiro dia ensaiei na caixa de guerra, instrumento que irei tocar em abril.

De lá pra cá, foi só empenho e prazer em participar de uma bateria do Grupo Especial. Compareci aos ensaios, aprendi muito, pois os diretores são muito bons. Os ensaios, inicialmente, eram todas as segundas-feiras e com o passar do tempo, também nas sextas feiras. E ainda surgiram os ensaios de rua aos domingos e eventos na quadra.

É a primeira vez que desfilarei na Marquês de Sapucaí como integrante de uma bateria. E pra minha alegria, numa escola verde e branca. Vou aos ensaios sempre com meu filho e revezando com amigos e familiares. Todos gostam muito, afinal, minha família tem o samba na sua essência”, relata emocionado o bombeiro militar.

Renato já foi diretor da bateria Furiosa do Bom das Bocas e também fala da parada do carnaval trirriense: “tenho uma opinião que talvez não agrade. Não nego a existência de uma enfermidade que assolou o mundo. Mas essa pandemia revelou muita incoerência em vários setores, inclusive no setor público. Isso não só em Três Rios, mas em cidades que convivi. Inicialmente o medo era por falta de leitos, depois, escassez de respiradores. Depois uma sequência de indagações e problematização. E no meu entendimento, o Carnaval foi considerado como um dos principais vilões para o agravamento do quadro epidemiológico. Os sambistas foram penalizados. A verdade é essa. Ouvi pessoas dizendo não ao carnaval, mas viajaram para as praias lotadas. Graças a Deus esse cenário está melhorando. Lamento as vidas perdidas. Mas o Criador está no controle”, comenta ainda Renato.

Destaque no primeiro impacto



O dançarino e coreógrafo, Jhonison Paulo, 27 anos, também é outro que não esconde a ansiedade em desfilar na Sapucaí, o que não é novidade pra ele, que já desfilou pelo mesmo quesito que defendeu na Renascer de Jacarepaguá, na Série Ouro. Desta vez, Jhonison vai estar entre os integrantes da comissão de frente da Mocidade Independente de Padre Miguel, coreografada por Jorge Teixeira e Saulo Finelon, onde está ensaiando exaustivamente para que o grupo brilhe e conquiste as notas máximas dos jurados do quesito que é o primeiro impacto de uma escola de samba na avenida.

Jhonison Paulo (primeiro à dir.) entre os integrantes da comissão de frente da escola de samba de Padre Miguel em um dos ensaios na Marquês de Sapucaí
 

“Em Três Rios desfilo desde pequeno. Comecei como passista mirim na escola do meu bairro, o Monte Castelo, que era a Em Cima da Hora. Mas logo fui pra outras escolas, pois minha tia começou a me carregar pra outras agremiações. Com o tempo fui convidado a ir pra coreografar a comissão de frente do GRES Independente do Triângulo. Pouco tempo depois coreografei a comissão da Mocidade da Vila e, atualmente estou como coreógrafo do Bambas do Ritmo", revelou Jhonison.

Sobre o desfile da Mocidade de Padre Miguel, o trirriense diz: “Eu sei como é importante abrir o desfile de uma escola e o quanto isso também é valioso pra contribuir pra avaliação da escola em um todo, pois cada décimo é de extrema importância. Então, sempre procuro me doar, tanto como bailarino, quanto como coreógrafo, pra que o trabalho seja realizado com sucesso. Claramente sim, a expectativa é de nervosismo e ansiedade pra que tudo dê certo. Eu tenho ensaiado desde o ano passado, com uma carga menor. Já esse ano foi bem mais intenso e ensaiamos todos os dias de 22h até 1h30, por aí. Já que essa comissão vai precisar de bastante cuidado devido aos elementos que irão pra avenida. Paramos duas semanas após o cancelamento do carnaval e estamos firmes agora nessa reta final pro desfile. Mas está sendo mais uma experiência pra mim como profissional da dança que com certeza vai acrescentar positivamente”, conclui o bailarino trirriense.

Habilidade com pernas e pés



Nascido e criado na Vila Isabel, o trirriense Flávio Henrique Sobreira, desde criança é apaixonado pelo samba. "O samba me escolheu para amá-lo", diz o sambista que revela que, com a possibilidade de passar mais tempo no Rio, não perdeu tempo e logo começou a frequentar os ensaios das escolas de samba no Rio.

"As pessoas que são mais próximas de mim sabem que há muitos anos o meu coração bate mais forte pela Unidos da Tijuca, até que surgiu a possibilidade de fazer parte da ala de passistas Encantos do Pavão! Que felicidade a minha, entre mais de 25 candidatos, com uma bagagem incrível, eu, trirriense, fui um dos aprovados naquela audição", revela emocionado.

Flávio comenta ainda que ao longo desse tempo, obteve inúmeras experiências, inclusive o tão sonhado desejo de participar do maior espetáculo da terra, o de desfilar na Marquês de Sapucaí. "É um sentimento único e indescritível! Quando você sai da Avenida Presidente Vargas e faz a curva para entrar na Sapucaí, a boca seca, o coração acelera, parece que vai saltar pela boca e as pernas tremem, mas, ao ver a felicidade dos torcedores logo no setor 1, sorrindo, cantando e vibrando com a sua passagem, não tem preço. É uma sensação maravilhosa, e faz com que você queira dar o seu melhor durante o restante do desfile, curtir, sorrir, extravasar e principalmente sambar, como se não houvesse amanhã. A parte ruim é que tudo que é bom dura pouco, ou seja, quando nos damos conta já estamos na praça da Apoteose"

Flávio vai desfilar, além da Tijuca, na Lins Imperial, da Série Ouro.

"A ausência do carnaval em Três Rios me deixou bastante triste, pois sei que muitos assim como eu são apaixonados pela folia e esperam o ano inteiro por esse momento, ainda mais neste momento que vivenciamos e que agora estamos saindo. Por isso deveríamos comemorar, do jeito que gostamos, sambando! Mas acredito que o próximo carnaval, será um dos maiores da história da cidade. Temos bons profissionais e amantes da nossa cultura para fazer acontecer", comenta sobre sua cidade.

Os desfiles no Sambódromo da Marquês de Sapucaí serão realizados nos dias 20 e 21 de abril (quarta e quinta-feira, Série Ouro), e nos dias 22 e 23 de abril (sexta-feira e sábado, Grupo Especial), ambos transmitidos ao vivo pela Rede Globo.

Confira a ordem dos desfiles do Grupo Especial:

1º dia (sexta-feira, 22/04/2022): Imperatriz Leopoldinense, Mangueira, Acadêmicos do Salgueiro, São Clemente, Unidos do Viradouro e Beija-Flor

2ºdia (sábado, 23/04/2022): Paraíso do Tuiuti, Portela, Mocidade Ind. de Padre Miguel, Unidos da Tijuca, Acadêmicos do Grande Rio e Unidos de Vila Isabel

O desfiles terão início às 22h. A apuração acontece na terça-feira (26) e o desfile das campeãs no sábado seguinte, dia 30.












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