Expectativas


Foto: Reprodução/ Pixabay

Nascemos nus e nos vestimos de informações, crescemos e convivemos com os pássaros e dragões, com as ovelhas e com os leões, com os ventos e com as embarcações. Com o tempo aprendemos que não somos tão gigantes do universo, nem anões do regresso.

Aprendemos com a água e com os incêndios. Somos capazes de aprender a crescer com as vozes e com os silêncios. Ao caminhar mais expostos, descalços com os pés no chão, por vezes compreendemos que o calar pode ganhar forças para confrontar os desejos, até mesmo o intrínseco desejo do falar. Caminhamos descalços sobre os caroços e percalços dos paradoxos onde a dor e o amor emergem num elo paralelo que funde e confunde os alicerces dos castelos.

Idealizamos e criamos conforme caminhamos nas trilhas dos sentidos e das percepções, dos pensamentos e dos sentimentos, dos pássaros e dragões.Nos perdemos e nos encontramos, sonhamos e acordamos, dançamos e tropeçamos, caímos e nos levantamos, permanecemos e mudamos. Aprendemos com os erros e com os acertos, nos satisfazemos e nos decepcionamos, sorrimos e choramos, construímos castelos nas pedras sólidas e em meio as areias finas que findam em ruínas ácidas banhadas por lágrimas.

Somos obras inacabadas que cortam o ventre da terra seca para desabrochar em busca de água. Fazemos planos e por vezes precisamos nos lançar para fora das curvas para não ficarmos demasiadamente nas chuvas que nutrem, mas que podem tornar-se ácidas como pássaros sem asas por escolhas próprias.

Uma das escolhas mais comuns na espécie humana é criar e alimentar expectativas com as coisas, situações e pessoas, a maior parte das expectativas se baseia nos ideais construídos.Umas das maiores causas das demasiadas expectativas dos indivíduos são o orgulho e a vaidade, palavras capazes de emergir poderosas grades. Criar expectativas pode tornar-se algo bom ou ruim, como a diferença de determinadas substâncias que podem tornar-se remédio ou veneno dependendo do contexto e da dose. Para a expectativa não tornar-se um fardo cravejado de espinhos é preciso olhar melhor para os caminhos, é preciso olhar melhor para dentro e para os lados. Uma quase constante capaz de ocasionar abalos sísmicos nas estruturas dos equilíbrios é criar expectativas. Constantemente nos esquecemos de olhar com profundidade os variados cenários e deixamos de perceber que transitamos entre os altos e baixos, que nos perdemos e que nos encontramos. Nos esquecemos que perguntas e respostas abrem portas e não raramente nos trancamos nos quartos escuros das certezas incertas.

Transitar não é, e nunca foi sinônimo de vagar como os zumbis do espaço tempo. De nada servem as bússolas se não se sabe ondedeseja chegar. No paradoxo desse caminhar podemos compreender que existe a possibilidade de aprender a cada suspiro, a cada respirar, a cada novo olhar... Caminhar envolve decisões de onde vem as mais variadas lições, pois até mesmo fazer nada é fazer algo. As decisões por sua vez envolvem os sins e os nãos, podem representar a diferença entre a luz e a escuridão, escuridão que não deixa de servir para o progresso, entretanto, aprisionar-se aos grilhões da pior versão acaba sendo um caminho na contramão do eu melhor, acaba sendo lançar-se nos espinhos da ignorância, espinhos capazes de ferir a própria rosa e a carne do outro que pode não ser muito, mas que nunca será de todo pouco. Tudo tem o seu preço e não adianta mudar de endereço em uma fuga geográfica, enquanto o amor não tiver exalado o seu odor, enquanto a compreensão não tiver saído do canto à margem e tiver perdido o tom do canto do encanto o indivíduo acabará se tornando o seu maior inimigo, inimigo que tenderá a destruir os melhores abrigos deixando os piores vestígios.

As pessoas gostam de criar imagens e isso não é uma inverdade, as pessoas criam imagens e seus variados reflexos se esquecendo de observar que em um mesmo sistema solar existem diferentes mistérios e hemisférios. Transitamos entre os aviões de papel, entre os pratos do real e os retratos abstratos que nunca cabem em um denominador igual. Somos semelhantes, mas peculiares, somos estrelas lunares em busca de Sol, em busca de sentidos que preencham os espaços vazios.

Cada ser humano é dono de um verdadeiro universo em expansão,composto por um imensurável quebra-cabeça de diversos eus que deságuam no núcleo de um mundo muito particular que é muito peculiar para ser mensurado, mesmo através das significativas e relevantes percepções e dos sentidos que transitam em variadas dimensões. Nunca conseguiremos navegar em todo o mar do outro e dos outros, sequer conseguimos contemplar nossa imensa profundeza nuclear, quando chegamos nesse estágio de compreensão aprendemos melhor o significado de palavras raras, outrora quase excluídas do dicionário particular, como: aceitação, compreensão e lição.

Aceitação de si mesmo e dos inúmeros mundos que são os outros não representam necessariamente omissões e alimentar dragões, mas a busca por quebrar variados ciclos e grilhões como os das cobranças que são capazes de minar sonhos, esperanças e os mais belos risos de crianças.

Vivemos em um mundo de incertezas quase certas, de cortinas entreabertas. A busca da consciência amplia os horizontes da experiência. No próximo artigo daremos continuidade ao assunto. Até lá!...

Seja forte e corajoso. Não se apavore nem desanime.

Por: Jhean Garcia





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