Conhecendo a Umbanda - Parte III

Durante o carnaval, é comum que os Templos/Terreiros paralisem as suas atividades espirituais dado que o período é dedicado à festa da carne. É também uma espécie de recesso para os médiuns.

A festa profana costuma ser associada aos Exus. Equivocadamente, muitas pessoas, por total desconhecimento, veem os Exus como sendo o demônio. O capeta. A entidade do mal.

Considerando o entendimento de que o mal é coisa do demônio e o bem é coisa de Deus, porque o ser humano, não sendo nem Deus e nem Diabo, faz o bem e faz o mal?

O Exu é o Orixá da linha a qual trabalham as “pombagiras”, os “malandros”. Os Exus propriamente ditos. São espíritos que também tiveram um corpo e vivenciaram experiências na Terra assim como os caboclos e os pretos velhos. Os caboclos na figura de índios, mas não só, e os pretos velhos que foram escravos e desencarnaram idosos.

No caso dos Exus, foram pessoas que, por necessidade ou por opção, fizeram da passagem pelo planeta uma forma de vida sem restrições, usando a própria existência como meio de obterem todo tipo de vantagem e prazer. Também se utilizavam do corpo para se beneficiar em materialmente. Figuras sedutoras e astutas que faziam deste comportamento um meio de vida e sustento.Exemplifico citando os que atuaram na tão conhecida e mais antiga das profissões -a prostituição.

O sexo como meio de sobrevivência, o uso desmedido da bebida alcoólica e as drogas fazem parte do cenário que associa os seus adeptos à energia do Orixá Exu.

Os espíritos da linha de Exu são considerados os espíritos com maior dificuldade para se desligarem do plano material, pois são apegados aos prazeres mundanos e por esta razão conseguem ter trânsito livre entre o “céu e a terra”já que conservam energias fluídicas que lhes permitem este movimento. Daí o entendimento de que eles, no carnaval, aproveitam para se infiltrarem na festa, tomando o corpo dos foliões menos fortalecidos espiritualmente, para beberem,praticarem sexo e usufruírem de todas as possibilidades de excessos a fim de “matarem a saudade” dos tempos de encarnados.

O Orixá Exu, no contexto das doutrinas de matriz africana, representa a energia do movimento e da comunicação entre os mundos. A forma como Exu é descrito, bem como o seu papel é interpretado, no âmbito espiritual, tem muito do “disse me disse” popular. Porém, também dentro de um contexto espiritual, ele tem, sim, este trânsito.

Sob a doutrina umbandista, Exu também é tido como um espírito trabalhador. Aquele que serve aos espíritos mais evoluídos. Ou seja, os espíritos totalmente desprendidos do plano material que se manifestam em seus médiuns para cumprirem a missão de orientarem e socorrerem espiritualmente os seres humanos, e contam com os Exus, dada a flexibilidade energética no transito entre os dois mundos, para atenderem à alguma demanda de trabalho espiritual que possa minimizar as aflições do homem.

Sob a intermediação dos espíritos de luz, nenhum pedido à Exu para o mal é permitido. Porém, em giras específicas de Exus, quando alguma entidade, tentada, se deixa seduzir visando presentes ofertados pelos humanos a fim de que esta atenda a um pedido pessoal para prejudicar alguém é possível que o trabalho seja aceito se o Exu, por ventura, ainda não tenha total comprometimento com a evolução, na sua jornada espiritual.

Neste cenário de intenções e troca de interesses, vale refletir sobre em quem estaria o verdadeiro mal, a ausência de luz e o espírito inferior.

A Terra não é um grande Terreiro em permanente gira de Exu. Por que razão há tanto mal entre nós?

Por Graça Leal  

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