Dom Nélson e o Centenário Diocesano



No último domingo, 2º Domingo do Advento, 07 de dezembro de 2025, encerramos as celebrações jubilares do Centenário da Diocese de Valença com uma Eucaristia na Catedral de Nossa Senhora da Glória, presidida por Dom Orani Tempesta, Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Gilson Andrade da Silva, Bispo de Nova Iguaçu e presidente da CNBB-Leste 1, Dom Nélson Francelino Pereira, nosso sétimo bispo diocesano, e duas dezenas de padres diocesanos com centenas de fiéis vindos das comunidades dos nove municípios.

Compartilhamos a mensagem do nosso bispo nesse esquecível evento:

1- Em meio às atuais e profundas transformações em todos os níveis, seja camposocial, cultural, religioso, um novo ethos se impõe. Valores são ressignificados, paradigmas são reconstruídos, nova compreensão do ser entra em cena, inauguram-se possibilidades inéditas de relacionar-se com o Sagrado.

2- Se uma das principais marcas do atual momento histórico parece ser a primazia do ‘eu’, com fortes cores do individualismo em detrimento do ‘nós’, não será difícil captar o porquê de uma religiosidade por demais individualizada, afã de um contato direto com Deus, sem mediação do comunitário. Práticas religiosas individualistas, a passagem do institucional para o individual, da tradição para a adesão pessoal são apenas alguns acenos da ressignificação religiosa na sociedade pós-moderna. Na mesma perspectiva, uma cultura que prima pelo econômico, como eixo norteador e articulador das relações sociais, produz inevitavelmente uma tendência religiosa consumista, nas trilhas da prosperidade que estabelece relações comerciais com o divino.

3- Outro dilema que angustia a todos nós: como formar comunidades, quando se impõe a chamada desinstitucionalização religiosa, isto é, a tendência cada vez mais acentuada da crença sem pertença, ou “Deus sim, Igreja não”?

Contudo, crise não significa caos, beco sem saída, mas possibilidade de transformação, de metamorfose e de um nascimento do novo.

4- Se evangelizar, em tempos de mudanças, apresenta-se como que em dores de parto, é também gratificante porque vem pleno de possibilidades emergentes: a centralidade do indivíduo, a força da subjetividade, características do hoje da história, nos permitem perceber que na evangelização a atenção ao indivíduo, a cada pessoa em sua particularidade é exigência evangélica no seguimento de Jesus, que sabia dirigir-se a cada pessoa em particular. A centralidade no “eu” pode abrir caminhos, portanto, para um projeto de evangelização que, em perspectiva comunitária, assuma a pessoa como paradigma evangelizador. Abrem caminhos para repensar estruturas pastorais que invistam na acolhida, na escuta, no ouvir. Em uma palavra, nos encontramos diante de reais chances de transformar o modelo de Igreja de massa em comunidades vivas, nas quais a valorização do indivíduo em chave comunitária seria questão primordial. Neste particular, a pedagogia catecumenal com seu caráter de progressividade na fé, marcada por etapas e ritos, apresenta-se com extrema atualidade, cujo investimento não pode ser opcional. Há de se evitar uma evangelização por demais racional, sem alma, e também recusar a tentação de caminhos açucarados que atingem tão somente o emocional.

5- Nesse cenário cultural, nós reunimos hoje, vindos de todos os cantos da diocese com o propósito de concluir os festejos do centenário de criação da Igreja diocesana de Valença, fazendo memória da chegada do seu 1º bispo Dom André Arcoverde em 8 de dezembro de 1925 para celebrar e reafirmar o compromisso com a missão que o Senhor, através do Papa Pio XI nos confiou ao erigir a Diocese de Valença. Ver os rostos de irmãos e irmãs que vivem a mesma fé em diferentes cidades nesse território diocesano.

6- Ao longo destes 100 anos, a Igreja diocesana foi guiada por diferentes pastores-bispos que contaram com a generosa dedicação de inúmeros sacerdotes, religiosos e religiosas, e muitos leigos e leigas que deram um testemunho fiel do Evangelho. Vivenciando este Ano Jubilar buscando experimentar a SINODALIDADE de forma mais plena na Igreja, queremos caminhar juntos como povo de Deus e fazê-lo com zelo missionário, destacando a atenção as periferias geográficas e existenciais de nossas cidades. É vital que encerremos os festejos do centenário diocesano, retornando ao espírito missionário daqueles que nos precederam, reassumindo a missão de escrever o segundo centenário, comprometido com o humanismo integral, lutando pela cultura do diálogo, da paz e da vida, no mundo em que vivemos, com o vasto continente digital constitui o nosso campo de missão onde encontramos uma necessidade de Deus.

7- Não podemos deixar de ver e de exaltar a presença dos sinais positivos de um crescente compromisso em reconhecer que a mudança, nesse contexto desafiador, é possível quando usamos nossos dons para servir aos outros. Alguns que se dedicam a fortalecer instituições sociais, como clubes ou centros comunitários, associações, entidades e iniciativas que resgatam o valor das iniciativas voluntárias dos jovens adultos; outros criam iniciativas para apoiar os idosos ou alimentar os sem-teto ou aqueles que vivem na pobreza; e outros ainda desenvolvem negócios para fortalecer a economia familiar, produzindo alimentos ou prestando serviços, por exemplo. Muitos dedicam seu tempo livre à catequese ou à liderança de projetos pastorais e missionários. Muitos evangelizam por meio da arte, do esporte, do mundo digital, da capacitação profissional, de atividades recreativas ou de oficinas ambientais.

Viver a vida como uma missão tem muitas expressões, e todas elas enriquecem a vida social e comunitária. Não podemos permanecer indiferentes à missão de Jesus, nem às necessidades de tantas pessoas. O Pontificado do Papa Francisco nos chamou atenção para o cuidado para com a casa comum, promovendo uma ecologia integral, onde coloca a vida no centro de todo agir eclesial. Que todos, possam assumir esse momento histórico com muita diligência e responsabilidade, sendo protagonista e peregrinos de esperanças nessa missão histórica da diocese de Valença.

8- Que Nossa Senhora da Glória, São Sebastião nos acompanhem nesta peregrinação, rumo à nossa pátria celeste. A nossa diocese encerra os festejos do centenário de cabeça erguida, olhando para frente, dando graças pela jornada percorrida. E abrindo os corações para o futuro…

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