Verme causador da meningite é detectado em Três Rios, Sapucaia e Levy


Mais infectado na pesquisa, o caramujo gigante africano (Achatina fulica) tem grande porte. Sua concha mede 5 a 10 cm, em média, e pode chegar a 20 cm


Uma pesquisa realizada pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) identificou a presença do verme Angiostrongylus cantonensis, causador da meningite eosinofílica, em 26 municípios do estado do Rio de Janeiro. O parasito foi detectado em moluscos terrestres, incluindo caramujo gigante africano, caracóis e lesmas.

Na região, Três Rios, Sapucaia e Comendadror Levy Gasparian foram encontrados moluscos infectados com o verme A. cantonensis.


     

As coletas foram realizadas entre 2015 e 2019. Os dados estão relatados em artigo recém-publicado na revista ‘Memórias do Instituto Oswaldo Cruz’.

De forma inédita, o trabalho investigou a presença do parasito em 46 cidades, contemplando as mesorregiões metropolitana e centro fluminense.

Ao todo, foram coletados 2.600 moluscos, dos quais 230 foram encontrados infectados por A. cantonensis, correspondendo a 9% do total.

A investigação foi realizada no âmbito de pesquisa científica desenvolvida pelo Laboratório de Malacologia do IOC, que atua como Laboratório de Referência Nacional para Esquistossomose-Malacologia junto ao Ministério da Saúde.




As lesmas Angustipes erinaceus (à esq.) e Sarasinula linguaeformis. Ambas são consideradas 'lesmas verdadeiras' porque não possuem qualquer resquício de conchae medem 7 a 8 cm, em média. Fotos: Coleção de Moluscos do IOC

Ampla disseminação


A pesquisa confirma a ampla disseminação do verme A. cantonensis no Rio de Janeiro, alertando para a possibilidade de novos casos de meningite eosinofílica.

“Os resultados indicam risco epidemiológico de transmissão de meningite eosinofílica, considerando a alta densidade de algumas espécies de moluscos e a ampla distribuição do verme causador do agravo. Conhecer a distribuição dos hospedeiros infectados é uma informação útil para a vigilância e pode contribuir para detectar, de forma mais rápida, os casos da doença nos serviços de saúde locais”, afirma chefe do Laboratório de Malacologia, Silvana Thiengo.

Em abril desse ano, um óbito por meningite eosinofílica foi registrado em Nova Iguaçu. A investigação epidemiológica realizada pelos laboratórios do IOC em parceria com a Secretaria de Saúde municipal identificou o verme em caramujos aquáticos e terrestres, assim como em ratos na localidade onde ocorreu o caso.

No estudo recém-publicado, o verme foi detectado em 21 cidades da mesorregião metropolitana: Cachoeira de Macacu, Duque de Caxias, Itaboraí, Itaguaí, Japeri, Magé, Mangaratiba, Maricá, Mendes, Mesquita, Miguel Pereira, Nilópolis, Niterói, Nova Iguaçu, Paracambi, Queimados, Rio Bonito, Rio de Janeiro, São Gonçalo, Seropédica e Tanguá.

Na mesorregião centro fluminense, o parasito foi identificado em cinco municípios: Comendador Levy Gasparian, Santa Maria Madalena, Sapucaia, Sumidouro e Três Rios.



Diversidade de hospedeiros




Os moluscos terrestres foram coletados manualmente em terrenos baldios, parques, praças e áreas periféricas com vegetação natural, em todos os 177 distritos administrativos dos 46 municípios pesquisados.

Ao todo, os pesquisadores identificaram 14 diferentes espécies de moluscos. Dentre estas, seis apresentaram infecção pelo verme da meningite eosinofílica.

A espécie Achatina fulica, popularmente chamada de caramujo gigante africano, foi a mais frequente nas coletas e com maior número de espécimes infectados. Entre 46 cidades pesquisadas, 41 apresentaram esse molusco, com animais infectados em 22 delas.

Os caracóis Bradybaena similaris (conhecido como caracol asiático), Subulina octona e Leptinaria unilamellata e as lesmas Sarasinula linguaeformis e Angustipes erinaceus também foram encontrados sendo parasitados por A. cantonensis.

Com exceção do caracol L. unilamellata, que foi identificado pela primeira vez com o verme, todas as outras espécies já tinham sido detectadas com o parasito em outros estudos no Brasil ou no exterior.

Segundo as pesquisadoras, os dados indicam que o caramujo gigante africano pode representar o maior risco para a população, considerando sua grande presença nas áreas urbanas.

Ao mesmo tempo, as especialistas destacam que várias espécies de moluscos encontradas no mesmo tipo de ambiente podem atuar como hospedeiras intermediárias do verme A. cantonensis.



Ciclo do parasito


No ciclo de vida do A. cantonensis, as formas adultas são encontradas em roedores, principalmente ratos urbanos, que são chamados de hospedeiros definitivos do parasito. Os vermes se reproduzem no organismo desses animais e geram larvas (formas jovens), que são eliminadas nas suas fezes.

Quando caramujos, caracóis ou lesmas ingerem as larvas, elas se desenvolvem dentro dos moluscos, adquirindo a forma capaz de infectar animais vertebrados.

Ao ingerir moluscos infectados ou o muco liberado por eles, que contém larvas infectantes, os ratos podem ser novamente contaminados, reiniciando o ciclo de vida do verme.

A infecção humana ocorre quando as pessoas ingerem caramujos, caracóis ou lesmas infectados ou o muco liberado pelos moluscos, contendo larvas. O ser humano é um hospedeiro acidental do parasito, que não consegue desenvolver seu ciclo de vida em nosso organismo.



Medidas de prevenção




A meningite eosinofílica é considerada uma zoonose emergente e subdiagnosticada. Diversas pesquisas sugerem que o agravo vem se espalhando pelo Brasil associado com a expansão do caramujo gigante africano.

Cerca de 40 casos da doença já foram confirmados e mais de cem casos suspeitos relatados, considerando as publicações em revistas científicas. Os registros ocorreram em oito estados: Amapá, Espírito Santo, Pará, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo.

Para prevenir a infecção, as especialistas recomendam medidas de proteção individual e ações coletivas, incluindo atuação do poder público.

“Individualmente, é preciso ter cuidado ao lidar com hortas e jardins. Sempre que for manusear caramujos, caracóis ou lesmas, deve-se proteger as mãos com luvas ou sacos plásticos. Nunca ingerir moluscos crus ou malcozidos e higienizar bem verduras são ações fundamentais”, orienta Silvana.

Deixar as verduras de molho por 30 minutos em mistura com um litro de água e uma colher de sopa de água sanitária, enxaguando em água corrente em seguida, é a forma indicada.

“Também é importante ter cuidado com as crianças, que muitas vezes brincam com os moluscos, e evitar acúmulo de lixo e entulhos nos terrenos, que aumentam a presença de caramujos, caracóis, lesmas e ratos, favorecendo o ciclo da doença”, acrescenta Suzete.

No combate ao caramujo africano, é recomendada a catação manual, sempre usando luvas ou sacos plásticos para proteger as mãos.

Para as prefeituras, as pesquisadoras reforçam a importância de realizar a vigilância malacológica, coletando moluscos e enviando para análise nos laboratórios de referência, para mapear áreas com possível risco de infecção. Também indicam a necessidade de ações de limpeza urbana, saneamento e educação em saúde.



Sintomas da doença


A meningite eosinofílica causa inflamação das meninges, membranas que envolvem o sistema nervoso central, incluindo o cérebro e a medula espinhal.

A dor de cabeça é o sintoma mais comum da doença. Também podem ocorrer rigidez da nuca, febre, distúrbios visuais, enjoo, vômito e parestesia persistente (por exemplo, sensação de formigamento ou dormência).

Na maioria dos casos, o paciente se cura espontaneamente. Porém, o acompanhamento médico é importante porque alguns indivíduos desenvolvem quadros graves, que podem levar à morte.

O tratamento busca reduzir a inflamação e aliviar a dor, além de evitar complicações. Com informações da Fiocruz



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