Encerrando o Ano Litúrgico, compartilho a reflexão de nosso irmão Pe. Alfredinho, grande pastoralista. Sua reflexão ajuda a na avaliação de nossa caminhada pastoral.
No interior mesmo da Igreja Católica, uma série de novos movimentos religiosos, iniciativas estranhas e exóticas, caminham claramente na contramão do Papa Francisco. Chegam ao cúmulo de negar sua legitimidade de sucessor na cátedra de Pedro. O fato é que, enquanto o pontífice lança a proposta de Igreja em saída, pobre e sinodal, diversos setores católicos insistem na volta à sacristia, numa postura cômoda e indiferente aos males da história. Setores que passam a professar um espiritualismo intimista e estérial, em detrimento de todo e qualquer tipo de compromisso com a "questão social", tão cara à Igreja desde a Rerum Novarum, (Leão III, 1891), documento inaugural da DSI (Doutrina Social da Igreja).
Alegam tais setores, em geral direitistas e tradicionalistas, que é preciso salvar a verdadeira Igreja, voltar às fontes e, em certos casos, inclusive, resgatar o latim como língua litúrgica oficial. Que tal levar a sério essa tentativa de retornar às fontes? Quais são as origens mais antigas da Boa Nova do Evangelho? Aí está o problema! O grande desafio, nesse retorno, é que as origens da fé cristã não se detém na igreja triunfal, triunfalista e poderosa da Idade Média e do feudalismo. Menos ainda se detém nas cruzadas, nos templários e na "Santa Inquisição". Também não se detém na famigerada aliança entre trono-altar ou cruz-espada. Tampouco se detém na Igreja proprietária de muitas terras, rodeada de ouro e prata, com grande riqueza, influência social e política. Não é a igreja principesca, suntuosa, cheia de pompa, e com vestes vistosas e brilhantes. Não é, enfim, a igreja que ajudou a legitimar reinados e tiranos, que chegou a empunhar armas e que acompanhou de perto o colonialismo, com seus saques, seus massacres e seus males tão nefastos.
Se queremos levar a sério o retorno às verdadeiras fontes do cristianismo, não podemos nos deter no meio do caminho. Não são o poder nem o domínio que caracterizam a Igreja primitiva, e sim o serviço aos pobres e desvalidos. O discurso da última ceia não deixa dúvidas quanto à sua natureza serviçal. O tipo de retrospectiva que estamos vendo nesse resgate retrógado, autoritário e conservador de voltar atrás, na verdade, não passa de um saudosismo doentio, mórbido, de quem almeja poder e influência a qualquer custo. Sem falar do liturgismo ritualista, fossilizado, necrosado e cristalizado, sem ligação alguma com "as alegrias e esperanças, as tristezas e angústias" do povo, como bem lembra a Constituicão Pastoral Gaudium et Spes, do Vaticano II.
Se efetivamente queremos resgatar a experiência genuína do cristianismo, temos de retroagir mais alguns passos na história. Temos de voltar até a Igreja pré-constantiniana. Com efeito, foi o imperador Constantino, supostamente convertido à Boa Nova do Evangelho, quem tornou o cristianismo religião oficial do Império Romano, unindo Estado e Igreja. Não basta parar por aí. Entre os historiadores do império e da Igreja, persistem muitas dúvidas e polêmicas sobre as reais motivações que levaram à conversão de Constantino.
Por isso, no processo de retorno às origens do cristianismo, temos que nos espelhar no testemunho da Igreja apostólica, com suas primeiras comunidades cristãs, das quais o Livro dos Atos dos Apóstolos traça belos retratos. Temos de nos inspirar nas grandes viagens e cartas de Paulo (esse sim verdadeiramente convertido) aos povos pagãos. Mas sobretudo temos de buscar luzes e orientações na vida, palavras, obras, prática, bem como na paixão, morte e ressurreição de Jesus de Nazaré. A Boa Nova do Nazareno, revestida de perdão, compaixão e misericórdia, deve ser, ao mesmo tempo, nossa bússola, farol e porto. Boa Nova cuja visão de Deus não se reduz à de um juiz apontando o dedo para o pecado, o diabo e o inferno, mas um Deus que é chamado intimamente de Abba (Paizinho ou Painho). Os passos de Jesus, como Ele mesmo deixou claro, devem ser "o caminho, a verdade e a vida" de todo cristão. Isso sem esquecer a teologia e espiritualidade do "Deus do caminho", do Antigo Testamento.
Deter-se na Igreja rica e triunfalista da Idade Média, vale repetir, é acomodar-se ao berço saudosista da imaturidade cristã, e dos privilégios e enesses das classes privilegiadas. O Santo Padre nos convida a um passo adiante. Passar do berço à fronteira, sujar pés e mãos, sair a campo, ir ao encontro dos pobres e excluídos, dos migrantes e refugiados, das pessoas mais vulneráveis. E é fazê-lo de forma sinodal, caminhando não isolada e personalisticamente, mas como Igreja que procura trabalhar de forma orgânica e de conjunto.
No interior mesmo da Igreja Católica, uma série de novos movimentos religiosos, iniciativas estranhas e exóticas, caminham claramente na contramão do Papa Francisco. Chegam ao cúmulo de negar sua legitimidade de sucessor na cátedra de Pedro. O fato é que, enquanto o pontífice lança a proposta de Igreja em saída, pobre e sinodal, diversos setores católicos insistem na volta à sacristia, numa postura cômoda e indiferente aos males da história. Setores que passam a professar um espiritualismo intimista e estérial, em detrimento de todo e qualquer tipo de compromisso com a "questão social", tão cara à Igreja desde a Rerum Novarum, (Leão III, 1891), documento inaugural da DSI (Doutrina Social da Igreja).
Alegam tais setores, em geral direitistas e tradicionalistas, que é preciso salvar a verdadeira Igreja, voltar às fontes e, em certos casos, inclusive, resgatar o latim como língua litúrgica oficial. Que tal levar a sério essa tentativa de retornar às fontes? Quais são as origens mais antigas da Boa Nova do Evangelho? Aí está o problema! O grande desafio, nesse retorno, é que as origens da fé cristã não se detém na igreja triunfal, triunfalista e poderosa da Idade Média e do feudalismo. Menos ainda se detém nas cruzadas, nos templários e na "Santa Inquisição". Também não se detém na famigerada aliança entre trono-altar ou cruz-espada. Tampouco se detém na Igreja proprietária de muitas terras, rodeada de ouro e prata, com grande riqueza, influência social e política. Não é a igreja principesca, suntuosa, cheia de pompa, e com vestes vistosas e brilhantes. Não é, enfim, a igreja que ajudou a legitimar reinados e tiranos, que chegou a empunhar armas e que acompanhou de perto o colonialismo, com seus saques, seus massacres e seus males tão nefastos.
Se queremos levar a sério o retorno às verdadeiras fontes do cristianismo, não podemos nos deter no meio do caminho. Não são o poder nem o domínio que caracterizam a Igreja primitiva, e sim o serviço aos pobres e desvalidos. O discurso da última ceia não deixa dúvidas quanto à sua natureza serviçal. O tipo de retrospectiva que estamos vendo nesse resgate retrógado, autoritário e conservador de voltar atrás, na verdade, não passa de um saudosismo doentio, mórbido, de quem almeja poder e influência a qualquer custo. Sem falar do liturgismo ritualista, fossilizado, necrosado e cristalizado, sem ligação alguma com "as alegrias e esperanças, as tristezas e angústias" do povo, como bem lembra a Constituicão Pastoral Gaudium et Spes, do Vaticano II.
Se efetivamente queremos resgatar a experiência genuína do cristianismo, temos de retroagir mais alguns passos na história. Temos de voltar até a Igreja pré-constantiniana. Com efeito, foi o imperador Constantino, supostamente convertido à Boa Nova do Evangelho, quem tornou o cristianismo religião oficial do Império Romano, unindo Estado e Igreja. Não basta parar por aí. Entre os historiadores do império e da Igreja, persistem muitas dúvidas e polêmicas sobre as reais motivações que levaram à conversão de Constantino.
Por isso, no processo de retorno às origens do cristianismo, temos que nos espelhar no testemunho da Igreja apostólica, com suas primeiras comunidades cristãs, das quais o Livro dos Atos dos Apóstolos traça belos retratos. Temos de nos inspirar nas grandes viagens e cartas de Paulo (esse sim verdadeiramente convertido) aos povos pagãos. Mas sobretudo temos de buscar luzes e orientações na vida, palavras, obras, prática, bem como na paixão, morte e ressurreição de Jesus de Nazaré. A Boa Nova do Nazareno, revestida de perdão, compaixão e misericórdia, deve ser, ao mesmo tempo, nossa bússola, farol e porto. Boa Nova cuja visão de Deus não se reduz à de um juiz apontando o dedo para o pecado, o diabo e o inferno, mas um Deus que é chamado intimamente de Abba (Paizinho ou Painho). Os passos de Jesus, como Ele mesmo deixou claro, devem ser "o caminho, a verdade e a vida" de todo cristão. Isso sem esquecer a teologia e espiritualidade do "Deus do caminho", do Antigo Testamento.
Deter-se na Igreja rica e triunfalista da Idade Média, vale repetir, é acomodar-se ao berço saudosista da imaturidade cristã, e dos privilégios e enesses das classes privilegiadas. O Santo Padre nos convida a um passo adiante. Passar do berço à fronteira, sujar pés e mãos, sair a campo, ir ao encontro dos pobres e excluídos, dos migrantes e refugiados, das pessoas mais vulneráveis. E é fazê-lo de forma sinodal, caminhando não isolada e personalisticamente, mas como Igreja que procura trabalhar de forma orgânica e de conjunto.
Pe. Alfredo, SP, 24/11/2024
Medoro, irmão menor-padre pecador
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