Caminhando pelo centro da cidade, uma cidadã trirriense escreveu esta crônica e nos enviou. Se identifica como “preocupada com o Patrimônio Cultural de Três Rios”. Seu depoimento merece toda nossa atenção, todo o nosso carinho.
“Essa semana, na cidade de Três Rios, tudo parecia transcorrer na normalidade do lugar. Dias cinzentos e chuvosos, típicos do clima tropical, com a chegada de mais uma frente fria que insiste em atravessar parte do território brasileiro nesse período da primavera. A única coisa que destoava na manhã de terça-feira cinzenta e provavelmente iria se prolongar ao longo de dias, ou meses, quem sabe, era um estrondoso ruído de máquina, escavadeira ou trator (também não sei precisar), que se espalhava com um eco insistente e repetido ao longo do Vale do Paraíba do Sul. Um som que doeu o coração, afinal, que sentimento estranho, não era para doer o meu coração, já que a casa não é minha, e acreditava que as memórias também não seriam. Quando me dei conta, o som era para derrubar, demolir uma das casas mais significativas da arquitetura modernista, na cidade de Três Rios. O burburinho correu por toda a cidade, onde muitos comentavam: ‘— vai mesmo derrubar a Casa do Loureiro?’, ‘— que pena!’, ‘— a cidade não tem nenhuma política de preservação do patrimônio?’ Pelo barulho e insistência da máquina, a estrutura da casa é bem forte, projetada por um dos mais importantes e influentes engenheiros da cidade, e que parecia ‘resistir’, porém sem forças para superar o apagamento e a demolição. Conhecida como a ‘Casa Loureiro’, a edificação, fortemente golpeada, segue ainda que seja por pouco tempo, inerte, em silêncio em breve deixará de existir e junto com ela estará o apagamento de um belo exemplar e testemunho arquitetônico modernista, um ente paisagístico e cultural, que se perderá também junto com a memória dos atuais moradores e das pessoas mais idosas. Na cidade, e no Brasil de forma geral, infelizmente pouco se sabe, ou se dialoga sobre os interesses da memória individual e coletiva, sobre a importância da preservação dos patrimônios históricos e culturais e da própria história. Eu não sei até quando devo insistir com essa inquietação e dor, afinal, a casa não é minha, o imóvel não é meu, e o que me pertence são apenas as minhas memórias e que muitas vezes, se confundem com as memórias dos lugares e de outras pessoas. Tomara que a memória Dr. Loureiro seja devidamente resgatada, tratada com toda reverência e delicadeza, afinal deixou muitos outros projetos e obras significativas, espelhadas pela cidade”.
Imagem: Anderson Bernardes/ Acervo da Casa de Cultura
FAZUELI
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