Setembro com o Profeta Ezequiel

A Igreja do Brasil, através da CNBB, promove anualmente no mês de setembro o Mês da Bíblia. E para cada ano propõe um Livro específico da Bíblia. Nesse ano as comunidades são convidadas a refletir sobre o Livro de Ezequiel, iluminadas pelo lema Porei em vós meu espírito e vivereis (cf. Ez 37,14). O presidente da Comissão de Animação Bíblico-Catequético, Dom Leomar Antônio Brustolin, salienta que a celebração do Mês da Bíblia, em todo o Brasil, é expressão de sinodalidade. “Cada comunidade, a seu modo, unida às outras no propósito comum de tornar a Palavra de Deus conhecida, rezada, meditada e, principalmente, anunciada pelo testemunho autêntico de tantos fiéis comprometidos e encantados pela Escritura”.

Dom Leomar afirma que, ao refletir sobre o testemunho do profeta Ezequiel, pode-se responder ao convite feito pelo Papa Francisco à preparação para o Jubileu 2025. “O convite para que sejamos peregrinos de esperança nos faz ser como Ezequiel: arautos da esperança em meio àqueles que, por ventura, possam ter se esquecido de Deus ou perdido o seu caminho”. E Dom Leomar conclui: “Espero que este Mês da Bíblia possa ser mais um marco na caminhada evangelizadora e missionária de nossas comunidades, fazendo brilhar a luz da Palavra de Deus, que convida à esperança e ensina a direção para voltar a Deus, experimentando suas maravilhas já sinalizadas por nós”.

O profeta Ezequiel exerceu sua atividade entre os anos 593 e 571 a.C. Sacerdote exilado na Babilônia com uma parte do seu povo, anuncia aí as sentenças de Deus. A comunidade, em meio à qual ele vive, acredita que em breve tudo voltará a ser como antes. Assim para ela o projeto de Deus era mero sistema que lhe dava segurança. Ezequiel, no entanto, sabe que o sistema passado está agonizando de maneira irrecuperável: Jerusalém será destruída! Segundo ele, a sociedade que ainda resiste sofre de doença crônica e sem cura: abandonando o projeto de Javé, submeteu-se diante daqueles que lhe ofereciam vida luxuosa e fascinante. Por isso, Ezequiel vê o próprio Deus deixando o Templo (11,22-24) e largando os rebeldes ao bel-prazer dos “amantes”.

Isso é causa de sofrimento para o profeta, mas não de desânimo e desespero. Para ele, o futuro é de ressurreição (Ez 36-37) e novidade radical. Com sua linguagem simbólica, Ezequiel indica os passos para a construção do mundo novo:

— Assumir a responsabilidade pelo fracasso histórico de um sistema que se corrompeu completamente, provocando a ruína de toda a nação.

— Compreender que a simples reforma de um sistema corrompido não gera nenhuma sociedade nova; apenas reanima o velho sistema que, cedo ou tarde, acabará sempre nos mesmos vícios.

— Converter-se a Javé, assumindo o seu projeto; e, a partir daí construir uma sociedade justa e fraterna, voltada para a liberdade e a vida.

Com esse “programa profético”, vislumbramos um futuro novo: Deus volta para o meio de seu povo (Ez 43,1-7), provocando o surgimento de uma sociedade radicalmente nova. Aí todos poderão participar igualmente dos bens e decisões que constroem a relação social a partir da justiça. Desse modo, todos poderão reconhecer que “a partir desse dia, o nome da cidade será: Javé está aí” (48,35). Para além da leitura-denúncia realista do quadro histórico de dor e de morte, o profeta Ezequiel traz sobretudo uma centelha de reconstrução e esperança. E é nesse horizonte que nossas comunidades devem fortalecer o engajamento social para uma sociedade mais humana, justa, fraterna e de paz. Porei em vós meu espírito e vivereis (cf. Ez 37,14)!

Medoro, irmão menor-padre pecador

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