A esperança

Da porta da sala, vejo um muro. Um muro velho. Do lado de cá desse muro tem um pé de mamão, uma jabuticabeira, uns beijos, uma roseira, umas margaridinhas já envelhecidas e umas folhagens verdes e amarelas. Desconheço o nome destas folhagens. Estão rentes ao muro. Há, ainda, um pé de dama-da-noite. E é para ela que olho. Nada tenho, no momento, a fazer – e, se tenho, me falta coragem.

O sol é fraco mas não impede que eu franza a testa. Um gato passa pelo portão e vem pela beirada do muro. Quando me vê, sentada à porta da sala, salta ligeiro lá para o outro lado. Balança a dama-da-noite empoeirada.

Uma roseira, aqui perto. Nem uma rosa, mas tem alguns botões pequeninos. Quero, para mim, como diz a canção, a primeira rosa que abrir.

No tronco da jabuticabeira, uma orquídea. Bonita. Mas minha flor preferida ainda é a rosa. Rosa amarela.

Tudo isso plantado e cuidado com as mãos abençoadas de minha mãe.

O céu está azul, azulzinho. Pela madrugada, parecia que ia chover. Mas não choveu, acho que nem vai chover. A jabuticabeira, o pé de mamão, a dama-da-noite, a roseira... As plantas gostam de chuva.

No galho da dama-da-noite algo se arrasta, parecido com folha, mas folha não é. Deixa subir um pouco mais para eu ver.

Já subiu: é uma esperança grande. Ela sobe calmamente. Vai se arrastando galho acima sem balançar as folhas por onde passa. Quando se detém, para ver que direção tomar, parece mais uma folha como qualquer outra folha – um pouco mais estreita, mas a mesma espessura, o mesmo verde, a mesma leveza. Acho que se prepara para passar do galho para o muro. Já passou. E o galho nem balançou. Pudera, a esperança pesa quase nada. Passou para o muro e virou para o outro lado.

Já não a vejo mais. Não sei se vai descendo depressa ou se arrastando lenta e calmamente. Pode ser até que se tenha despencado muro abaixo. Prefiro pensar que esteja se arrastando, devagarinho, sem tropeços, sem pressa. Acho triste uma esperança cair, despencar... Ainda mais que essa esperança é uma esperança grande. Ou uma grande esperança? Para mim, dá no mesmo, ou quase.

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