Carta aos Efésios: igreja e sociedade como família de Deus

A Igreja no Brasil celebra anualmente, em setembro, o Mês da Bíblia, que nesse ano estará estudando e refletindo a Carta aos Efésios.

A nossa Diocese de Valença já iniciou a formação dos agentes de pastoral com cursos ministrados pelo renomado biblista Ouro Fino, da equipe do ISER-Assessoria. Já tivemos no final da semana para nossa região de Três Rios e teremos de 23 a 30 desse mês o Curso de Inverno, em Valença, promovido pelo Conselho Diocesano de Leigos e Leigas, com a mesmas temática e assessoria.

A Carta aos Efésios é uma bela catequese sobre a bondade, o amor e a misericórdia de Deus, bem como sobre a centralidade de Cristo na nossa vida, enaltecendo a cidadania de todos/as, sem exceção, como Povo de Deus:

“Vocês, portanto, já não são estrangeiros nem hóspedes, mas concidadãos do povo de Deus e membros da família de Deus” (Ef 2,19). Isto é, o Povo de Deus não está restrito à linhagem cultural judaica, mas abarca todos os povos, sem exceção, irmanando todos/as como família de Deus.

Nesta carta, os seus destinatários/as imediatos e todos nós somos chamados a um “comportamento digno da nossa vocação”, da nossa missão(Ef 4,1b).

Trata-se do comportamento de quem demonstra estar profundamente ligado ao mistério de amor que nos envolve e reflete as atitudes e os gestos de Jesus, que viveu se doando por todos/as, sem discriminar ninguém e, pelo agir, que testemunha a imagem de um Deus rico em amor e misericórdia.

E segundo este mesmo escrito neo-testamentário, quem vive falando o nome de Deus, invocando a misericórdia de Deus, mas ao mesmo tempo incita à luta para destruir o regime democrático e instalar ditadura; usa arma e defende o armamentismo, considerando o outro um inimigo em potencial; é racista, misógino, homofóbico; discrimina pessoas de religião de matriz africana ou indígena; incita ao ódio e à intolerância – esse tipo de pessoa não está se comportando de forma digna.

Isso implica que todos “Sejam humildes, amáveis, pacientes e suportem-se uns aos outros no amor. Mantenham entre vocês laços de paz, …” (Ef 4,2-3a). Ser humilde, sim; jamais, humilhado. Amável, sim; jamais, “saco de pancada” ou bobo; paciente, sim, diante do que é impossível mudar, como, por exemplo, uma doença que carcome a pessoa e a deixa em estado terminal.

Nesta situação só nos resta aceitar e ter paciência. Entretanto, não podemos usar a exortação da Carta aos Efésios para praticar ou encorajar outros à resignação diante de injustiças e opressões.

A exortação “suportem-se uns aos outros no amor” significa: respeitem-se uns aos outros no amor, reconhecendo o que há de melhor no outro e reconhecendo, também, nossos limites e contradições. Isso para viabilizar uma convivência social justa, respeitosa e sadia.

Que a busca da paz seja a meta na nossa convivência familiar, eclesial, social e ecológica. Entretanto, paz como fruto da justiça e jamais pacificação, que é, muitas vezes, “esparadrapo” em cima de ferida. A busca pela verdadeira paz envolve luta por justiça, o que não é vingança e nem anistia a criminosos.

Na mesma linha, o autor da “Carta” enfatiza: “Sejam bons e compreensivos uns com os outros, perdoando-se mutuamente, assim como Deus perdoou a vocês em Cristo” (Ef 4,32), pois todos/as, sem exceção, são família de Deus. Daí, vale a pena a pergunta: Que tipo de comportamento é digno de uma pessoa cristã? 

“Peço que vocês se comportem de modo digno da vocação que receberam” (Ef 4,1b). Está aqui, uma vez mais, a atitude que distingue os seguidores de Jesus! E, num contexto cultural, como o nosso, marcado pelo individualismo, auto centrismo, arrogância, orgulho, ..., precisamos cuidar para que nossa convivência humana e cristã seja a fraternura, excluindo as vaidades e brigas pelo poder; e, em sentido mais amplo, busque sempre a superação das desigualdades sociais.

Medoro, irmão menor-padre pecador

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