Semana de Páscoa: prolongar o bem da caridade!

A Igreja, fiel à sua tradição, celebra durante oitos dias a “Oitava da Páscoa”, os seja, oito dias como se fosse um único dia.

Esse simbolismo enraizado na teologia bíblica que afirma que Deus criou o mundo em seis dias e no sétimo descansou, quer agora nos dizer que, no oitavo dia, Jesus Ressuscitado re-cria o mundo, até então escravo do pecado.

Acontece a nova criação que vai eternizar-se no céu. É a alegria de sermos amados por Deus em Jesus, para além da morte! Gesto que nos convoca e congrega como Igreja, comunidade do amor.

Num tempo em que a estrutura sócio-política-econômica do planeta gera tanta pobreza, miséria e violência, devemos por caridade prestar o socorro dos mais pobres; nesse ano concretamente dos que passam fome E nada mais iluminadora que a reflexão extraída dos Sermões de São Leão Magno, papa do Século V.

Uma meditação quaresmal que se aplica ao nosso tempo pascal com a Campanha da Fraternidade contra a fome. Este sermão merece, mais do que uma leitura atenta, uma reflexão, quiçá orante, de todos nós: O bem da caridade!

Diz o Senhor no Evangelho de João: Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros (Jo 13,35).

E também se lê numa Carta do mesmo Apóstolo: Caríssimos, amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus e todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece Deus. Quem não ama, não chegou a conhecer Deus, pois Deus é amor (1Jo 4,7-8).

Examine-se a si mesmo cada um dos fiéis, e procure discernir com sinceridade os mais íntimos sentimentos de seu coração.

Se encontrar na sua consciência algo que seja fruto da caridade, não duvide que Deus está com ele; mas se esforce por tornar-se cada vez mais digno de tão grande hóspede, perseverando com maior generosidade na prática das obras de misericórdia. Se Deus é amor, a caridade não deve ter fim, porque a grandeza de Deus não tem limites.

Para praticar o bem da caridade, amados filhos, todo tempo é próprio. Contudo, estes dias da Quaresma (e Páscoa), a isso nos exortam de modo especial.

Se desejamos celebrar a Páscoa do Senhor com o espírito e o corpo santificados, esforcemo-nos o mais possível por adquirir essa virtude que contém em si todas as outras e cobre a multidão dos pecados.

Ao aproximar-se a celebração deste mistério que ultrapassa todos os outros, o mistério do sangue de Jesus Cristo que apagou as nossas iniquidades, preparemo-nos em primeiro lugar mediante o sacrifício espiritual da misericórdia; o que a bondade divina nos concedeu, demo-lo também nós àqueles que nos ofenderam.

Seja, neste tempo, mais larga a nossa generosidade para com os pobres e todos os que sofrem, a fim de que os nossos jejuns possam saciar a fome dos indigentes e se multipliquem as vozes que dão graças a Deus.

Nenhuma devoção dos fiéis agrada tanto a Deus como a dedicação para com os seus pobres, pois nesta solicitude misericordiosa ele reconhece a imagem de sua própria bondade.

Não temamos que essas despesas diminuam nossos recursos, porque a benevolência é uma grande riqueza e não podem faltar meios para a generosidade onde Cristo alimenta e é alimentado. Em tudo isso, intervém aquela mão divina que ao partir o pão o faz crescer, e ao reparti-lo multiplica-o.

Quem dá esmola, faça-o com alegria e confiança, porque tanto maior será o lucro quanto menos guardar para si, conforme diz o santo Apóstolo Paulo: Aquele que dá a semente ao semeador e lhe dará pão como alimento, ele mesmo multiplicará vossas sementes e aumentará os frutos da vossa justiça (2Cor 9,10), em Cristo Jesus, nosso Senhor, que vive e reina com o Pai e o Espírito Santo pelos séculos dos séculos. Amém (São Leão Magno, O bem da caridade, Sermo 10 de Quadragésima, 3-5: PL 54,299-301, Séc. V).

Medoro, irmão menor-padre pecador

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