Vida de escritor

Optei pelo jornalismo, embora tenha estudado Direito, por algumas razões. Primeiro, as namoradas. As que perdia ao vivo, recuperava nas cartas e bilhetes. Foi o primeiro sinal que os Correios, e não as boates, seriam decisivos na trajetória afetiva.

Segundo, tirar boas notas em redação nos dava média para seguir estudando perante as notas baixas que alcançava nas ciências exatas.

Por último, não aguentava mais nos hotéis e pousadas preencher o espaço designado à profissão como... ex-atleta profissional. Se me tornei em ex, não tinha profissão alguma.

Uma vez formado, fui escrevendo minhas crônicas, publicando livros e descobrindo que poucos ofícios eram exercidos com tão poucas ferramentas.

Basta uma folha em branco, paz, uma caneta e uma extrema cumplicidade em conjugar o verbo questionar.

De posse desse pequeno arsenal, você passa a dividir alegrias e frustrações, expor suas dores, revelar seus amores. Um livro vai se abrindo pelas emoções descritas a céu aberto que preenchemos a cada dia.

O escritor abastece seu tanque lendo todos os dias os jornais impressos. Do começo ao fim. Informações de todos os lados, política, economia, são importantes, vale a pena ler até o obituário, horóscopo e as tiras em Quadrinhos.

Você não terá apenas um psicólogo ou psiquiatra a analisar. Serão muitos a postar receitas no Facebook que vão desde a vitamina C, que te fortalece, até um Frontal para você relaxar e não mais escrever.

Uma dica importante para os que querem seguir em frente: não leiam os comentários. Os elogios podem nos engambelar, ficar nos achando, e as críticas lhe jogar no chão.

Se elas forem pesadas, vão atingir os nossos próximos. Eles vão nos contar e responderemos pelo sentimento alheio.

Se o coração não foi atingido por um tiro livre direto, a resposta será mais educada e quem bateu vai bater mais suave da próxima vez.

"Que cara educado!", vão pensar.

Sendo assim, fica o testemunho de uma velha raposa para os que procuram um ofício nada enfadonho, imprevisível, fora da caixinha e que faz de cada texto um desafio.

Escrever te faz esquecer o carro na garagem e sair ouvindo sua gente pelas ruas. Escancarar os ouvidos em busca de traduzir seus anseios, pescar seus rumores.

Ouvir uma boa música, ter uma taça de vinho ao lado, se revestir da sensibilidade que provocam está no manual que nos ensina a captar os ruídos que ocorrem no degrau acima por onda vaga a inspiração.

E amar sempre. Sem amor não há de existir qualquer escritor.  

* Crônica do livro "Confesso que escrevi", que estará exposto na mostra "Escritores da Região e suas obras" , nesta terça-feira, 7 de Março, às 19h, no Shopping Olga Sola. Esperamos vocês. 

Por José Roberto Padilha

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