Ferrovia e Memória

Espaços de memória podem ser compreendidos, segundo o historiador Pierre Nora, como lugares de memória, tentativas de institucionalização de uma memória compartimentada e fragmentada, que se mostra em restos, fragmentos, interpretações


Previsto para ser inaugurado em breve, o Espaço de Memória Ferroviária em Três Rios, na Casa de Pedra, local onde o próprio equipamento cultural é um espaço da história ferroviária.

O Estação deverá ter o seu processo de institucionalização feito pela Prefeitura, conforme previsto e orientado pelos órgãos competentes.

A Estação de Pedra, ou Casa de Pedra foi construída pela Leopoldina Railway em 1900, é tombada como patrimônio cultural do município desde 1997, e valorada como patrimônio cultural, nos termos da Lei 1 1.483/2007 e Portaria do IPHAN/MinC no. 407 de 2010.

Trata-se de um prédio com edificação considerada um marco no processo de construção das estações dessa época e representa também um marco no processo de formação econômica e social do município de Três Rios e região e no desenvolvimento das linhas férreas regional e nacional.

Inicialmente, o bem patrimonial foi cedido pelo espólio da Rede Ferroviária Federal para o município sediar um centro cultural. Em 2018 o IPHAN classificou o prédio com a valoração de patrimônio arquitetônico do Brasil.

Sua arquitetura e a ligação afetiva com a memória dos trabalhadores ferroviários e com a sociedade impulsionaram a vocação cultural de uso do prédio.

O planejamento da gestão pública deve orientar a criação de um equipamento público sem pensar apenas em saudosismo do passado pelo passado, mas na provocação de uma relação multifacetada, dinâmica, de intermediação social entre o poder público e a sociedade civil.‘


Devemos ficar atentos a nova definição de Museu aprovada pelo órgão internacional de museus ICOM, em agosto de 2022:

“Um museu é uma instituição permanente, sem fins lucrativos, ao serviço da sociedade, que pesquisa, coleciona, conserva, interpreta e expõe o patrimônio material e imaterial. Os museus, abertos ao público, acessíveis e inclusivos, fomentam a diversidade e a sustentabilidade. Os museus funcionam e comunicam ética, profissionalmente e, com a participação das comunidades, proporcionam experiências diversas para educação, fruição, reflexão e partilha de conhecimento”. 

Um museu ou espaço de memória não é melhor do que outro. Uma arquitetura, uma coleção e um museu não devem ser hierarquicamente constituídos em detrimento do outro. A abertura de um museu requer planejamento administrativo, político, pedagógico e social.

Uma instituição museal sempre possuirá múltiplas narrativas para possibilitar a sua efetiva funcionalidade em educação, pesquisa, comunicação e conservação museológica.

Sendo assim antes da abertura das portas de uma instituição é necessário um projeto museológico para definir para quem de fato este museu está sendo aberto.

Por Vera Alves 
Membro da Comissão Consultiva do Sistema Estadual de Museus - SIM RJ

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