Bloco das Piranhas - Parte 4

Todos os anos procuramos uma personagem em evidência para imitar no Bloco das Piranhas Tem ano que a fantasia encaixa.

A mulher caracterizada fica parecida, em outros você derrapa. Certa vez imitei a Dilma. Quando sai de casa, devo ter errado a cor da peruca, gritaram "Olha a Waldeth, do INSS!". Era deputada a minha amiga, não presidente. Acontece.Os troféus a serem buscados por mim são de originalidade feminina.

Alguns meses antes começo a prestar atenção nas novelas, no BBB, nos filmes e séries para buscar inspiração. Nesse ano (foto) vi um capítulo de A dona do Pedaço. E a Juliana Paes vendia bolos.

Tudo deu certo. Consegui um carrinho de vender açaí e o ‘Tião faz tudo’ fez as alterações. A peruca certa foi encontrada, quem fizesse o pôster da novela, comprei 20 bolos e saí distribuindo no meio do bloco. Mal cheguei ao local e a Marli, da Secretaria de Cultura, me disse para ficar por perto que o troféu seria meu. Realmente naquele ano não tinha pra ninguém (foto).

Só que deu 21h00, estava morto e nada de premiação. E falei pro Guilherme, meu filho : vou aguardar no Sabor & Definido, quando começar me ligue. Deu meia noite e nada. Fui embora pra casa sem o troféu.

Como era ano eleitoral e sendo oposição, a organização, para não me ceder o microfone, quando perceberam meu nome entre os premiados, suspendeu a solenidade. Temiam que, ao agradecer, inauguraria o horário eleitoral gratuito.

Embora, reza a lenda, oferecer um microfone a um petista seja temeroso, ainda mais diante de 5 mil pessoas, confesso que nem tinha pensado nisso. E todos foram pra casa sem levar o troféu.

Passado uns meses, estava com meus livros em uma feira literária, na Praça São Sebastião, e o chefe do executivo veio ao meu encontro. Foi me apresentar uma autoridade que nos visitava. "Esse aqui jogou futebol e no Carnaval ganhou o prêmio de piranha mais original!".

Dia seguinte, subi aquelas escadas da Secretaria de Cultura e disse que o prefeito confessara, na noite anterior, que o prêmio era meu. A reação de todos foi de alívio. Tão incomodados, nem checaram minhas informações.

"Ufa! Finalmente!", disseram seus assessores. Os troféus estavam todos em cima de um armário.

Daí, me entregaram, tiramos fotos, e o levei para minha coleção. Os demais premiados, categoria melhor fantasia, luxo, melhor folia, não foram entregues até hoje como símbolo da mediocridade de quem tomou àquela decisão.

Uma pena. Quando pensam pequeno, colocam a política à frente de toda a magia que envolve um carnaval, toda a folia sai perdendo. E só uma piranha leva seu troféu para casa.

Sozinha, em silêncio, sem graça, algo parecido quando um artilheiro precisa aguardar o Var para comemorar um feito em que a tecnologia roubou toda a emoção.

Por José Roberto Padilha 

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