1ª Parte
Numa dessas janelas, de um terceiro andar, um rapaz troca a água da vasilha de uma gaiola e sopra o alpiste. Parece feliz nesse seu cuidado. Cá de baixo e reparando no sol forte que começa a bater na janela, falo pra ele:
- Solta esse passarinho!
Ao que ele responde, sem aparentar a menor sombra de dúvida:
- Se eu soltar ele morre.
De nada valeria eu ficar ali argumentando. Melhor eu cuidar das minhas obrigações. No pensamento me perguntava: será pra que passarinho tem asa?
De volta do mercado passo pela rua do cinema. Mais uma tristeza: ali ao lado, na casa que vende de tudo – arreio, enxada, veneno, corda, ração, chicote e não sei o que mais – pasmem os senhores, vende também passarinho! Em gaiolas maiores, de arame reforçado, vários casais de canário belga e de periquitos os mais lindos. Como pode alguém, em sã consciência, se julgar dono de passarinhos, estipular preços e vender essas criaturinhas... do mesmo jeito que se vende arreio, enxada, veneno, corda, ração, chicote... Como pode isto? E antes de serem negociados são exibidos, expostos à curiosidade como objetos de consumo, à porta de uma loja de mil quinquilharias.
Com um senhor conhecido que ali está, admirando os belos e variados tons de azul dos periquitos, comento pesarosa:
- Dá vontade de abrir essas portinhas e soltar tudo...
Indiferente, ele apenas responde:
- Esses passarinhos não conseguem viver fora da gaiola.
Pego o rumo de casa. Dentro do peito o coração ameaça ficar mais triste ainda, pois não vai entender nunca tamanho absurdo.
( Continua na próxima semana)
- Solta esse passarinho!
Ao que ele responde, sem aparentar a menor sombra de dúvida:
- Se eu soltar ele morre.
De nada valeria eu ficar ali argumentando. Melhor eu cuidar das minhas obrigações. No pensamento me perguntava: será pra que passarinho tem asa?
De volta do mercado passo pela rua do cinema. Mais uma tristeza: ali ao lado, na casa que vende de tudo – arreio, enxada, veneno, corda, ração, chicote e não sei o que mais – pasmem os senhores, vende também passarinho! Em gaiolas maiores, de arame reforçado, vários casais de canário belga e de periquitos os mais lindos. Como pode alguém, em sã consciência, se julgar dono de passarinhos, estipular preços e vender essas criaturinhas... do mesmo jeito que se vende arreio, enxada, veneno, corda, ração, chicote... Como pode isto? E antes de serem negociados são exibidos, expostos à curiosidade como objetos de consumo, à porta de uma loja de mil quinquilharias.
Com um senhor conhecido que ali está, admirando os belos e variados tons de azul dos periquitos, comento pesarosa:
- Dá vontade de abrir essas portinhas e soltar tudo...
Indiferente, ele apenas responde:
- Esses passarinhos não conseguem viver fora da gaiola.
Pego o rumo de casa. Dentro do peito o coração ameaça ficar mais triste ainda, pois não vai entender nunca tamanho absurdo.
( Continua na próxima semana)
Por Izabel Daud
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