Advento por um Natal em família

Iniciamos esta última semana do Advento ouvindo no Evangelho Mt 1,18-24 a descrição do amor de José por Maria que, ao acolhe-la e a Jesus que trazia em seu ventre, funda uma nova família alicerçada na fé e no afeto.

E hoje, na liturgia da quarta-feira da quarta e última semana de preparação ao Natal, no Evangelho Lc 1, 39-45, vemos Maria, já grávida, indo prestar auxílio à sua prima Isabel e seu esposo Zacarias, ambos idosos, por ocasião do parto de João Batista; ficando ali por três meses (Lc 1,46-56). Fé e afeto se entrelaçam!

E no Natal, na estrebaria de Belém não foi diferente: nasce Jesus cercado pelo afeto de Maria e José, dos pastores, magos e anjos (Lc 2,1-20; Mt 2,1-12).

Há, pois, uma íntima relação entre o Natal do Salvador em família e as famílias de todos os tempos, inclusive às famílias incompletas e empobrecidas.

Não devemos nos deixar cair na tentação de centrar o nosso olhar na pessoa do menino Jesus esquecendo o seu contexto familiar; pobre e ao mesmo tempo amoroso. Deus para salvar a humanidade começa a partir da família.

E por isso, nesses dias do advento e do Natal temos a maravilhosa oportunidade para relançar os nossos ideais familiares e, em simultâneo, restaurar tudo aquilo que está enfraquecido, frio, fragmentado e distorcido e, simultaneamente, solidarizarmo-nos com as famílias empobrecidas. Deus não desiste da família!

O Natal em família deve ser caracterizado pela busca da restauração da harmonia entre todos. Deve ser uma experiência de restauração e perdão de todas as dívidas afetivas dentro a família.

Em muitas ocasiões, ao longo do ano, de acordo com a maturidade, as pessoas, as relações familiares passam por fortes crises consequentes dos desentendimentos, da falta de paciência, da intolerância, da falta de sensibilidade para com o outro e da dificuldade de perdão.

Não poucas vezes, o amargo clima familiar é consequência de problemas não resolvidos e, dessa forma, muitas vezes entre irmãos, se carrega fortes sentimentos de mágoas, ressentimentos, desejos de vingança, frieza no trato.

A celebração do natal é uma oportunidade ímpar para que tudo seja resolvido e restaurado o clima de harmonia e paz onde todos possam se dar o perdão, o abraço fraterno, um presente e renovar a beleza da fraternidade que traz alegria, paz e sossego para a alma.

Assim, precisamos estar atentos ao fato de celebrar o Natal, que para muitos é sinônimo de alegria, para outros não seja verdadeiro martírio. Nesses dias aumenta a sensibilidade, mas também evidencia as relações complicadas.

Temos que ter presente que, se por um lado existe muita expectativa de alegria e harmonia durante o Natal, por outro a proximidade com os familiares pode gerar muitos conflitos emocionalmente desgastantes, além do drama da exclusão social. Isso precisa ser enfrentado.

Precisamos estar conscientes que esse período que antecede a festa pode ser muito estressante, seja na escolha dos presentes, preparação do cardápio ou decoração da casa.

Mas, também, a simples decisões como ''onde iremos passar o Natal'' podem se transformar em uma verdadeira ''lavagem de roupa suja''.

Isso porque a família é um complexo sistema de múltiplas diferenças, personalidades, necessidades e percepções, que podem gerar conflitos, formando-se alianças ou lutas por atenção e poder.

Para tentar minimizar conflitos pessoais e familiares a psicóloga Maitê Hammound oferece algumas dicas:

- Tente escutar críticas, sugestões e comentários de maneira empática, em vez de entrar na espiral de discussão e contra-argumentação;

- Tente refletir antes de responder de maneira impulsiva. Se necessário, respire fundo ou ''saia de cena'' por alguns minutos;

- Evite conflitos esclarecendo-os e favorecendo sua resolução: a comunicação é a base para sintonia e compreensão de qualquer relação; e

- Expresse seus pensamentos e emoções. O acúmulo dos mesmos pode desencadear tensão e motivar mágoas, angústias e estresse, o que dificulta o diálogo sobre o que está acontecendo.

Essas dicas podem ser muito difíceis de seguir, principalmente numa época do ano como a que passamos, na que a mobilização de tantas emoções e a exigência que temos conosco para estar à altura das expectativas de pessoas tão importantes como nossos familiares, são tão evidentes.

Ficamos vulneráveis com a ideia da rejeição ou reprovação, seja por questões de nossa aparência, desempenho na vida profissional, situação de nossa vida afetiva e até decisões que tomamos ao longo do ano.

Aqui, a importância do processo do autoconhecimento e fortalecimento emocional para o bem-estar com seu verdadeiro eu, contribuindo na construção de sua autoestima, favorecendo não só na tolerância com as diferenças e regulação das emoções, como também possibilitando a aceitação das suas limitações emocionais.

Daí valorizaras terapias familiares e as iniciativas de evangelização da família (Pastoral Familiar, ECC-Encontro de Casais com Cristo, MFC-Movimento Familiar Cristão, ...).

E, no exercício da caridade para com as famílias descartadas em sua miséria, buscar aprender valores que podem nos edificar.

Sublinho enfim a importância de se cultivar, individualmente e em família, a espiritualidade do Advento, através da intimidade bíblico-orante, das Missas do Advento, Novenas de Natal, Celebrações Penitenciais, Confissão sacramental, Retiros, ...

As Missas Natalinas são momentos ímpares para experimentarmos efetiva e afetivamente o Menino Salvador que vem a nós e às nossas famílias, pois a família foi o ambiente e o lugar onde Jesus Cristo nasceu, foi cuidado, educado e cresceu.

Não obstante o ambiente de absoluta pobreza, carência de condições dignas, total ausência de conforto de infraestrutura técnica, a Família de Belém tinha em abundância: o afeto, o cuidado, o carinho, a atenção pela vida, a harmonia, a fé, a alegria.

Abençoado Natal a todas as famílias!

Medoro, irmão menor-padre pecador

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