A Menina Que Buscava Deus

Mãos unidas em prece, concentração total na oração que lhe fora ensinada: mesmo sem ter muitas certezas, esforçava-se para sentir uma sensação boa que por vezes a inundava e que vinha de dentro de si. Sentia-se quase feliz.

De fato, parecia que assim poderia elevar-se como tanto queria, mas a menina se perguntava com frequência: “Como posso chegar a Deus? Estou no caminho certo?”

Quase dez anos depois, no final da adolescência, sentia-se aflita com as dúvidas sobre si, agoniada em saber como se conduzir. Pensava: “Como seria bom se pudesse buscar a Deus!”

Em seguida, desistia. Perdidas as esperanças da infância, a equação não se fechava. Não havia respostas lógicas. Repetir palavras não bastava mais. Também não queria a hipocrisia de promessas e rituais nos quais não mais acreditava. Sentia-se triste.

Mais alguns anos e a encontramos já uma jovem. Inquieta e ativa, permanecia angustiada e muito cética.

O único rumo digno que ainda vislumbrava para a vida era a possibilidade de ser útil à transformação de uma sociedade com problemas, que se avolumavam a cada dia e pareciam clamar por ações!

As questões íntimas ainda a incomodavam e entristeciam, mas haveria de encontrar uma forma de tratá-las algum dia. Tantas correntes falavam disso, pena não consentir com nenhuma.

Volta e meia as perguntas retornavam e até parecia absurdo que fosse uma desconhecida para si mesma – perguntava-se: “Por que encontro um escuro abismo interno quando tento saber quem sou e o que realmente sinto ou quero? Por que tantas contradições nos pontos mais críticos da existência?”

Esforçava-se para encaminhar decisões importantes da vida, relacionamentos, profissão. Mas, entre angústias e ansiedade, algo restava latente. Era quase como um ponto invisível no globo mental, mas que por vezes lutava por emancipar-se da sufocante atmosfera interna.

Neste quadro oscilante, algo lhe despertava interesse, mesmo com muitas ressalvas. O que seria esta ciência a que sua amiga se dedicava tanto? Mais uma das correntes fantasiosas que alienam da realidade? Ou haveria algo diferente ali?

— Como assim? Seria possível se conhecer sem fenomenismos ou rituais? Poderia estudar a mente e a sensibilidade e saber por que se desentendiam tanto? Poderia encaminhar a vida com método para ser íntegra e aprender a colocar os problemas dentro da vida, e não a vida dentro dos problemas?

Iniciado os estudos de Logosofia foi descobrindo, a cada novo conceito que buscava aplicar à vida, que a dinâmica interna ia ganhando intensidade e clareza.

Experimentava a realidade dos pensamentos conhecendo a possibilidade de articulação dos sistemas mental e sensível e teve a sensação de que a luz, pela primeira vez, começava a alcançar a escuridão interna, assim descobriu que era factível transformar e superar a si mesma.

Prosseguir numa ciência que falava de Deus e leis universais, será que estaria enganando-se novamente?

A despeito das dúvidas, os estudos e as descobertas internas não cessavam e foram sendo vividos à luz da consciência. Surpreendia-se ao experimentar um entusiasmo pela vida até então desconhecido.

Vibrava internamente e reacenderam-se suas esperanças: a existência foi ganhando novo brilho, convidando ao conhecimento e à experimentação.

O percurso a ser seguido, porém, devia ser outro desta vez: caminhar para dentro e não para fora, com realizações conscientes e não repetições mecânicas.

Mergulhando pouco a pouco no próprio interior, foi compreendendo, com lucidez inédita, que a esperança de buscar a Deus não era infundada e respondia a demandas do próprio espírito.

O percurso a ser seguido, porém, devia ser outro desta vez: caminhar para dentro e não para fora, com realizações conscientes e não repetições mecânicas.

À luz do conhecimento transcendente, foram reunidos os anseios manifestos desde a infância, e enfim a jornada da menina que buscava a Deus recomeçou!

Brilhava em seu interno agora uma grata descoberta propiciada pela Logosofia. Compreendeu que, buscando a si mesma, iria encontrando o Criador durante o caminho, e que nesse processo era real a possibilidade de se converter, ao identificar-se com Ele, em criadora de si mesma e em colaboradora direta da Criação.

Um pensamento de Maria Cláudia de Souza
Estudiosa de Logosofia e docente da Fundação Logosófica Em Prol da Superação Humana

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