A Inglaterra aprendeu os segredos da sua invenção

Deve ser duro para um país, como a Inglaterra, que inventou um esporte, no caso o futebol, saber que um outro aprendeu a jogar mais do eles.

O culpado foi um inglês, Charles Miller, que levou uma bola para o Brasil. Em princípio, implantado em clubes elitizados, como o Fluminense FC, não despertou grande paixão. Jogavam bem, mas não jogavam diferente.

Mas a partir do dia em que permitiram que os funcionários da fábrica de tecidos Bangu, no Rio de Janeiro, jogassem também, tudo mudou. O mundo branco, europeizado, percebeu que os negros, mulatos e mestiços jogavam melhor e mais bonito.

O Vasco foi o primeiro a notar isso, e permitiu que jogadores negros o defendesse. E quando o Rei Gustavo, da Suécia, testemunha ocular da história, percebeu tamanha graça e beleza durante o mundial que seu país sediou, em 1958, precisou descer da sua Tribuna de Honra para coroar um novo Rei.

O Rei Pelé .

E a partir do seu reinado mestiço, com cinco Copas vencidas e dono da hegemonia mundial, que revelou Garrincha, Didi, Romário, Ronaldos e Rivaldos, todos os países recorreram às sua colônias para buscar os diferentes.

Portugal buscou Eusébio, a França foi na Argélia trazer o Zidane, a Bélgica, Lukato e até os ingleses precisavam dar um toque com pigmentos escurecidos aos seus Bobby Charlton, Beckham.

Hoje, com Sterlin, Jude, Saka, Ashford, Trent, a Inglaterra formou uma seleção talentosa, criativa, diferente daquela que fez escola alçando bolas sobre seus grandalhões na grande área.

Soma-se ao talento a magnitude do seu campeonato, talvez o mais importante de todos, que abriga grandes craques e os melhores treinadores do mundo. Como Guardiola, Mourinho e Jürgen Klopp.

Sábado, contra a França, vocês vão conferir comigo como evoluiu a seleção inglesa. Não com dancinhas, comendo picanhas douradas. mas praticando, com seriedade, um futebol de verdade.

Que inventaram e, finalmente, aprenderam a jogar em alto nível.

Por José Roberto Padilha