Salvem os divergentes!

Já assisti muitas partidas de futebol, e uma delas foi bem marcante: Botafogo X Juventude, decisão da Copa do Brasil em 1999, domingo à tarde, no Maracanã. Fui levar o Guilherme, então com 12 anos, a nossa estrela solitária.

Acostumado às provocações iniciais logo no engarrafamento da Praça da Bandeira, senti que tinha algo errado no ar. As pessoas estavam acenando uma para as outras, se confraternizando, não se provocando.

Era jogo de uma torcida só. E essa disputa fora de campo, tão fundamental porque se lá embaixo são 11 contra 11, nas arquibancadas são hinos contra vaias, jogadas de efeitos e caneladas contra uma multidão nada silenciada.

Tem todo o clima que você só sente quando a torcida adversária não está presente. Uma experiência tão adversa que a partida nem gols teve. Com o empate, o Juventude ganhou a Copa do Brasil.

O mesmo podemos dizer sobre uma disputa eleitoral. Sábado, ocupamos o calçadão para um adesivaço pró Lula.

Os adversários, ao avistar nossas bandeiras, recuavam. Muitos até subiram a pé o viaduto para não se avermelhar.

Até que Sérgio Cavalcanti e Lucianinho atravessaram o campo para defender o escudo 22.

E foram muito bem recebidos. A temperatura subiu, a partida teve quebrada sua monotonia.

Domingo tem outra decisão. Não vai dar empate. Mas nenhum resultado será mais importante que saber que do outro lado tem gente.

Pessoas amigas da gente, que pensam e votam diferente, mas que ao serem divergentes fazem o contraponto, realçam diferenças e tornam nossos objetivos bem mais imprevisíveis.

E nossas relações sociais leais, transparentes e atraentes.

Por José Roberto Padilha 
Imagem: Reprodução do Colunista

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