Crianças nunca mais

Basta ter criado quatro filhos, herdar quatro netos, para perceber o quanto roubaram o direito de ser criança das...crianças.

Dos meus avós para minha geração era tudo bumba-meu-boi. E como era divertido descer uma ladeira com carrinho de rolimã a lá bumba-meu-boi. Sem precisar, como hoje, usar capacete e colocar cinto de segurança.

A insegurança, a incerteza sob cada descoberta, era sinônimo de ser criança. Como crescer experientes sem provar o cálice da inexperiência servido apenas na infância?

E ela nos levava a soltar balões, vê-los subir pela madrugada sem a preocupação adulta de onde cairiam. Isso era problema para quando a vida perdesse a magia e nos tornassem responsáveis, sem graça e previsíveis. Como os adultos.

Os circos, onde cabiam todas as fantasias, traziam para a gente o leão, os macacos e os cavalinhos. A Constituição de 88, que substituiu a inconstitucional carta Bumba-meu-boi, promulgou o direito dos animais, transformou em bulling cada graça dos palhaços e nem as pipas subiram mais em paz para promover a guerra entre os meninos do bairro.

Até no Dia de São Cosme e Damião a babá tem que ir junto para conferir se as crianças escovaram os dentes. E sem cáries, não há como ter tido um só irresponsável dia recheado de balas, chicletes e pirulitos.

Sem cáries, hematomas, medo do leão, sonhos que subiam com os balões , pipas perdidas num embate por um cerol, fica difícil convencer nossos "precoces adultos" que dia 12 de Outubro foi, um certo dia, o Dia das Crianças.

Sob o pretexto de salvar o planeta, acabaram roubando o seu mundo.

Por José Roberto Padilha 
Imagem: Reprodução

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