Entre dois bilhetinhos, definitivas lições

No início dos anos 90, tive o privilégio de trabalhar no que mais aprecio: pela manhã, em Xerém, como treinador das divisões de base do Fluminense. À tarde, como gestor de esporte da Prefeitura de Três Rios.

Almoçava futebol, jantava Política. E pude alcançar as preciosas lições que o futebol brasileiro poderia conceder à nossa política.

Acompanhem comigo: ninguém aprende a jogar futebol. Ou nasce sabendo, ou vai fazer igual ao meu amigo, Dr Jones, que construiu em sua casa um campo soçaite para ninguém questionar sua escalação.

Podem abrir uma franquia de Yale, uma Escolinha do Barcelona, em um resort em Teresópolis, mais do que isto, inscrever filhos de craques confiando na genética, que não aprenderão a jogar.

Se fosse assim, o Príncipe do Catar dava de presente metade do seu petróleo ao Parreira se ele transformasse seu filho perna-de-pau em um craque. Já pensou, usando a 10 de sua seleção durante a Copa do Mundo disputada dentro de sua casa?

As escolinhas de futebol acolhem a todos. Quem tem talento, aprimora fundamentos. Quem não tem corre pra lá e pra cá, pratica uma saudável atividade esportiva até que o pai se irrita com sua ruindade e o leva para estudar.

Já nas prefeituras, nos governos em geral, os titulares nos cargos de confiança, que entram na repartição com a camisa 10 do DAS, são os portadores dos bilhetinhos premiados geralmente endossados pelo poder legislativo. Como cada mensagem do executivo precisa da maioria...

Em Xerém também chegam garotos com bilhetinhos premiados (foto) indicados, acreditem, por diretores da nossa entidade máxima. Quando tocou na bola, nem se viesse com a assinatura do presidente da Fifa. E foi dispensado.



Ao trabalhar dos dois lados que receberam os bilhetinhos, e perceber que a estagiária portadora de um foi aprovada, mesmo não sendo talentosa ou concursada, e o garoto em Xerém foi dispensado, vi uma luz no fim do túnel. E se a política seguisse os critérios do esporte?

Logo ela se apagou porque ao não aprovar o garoto, fui sumariamente dispensado em Xerém (foto) por fazer o que tinha de fazer.

E eleito o melhor gestor municipal daquele ano justamente por não fazer o que deveria fazer.

Não é difícil salvar o país. Basta aos gestores, públicos e privados, darem dois jogos de camisas, de cores diferentes, aos dois craques do time para disputarem uma pelada recreativa.

Impressionante: os primeiros escolhidos serão os craques, pois apostam lanches, Coca-Cola, ninguém quer perder jogando uma pelada.

Já os gestores públicos, acuados por alianças e conchavos da liderança, são obrigados a jogar as camisas para o alto. Que são alcançadas por indicações do alto e deixam os concursados sentados no banco de reservas.

Isto se quiserem permanecer em seus cargos. E com qualquer resultado.

Por José Roberto Padilha 

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