A Avenida que é cara do Brasil


Ainda bem que aquela postura agressiva, intimidadora, de quem divide todas as bolas com uma força demasiadamente excessiva, permaneceu sábado, no Maracanã, quando do clássico entre Fluminense X Corinthians.

Quem embarcou com a família e um amigo em direção a Paraty, logo após a partida, dirigindo sua Mercedes GLE 53, foi um pacato pai de família. Um cidadão responsável e um atleta que todo treinador gostaria de ter no time.

Porque minutos depois, ao alcançar a Av. Brasil, bandidos armados pararam seu carro, obrigaram todos a descer e fugiram com o veículo. E ele se comportou com responsabilidade e não ofereceu resistência.

No máximo, ficou imaginando se quem lhe apontou o revolver fosse um meia adversário, abusado, habilidoso, que partia em direção ao gol que protegia. O jogaria na Geral com bola e tudo. Se ela ainda existisse.

A Avenida Brasil, como a Linha Amarela, de vergonha, e Vermelha, de sangue, ainda são palcos das maiores tensões vividas por todos os que se arriscam atravessá-las. Um palco inseguro que não tem nem uma cabine do VAR.

Por ela, chegam os sonhos daqueles que foram lá fora engrandecer o Brasil com sua arte, como Felipe Melo. Por ela, se vai o desejo de convencer sua família a permanecer atuando no seu país.

Há dezessete anos jogando em clubes da Espanha, Itália, Turquia, não deve ser difícil explicar para seus filhos porque foram assaltados.

Se livrarias estão sendo fechadas na mesma proporção em que clubes de tiro são inaugurados, o que esperar que receberiam na Avenida que leva o nome e a cara do país?

Um poema de Drummond?

Por José Roberto Padilha
Imagem: Reprodução do colunistafull-width

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