Cuidados de pessoas com lesão medular na comunidade: Uma questão prioritária de saúde pública

Sabe-se que as pessoas com lesão medular (LM), ainda que reabilitadas em programas especializados de reabilitação física, precisam manter algum vínculo com estes para que possam recorrer aos seus profissionais quando surgem quaisquer complicações no cuidado com a pele e mucosas para prevenção de úlceras de pressão (as conhecidas escaras), com os sistemas urinário e fecal, com o surgimento de lesões musculoesqueléticas pelo esforço repetitivo e sobrecarga nas articulações de punho, cotovelo, ombro, joelho, tornozelo e quadril, entre outras.

Ocasiões em que uma avaliação multiprofissional da equipe de reabilitação é imprescindível para que essas pessoas continuem vivendo saudáveis, estudando, trabalhando, e participando ativamente das atividades nos contextos familiar, comunitário, religioso e social, independente da sua condição humana diferente das pessoas que caminham com as próprias pernas.

Caso fiquem sem opção para recorrer aos atendimentos profissionais diante desses episódios previsíveis, como ocorre em várias cidades e regiões Brasil afora, é imperioso considerar que se deva tão somente à omissão dos gestores públicos de saúde, de vez que eles dispõem de amplo arcabouço normativo de diretrizes e recursos para garantir tal cobertura de cuidados para esses cidadãos.

Como não se indignar, se o (des) comprimisso com o outro implica em sofrimento e desgaste desnecessários?

Por que não encaminhar para outros serviços especializados credenciados pelo SUS, já que não querem ou estão despreparados para atender, cuidar, servir?

Não é preciso buscar exemplos de pessoas com LM desassistidas fora da região Centro-Sul do Estado do Rio de Janeiro, basta que se recorram aos cadastramentos dos usuários da Atenção Básica de Saúde, mais especificamente atendidos pelas equipes da Estratégia Saúde da Família (ESF) de cada um dos seus 11 municípios.

Facilmente identificaremos o quanto elas precisam de orientações sobre acessibilidade domiciliar e do que fazer para suprir suas necessidades de cuidados do corpo físico, mental e espiritual.

Maioria delas sobrevive trancafiada dentro de suas casas, muitas vezes, compartilhando com vários familiares os mesmos ambientes inacessíveis à circulação da cadeira de rodas, sem equipamentos de tecnologia assistiva facilitadores dos cuidados diários, desassistida pelas equipes da ESF, impossibilitadas do direito de ir e vir até mesmo para atendimentos na Unidade Básica de Saúde da sua área de abrangência.

É fato que o setor público nos países de baixa e média rendas dispõe de limitada estrutura e recursos financeiros para dar cobertura total no sentido de atender todas as necessidades das pessoas com LM.

Contudo, no Brasil, existe uma Rede de Cuidados da Pessoa com Deficiência que tem como foco o atendimento integral para cuidado de curto, médio e longo prazos em seus diversos pontos de atenção, a provisão e dispensação de órteses, próteses e meios auxiliares de locomoção, pronta para garantir o essencial a todos desde que apresentados indicadores epidemiológicos robustos e respectivos planejamentos estratégicos para ação em cada município.

Definitivamente, o que nos falta é organização e gestão pública apta, comprometida e responsável, capaz de agir para que ninguém seja condenado ao desencarne precoce, pois de abandono, descuidado, solidão e exclusão social também se morre.

A lesão medular traumática pode afetar todas as funções da medula espinhal, determinando limitações de atividade e restrições de participação.

É um evento potencialmente catastrófico que pode afetar todas as funções da medula espinhal: motora, sensorial e autonômica, determinando limitações de atividades e restrições de participação.

Afeta a família e a sociedade com elevadas necessidades de cuidados agudos e prolongados (recursos humanos especializados, longos tempos de tratamento, etc.) e elevados custos diretos e indiretos.

Conhecer o perfil epidemiológico da população atendida é imprescindível para planejar cuidados, recursos e atuar na prevenção.

A deficiência adquirida do lesado medular é sempre mais difícil para indivíduos e famílias de baixa renda, complicada pelo alto custo dos materiais, equipamentos, tecnologias assistivas e cuidados que ela requer, apenas amenizada pelo respaldo garantido nas diretrizes das políticas públicas de saúde e reabilitação, mas para que este ocorra é imprescindível que os gestores públicos façam o que são pagos para fazer.

Bom começo seria a manutenção dos vínculos institucionais com programas ou serviços especializados de reabilitação física, a partir da notificação de eventual queixa dessa clientela durante as visitas domiciliares realizadas pelos Agentes Comunitários de Saúde das ESF.

Registros que deveriam ser sistematizados e disponibilizados em rede nos sistemas de regulação de procedimentos de saúde para evitar que sejam perdidos e que céleres medidas sejam tomadas para agendamento de consultas e avaliações pelas equipes dos programas especializados em reabilitação da área de abrangência.

A guisa de informação, compartilho o contato do Centro Internacional SARAH de Neurorreabilitação e Neurociências, para que as pessoas desassistidas e sem vínculo institucional com programas do gênero tomem a iniciativa de buscar opção de excelência em serviços, assistência e inovação tecnológica na área, disponível para todos e gratuito, pois é uma instituição pública.

Fica na Av. Canal Arroio Pavuna, s/nº - Jacarepaguá, Rio de Janeiro – RJ, telefone (21) 3543-7000. É só ligar e marcar uma consulta e avaliação, vale a pena, afirmo por ser usuário há 25 anos.

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