Enredos, ensino e história: uma combinação que dá samba

Criatividade e inovação nas aulas colaboram no aprendizado


Enredos de escolas de samba e História são intimamente ligados. Pegando o gancho dessa relação tão próxima, professores têm usado as letras de enredos em suas aulas.

É uma maneira lúdica e leve que já caiu no gosto dos alunos. Afinal de contas, como diz a emblemática canção “Samba da Minha Terra”, de Dorival Caymmi “Quem não gosta do samba bom sujeito não é ou é ruim da cabeça ou doente do pé”.

Professor de História do Elite Rede de Ensino, Felipe Kox, é um dos que usa os enredos em suas aulas. Na visão dele é importante explicar a matéria a partir de temas que se conectem com as pessoas.

“Não só os enredos, mas a música, de forma geral, o cinema, o teatro, os nomes das ruas do seu bairro. Enfim, o cotidiano. É importante conseguir trazer a história para perto, tirar aquela alcunha de disciplina que só fala de coisas antigas e mostrar que a história está presente em muito do que você vive cotidianamente e influencia diretamente em como é sua vida hoje”.

Amante do carnaval, o professor conta que, desde o início de sua carreira, fazia citações de enredos em determinadas aulas, mas uma aula específica trabalhando apenas enredos foi algo que surgiu em 2019, inspirado pelo desfile da Mangueira, campeã naquele ano.

O ensino através dos enredos não se limita a História do Brasil, também vale para a História Geral
Felipe Kox fala da resposta dos estudantes com esse formato e menciona que fugir do tradicional acaba despertando um maior interesse.

“Em geral, aulas que possibilitam mais construções entre o conteúdo e outras situações já conhecidas por eles geram uma absorção proveitosa do assunto tratado. Existe uma relação muito forte entre as conexões que você constrói com aquele assunto e sua capacidade de reter aquela informação”.

O professor do Elite conta que o enredo “História para ninar gente grande”, da Mangueira, campeã de 2019, permite uma longa reflexão sobre a história do Brasil, pois traz uma forte crítica ao caráter excludente da construção dessa história ao longo dos séculos.

“Dá para falar de colonialismo, escravismo, abolicionismo, questão indígena e estrutura patriarcal. As possibilidades de trabalhar a matéria a partir desse enredo são inúmeras”.

O ensino através dos enredos não se limita a História do Brasil, também vale para a História Geral. Segundo Kox, os enredos dos anos 60 e 70 abordavam as lutas sobre a liberdade, falavam sobre os horrores da escravidão e sobre o patrimônio cultural de origem africana.

Tudo isso em um contexto onde aconteciam as independências africanas, após a Segunda Guerra Mundial.

Felipe Kox comenta sobre outros modelos alternativos que adota. “Minha monografia na faculdade e na pós-graduação foi sobre uso do cinema no ensino de história. Já tenho, desde a graduação, um interesse forte por usar em sala recursos como o cinema, as séries e a música. Claro que o tempo que dispomos nem sempre possibilita aulas que saiam muito do padrão, mas quando é possível, usar desses recursos é sempre algo que acho muito útil”.

Mestre em História Social pela UFRJ, escritor e professor Luiz Antônio Simas é uma referência para Kox.

“A produção dele, inclusive na internet, é toda cheia de inspirações. Seja lendo seus livros ou acompanhando os tweets dele, a pessoa que conhece a produção do Simas já enxerga ali várias possibilidades de aulas com base não só em enredos, mas na cultura popular brasileira de forma geral. Então eu poderia dizer que é uma inspiração”.

Fonte: Usina Comunicação
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