Diálogo entre gerações, educação e trabalho: instrumentos para construir uma paz duradoura (2)

Continuamos a leitura, ao longo desse mês de janeiro, da pertinente e relevante Mensagem do Papa Francisco para o 55º dia mundial da paz, proclamada no dia 1º de janeiro de 2022.

Que a tríplice proposta do nosso Pastor Comum - Diálogo entre gerações, educação e trabalho – para a construção da paz seja abraçada decididamente nessa nascente do Ano Novo.


2. Dialogar entre gerações para construir a paz

Um mundo ainda fustigado pela pandemia, que tem causado tantos problemas, «alguns tentam fugir da realidade, refugiando-se em mundos privados, enquanto outros a enfrentam com violência destrutiva, mas, entre a indiferença egoísta e o protesto violento há uma opção sempre possível: o diálogo, [concretamente] o diálogo entre as gerações». [5]

Todo o diálogo sincero, mesmo sem excluir uma justa e positiva dialética, exige sempre uma confiança de base entre os interlocutores. Devemos voltar a recuperar esta confiança recíproca.

A crise sanitária atual fez crescer em todos o sentido da solidão e o isolar-se em si mesmos. Às solidões dos idosos veio juntar-se, nos jovens, o sentido de impotência e a falta duma noção compartilhada de futuro.

Esta crise é, sem dúvida, aflitiva, mas nela é possível expressar-se também o melhor das pessoas. De fato, precisamente durante a pandemia, constatamos nos quatro cantos do mundo generosos testemunhos de compaixão, partilha, solidariedade.

Dialogar significa ouvir-se um ao outro, confrontar posições, pôr-se de acordo e caminhar juntos. Favorecer tudo isso entre as gerações significa amanhar o terreno duro e estéril do conflito e do descarte para nele se cultivar as sementes duma paz duradoura e compartilhada.

Enquanto o progresso tecnológico e econômico frequentemente dividiu as gerações, as crises contemporâneas revelam a urgência da sua aliança.

Se os jovens precisam da experiência existencial, sapiencial e espiritual dos idosos, também estes precisam do apoio, carinho, criatividade e dinamismo dos jovens.

Os grandes desafios sociais e os processos de pacificação não podem prescindir do diálogo entre os guardiões da memória – os idosos – e aqueles que fazem avançar a história – os jovens –; tal como não é possível prescindir da disponibilidade de cada um dar espaço ao outro, nem pretender ocupar inteiramente a cena preocupando-se com os seus interesses imediatos como se não houvesse passado nem futuro.

A crise global que vivemos mostra-nos, no encontro e no diálogo entre as gerações, a força motora duma política sã, que não se contenta em administrar o existente «com remendos ou soluções rápidas», [6] mas presta-se, como forma eminente de amor pelo outro, [7] à busca de projetos compartilhados e sustentáveis.

Se soubermos, nas dificuldades, praticar este diálogo intergeracional, «poderemos estar bem enraizados no presente e, daqui, visitar o passado e o futuro: visitar o passado para aprender da história e curar as feridas que, às vezes, nos condicionam; visitar o futuro para alimentar o entusiasmo, fazer germinar os sonhos, suscitar profecias, fazer florescer as esperanças.

Assim unidos, poderemos aprender uns com os outros». [8] Sem as raízes, como poderiam as árvores crescer e dar fruto?

É suficiente pensar no cuidado da nossa casa comum, já que o próprio meio ambiente «é um empréstimo que cada geração recebe e deve transmitir à geração seguinte».[9]

Por isso, devem ser apreciados e encorajados os numerosos jovens que se empenham por um mundo mais justo e atento à tutela da criação, confiada à nossa custódia.

Fazem-no num misto de inquietude e entusiasmo, mas sobretudo com sentido de responsabilidade perante a urgente mudança de rumo, [10] que nos é imposta pelas dificuldades surgidas da atual crise ética e socioambiental. [11]

Por outro lado, a oportunidade de construir, juntos, percursos de paz não pode prescindir da educação e do trabalho, lugares e contextos privilegiados do diálogo intergeracional: enquanto a educação fornece a gramática do diálogo entre as gerações, na experiência do trabalho encontram-se a colaborar homens e mulheres de diferentes gerações, trocando entre si conhecimentos, experiências e competências em vista do bem comum.

Na próxima semana reflitamos juntos sobre a centralidade da educação por um pacto pela paz.

Medoro, irmão menor-padre pecador

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