O GPS é coisa nossa!

Pobre Wikipedia, que informa ao mundo que o GPS foi desenvolvido pelo Departamento de Defesa americano, em 1983, após um dos seus caças ser abatido por entrar, por engano, no espaço aéreo da URSS.

Ainda bem que era testemunha ocular da história e estava no laboratório em que ele foi sendo desenvolvido 7 anos antes disso: em Governador Portela, distrito de Miguel Pereira, em um campo de futebol.

Realizava meu primeiro treino no Flamengo. Encerrado o primeiro tempo, Junior se aproximou e me chamou a atenção: "Zé, você está rico? Milionário? Sabe aquele galinho ali? Ele que nos dá os bichos e você não deu uma só bola para ele."

Respondi que toda vez que tentava lhe passar a bola, ele, Zico, olhava para o outro lado. Como faria o passe?

Daí Junior explicou que se tratava de um ser alienígena. Ao contrário de todos nós, simples mortais, que precisamos dominar a bola para depois dar continuidade, Zico, na certeza do passe, abria seu GPS experimental para rastrear o campo adversário.

O bom jogador vê, o craque antevê. Esse era o segredo.

No segundo tempo, arrisquei. Pegava a bola e passava para ele mesmo não olhando pra mim. Quase um década à frente dos estudos da NASA, ele percebia se o Toninho estava passando.

Mapeava a distância de uma possível chegada da marcação. Se tivesse, atrasaria a bola pro Rondinelli ou se, livre, partiria para cima da zaga.

Ele sim, penetrava no campo adversário abatendo zagueiros que vinham em sua direção.

Lidava com a genialidade. E isto leva tempo.

Quando começou o estadual, entendi a preocupação do Junior. Aquele cientista foi o responsável por pagar a entrada no primeiro, e único, apartamento que comprei na minha carreira.

Está na hora do Wikipédia corrigir essa história. Primeiro, foi contra Santos Dumont, inventaram uns irmãos Wright para não reconhecer sua invenção. Mesmo porque ela foi oficialmente apresentada ao mundo em 1981, em Tóquio.

Agora, mapeiam cada cantinho da terra por satélite, da mesma maneira com que Zico fazia, nos gramados, por magia e intuição.

Eles, americanos, são incapazes de reconhecer que ganhamos os céus, e os caminhos mais próximos de encontrar o gol, muito antes do seu time titular concentrado no Vale do Silício.

Por José Roberto Padilha 
Imagem: Reprodução

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