Cuidar da Saudade e da Casa Comum

O Dia de Finados, que já se aproxima, em meio à pandemia persistente e frente aos tristes episódios de desmatamentos e incêndios da natureza, é ocasião oportuna para retomarmos a responsabilidade pelo o cuidado da saudade, bem como da casa comum.

E, para isso, recorro à mensagem do arcebispo de Belo Horizonte (MG) e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Walmor Oliveira de Azevedo, que, há dois anos exatamente, em 20 de outubro de 2020, convidou os cristãos e católicos da Igreja no Brasil à realização de um gesto concreto de plantar uma árvore no Dia de Finados, em homenagem aos que faleceram, especialmente os vitimados pela pandemia da Covid 19.

“Somos, pois, chamados a testemunhar desde já a nossa esperança enfrentando a morte com gestos de amor. Um gesto cristão e cidadão de quem aposta na vida diante da morte. Sejamos nós todos, Igreja no Brasil, em cada lugar com este gesto de amor (...) Sejamos solidários à dor das famílias, tantos órfãos, viúvos e viúvas, irmãos que enfrentaram a dor da separação e o luto imposto pela enfermidade”, afirmou.

Sim. A solidariedade e corresponsabilidade uns com os outros é parte da identidade cristã. O que exige, segundo dom Walmor, é que os cristãos cuidem uns dos outros e pratiquem a empatia com gestos concretos num tempo de tantos embates desnecessários.

“Neste dia em que meditamos sobre a morte não percamos o rumo: nascemos para a vida. Estamos a serviço da vida na certeza de que um dia nos encontraremos com aqueles que partiram antes de nós. A partir desta convicção, em homenagem às vítimas da pandemia e sensível às tragédias ambientais que vem ocorrendo (...), a nossa Igreja convida você para um gesto concreto: o plantio de uma árvore, na sua casa, ou na sua comunidade, em memória, de quem nos deixou vítima da pandemia”, disse.

Retomo essa proposta de Dom Walmor por saber o dia 2 de novembro ainda é identificado como sendo um dia específico para se meditar e rezar pelos mortos.

São milhares de pessoas que vão até os cemitérios levar flores para depositar nas lápides em memória dos que se foram; outras levam também velas, fazem orações, celebram missas e cultos; outros rezam em casa.

Uma vez que a morte é parte da vida, faz sentido que as pessoas de todo o mundo, de todas as culturas e origens diferentes tenham seus ritos e símbolos próprios para honrar aqueles que já faleceram.

Importante destacar que a perspectiva não precisa e nem deve ser de tristeza. Saudade e tristeza são coisas diferentes.

Ao visitar um cemitério, estamos também visitando nossos antepassados, nossas origens e também a nossa história. Celebrar como uma data de tributo à vida daqueles que amamos e já morreram.

E mais. Para todos os cristãos, independentes da Igreja a que pertence, é um dia propício para se reavivar a fé no Cristo ressuscitado e a nossa esperança-certeza da ressurreição e da vida eterna. Cuidar da saudade é, nesse tempo, esperançar com essa esperança que não decepciona!

E trata-se de uma esperança que não aliena, mas engaja-nos a todos na defesa e promoção da vida humana e da vida do planeta, nossa casa comum.

A crescente sensibilização ecológica tem sua raiz última, sabemos, norelato bíblico da criação do mundo (Genesis 1). 

A natureza em seu conjunto é nossa irmã mais velha, pois fomos criados no sexto e último dia da criação (Gn 1, 26-31).

São Francisco de Assis, no famoso Cântico das Criaturas, chamava assim os elementos da criação de irmãos: irmãosol, irmãlua, irmã terra, irmã água,...

E, hoje frente à violência contra o sistema ecológico, a crise hídrica, a poluição ambiental, os desmatamentos, os incêndios, os lixos multiplicados e jogados ao léu, ... é imperativo da fé cristã o cuidado da casa comum.

Retomar nesse finados a proposta de Dom Walmor de se plantar uma árvore em memória daqueles que nos deixaram saudades, seja uma forma digna de honra-los em sua herança: a casa comum que nos deixaram!

Enfim, quero solidarizar-me, uma vez mais, com as famílias que nesse ano perderam seus entes queridos, especialmente por causa da pandemia da Covid-19 e reverenciar os funcionários que cuidam dos cemitérios.

Existe uma preocupação em atender bem as pessoas que os utilizam ou visitam, mantendo o ambiente limpo e organizado. Reverência que estendo ao pessoal das casas funerárias.

Medoro, irmão menor-padre pecador

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