A Economia de Francisco e Clara na Assembleia Eclesial da América Latina I

Ainda, nesta e na próxima semana, mantemos suspensas as reflexões sobre “O Ano de São José”, pois a Igreja latino-americana por meio da Conferência Episcopal Latino-americana e Caribe (Celam) nos convida a realizarmos a primeira Assembleia Eclesial na Grande Pátria para trabalharmos juntos na construção do Reino de Deus em nossas realidades.

Compartilho assim, a reflexão conjunta de Alan Faria Andrade, Advogado, mestre e doutorando em Direito pela PUC/SP e de Eduardo Brasileiro,Educador Popular, mestrando em Sociologia pela PUC/MG, ambos integrantesda Articulação Brasileira pela Economia de Francisco e Clara (ABEFC) e a Economyof Francesco (EoF).

Com o lema "Somos todos discípulos missionários em saída", somos chamados a começar juntos um caminho para a primeira Assembleia Eclesial da América Latina e Caribe.

A proposta quer que, como Povo de Deus, em comunhão com o papa Francisco, que em sua mensagem de vídeo do o dia 24 de janeiro de 2021, para o evento, nos encorajou a seguir este caminho: "Quero estar com vocês e desta vez em preparação até novembro … é a primeira vez que isso é feito … Acompanho-vos com as minhas orações e bons votos, avante com coragem! ".

Pensar, sentir e agir diante da realidade eclesial latino americana é colocar esses três sentidos em direção a vida que resiste, insurge-se e propõe caminhos e alternativas a partir da realidade social, econômica, política, cultural e espiritual.

Vivemos em uma mudança de época (DAP, 44) e esse dado confirmado pela Conferência de Aparecida em 2007 é propulsor para abraçarmos os convites a uma ecologia integral, a um pacto educativo e a uma economia de Francisco e Clara.

Os três possuem um aprofundamento próprio que merece atenção de todas as comunidades eclesiais do mundo e que neste texto, em especial daremos atenção ao chamado do Papa Francisco a “realmar a economia”.

A realidade socioeconômica interpela-nos sobremaneira pela pandemia da Sars/Covid-19, pela manutenção de uma economia extrativista, financeirizada e neoliberal.

Extrativista porque nossa relação com o consumo e produção é de manutenção de uma estrutura socioeconômica que mantém os países do sul global reféns das grandes corporações e seu desenvolvimento sem vida, sem ecologia, sem partilha.

A financeirização é esta fórmula econômica onde os grandes grupos econômicos acumulam riquezas e geram uma asfixia na circulação de capitais e de investimento em fontes solidárias, ecológicas e circulares.

E o neoliberalismo é a coroação desse sistema quando evoca cada um e cada uma a ser uma pessoa-empresa. Ele concretiza o mandamento de pensar, sentir e agir numa lógica econômica de competição e acumulação.

Esses 3 pilares são na atualidade grandes ideologias que sustentam a sociedade da desigualdade, da precariedade (dos descartados) e da injustiça. E, nós, como Igreja o que podemos fazer diante disso?

Em novembro de 2020, diretamente de Assis, o Papa Francisco por meio de um vídeo conferência nos provocou a 3 grandes reflexões: A vocação de Assis, o Pacto de Assis e a Cultura do Encontro. Esses são 3 ferramentas de construção da Economia de Francisco e Clara em nossa missão evangelizadora latino-americana.

A vocação de Assis é a vocação dos nossos lugares. A coragem que guiou São Francisco, Santa Clara e toda a fraternidade de Assis, foi a construção de uma dissociação seletiva e temporal da economia da desigualdade daquele tempo para a construção da economia de solidariedade, ecológica e espiritual.

Neste sentido, cada comunidade eclesial, nas favelas urbanas, nos conflitos do campo, no coração da floresta ou em outros cenários deve perceber que Assis é ali mesmo. Bebermos da espiritualidade de Francisco e de Clara é agirmos com nossa comunidade em busca dessa economia ecológica e solidária.

O pacto de Assis é a construção de uma "comunidade que educa". A comunhão proposta pelo papa em forma de pacto é o compromisso que precisa ser emanado em nossas comunidades, paróquias e dioceses de refletir e agir por novas economias.

Como nos afirmou o Papa Francisco acerca da Assembleia que não se trata de apenas bispos ou de uma elite "iluminadas de uma ideologia ou outra" queremos que o povo repense sua economia a partir de um pacto do seu território em priorizar projetos solidários e ecológicos.

A cultura do encontro é o motor dessa ação evangelizadora. Se colocar de frente das realidades não é se pôr a fazer propostas, e sim, propor-se a escutar os povos e suas iniciativas.

O Brasil é berço de profundas iniciativas econômicas possíveis e existentes, como a economia indígena, comunitária, solidária, circular e de comunhão.

Romper o fio da indiferença que nos faz ao mesmo tempo ter os sintomas de mal-estar diante desta civilização somado ao imobilismo de inciativas deve ser o desafio a romper para a construção da cultura do encontro.

Medoro, irmão menor-padre pecador

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