São José e o silêncio do “homem justo” - II

Damos continuidade em nossa coluna às reflexões compartilhadas pelo Pe Adroaldo, SJ. sobre a figura silenciosa de José que desvela e denuncia o “palavreado crônico” que nos esvazia. Ele nos mobiliza a viver o silêncio atento e que escuta. Quando calamos e fazemos silêncio começamos a escutar a nós mesmos e a Deus, que fala silenciosamente “em sonhos”.

Há uma diversidade de silêncios. Existe o silêncio dos mortos ou o silêncio daquele que não tem nada que dizer, porque sua vida está vazia. Existe o silêncio cheio de tristeza do desamparado, que sofre, chora e perdeu toda esperança.

Existe o silêncio tenso que se estabelece quando duas pessoas que não se amam seveem obrigadas a estar em um mesmo lugar. Existe o silêncio respeitoso diante de um enfermo ou diante de uma tragédia; existe o silêncio cheio de amor que brilha no olhar daqueles que se amam. E existe o silêncio daquele que escuta atentamente o que o(a) amado(a) tem a lhe dizer.

Sem dúvida, este último silêncio é o que melhor caracteriza a José de Nazaré. Os Evangelhos o apresentam como um homem sempre pronto a escutar a voz de Deus que fala através dos acontecimentos de sua vida e da vida daqueles que foram confiados aos seus cuidados.

Carecemos do silêncio transformador neste nosso mundo. O ruído inunda as ruas, os lugares de trabalho, as casas e até os corações. O ruído atordoa, tem efeito devastador, provoca a revolta, agressividade e um estado de ânimo convulsionado. Com o barulho, o espírito humano se acomoda, se anestesia, se dopa.

O funcionamento normal do cérebro fica debilitado. A pessoa não sente, não pensa, não tem serenidade para decidir. Todas as expressões de vida se atrofiam. A criatividade seca, os sonhos desaparecem e o ser humano torna-se incapaz de escutar a música harmoniosa de toda a Criação...

Num contexto de ruídos atrevidos, tanto na cidade como em nossos lugares de “repouso”, torna-se mais do que necessário uma “cultura do silêncio”, que permita redescobrir o nosso próprio interior, escutar a voz dos anjos indicando os melhores caminhos a serem trilhados.

Tony de Mello nos diz: “O silêncio não é ausência de som, mas ausência de Ego”.

A carência do silêncio em nossa vida nos faz seres superficiais. Com efeito, a cultura pós-moderna decretou o fim do silêncio: vivemos imersos nos mais diferentes ruídos.

E o silêncio, por sua vez, está se vingando de nós, criando vazio, superficialidade, palavras sem sentido, já não sabemos quem somos, para onde andamos e o que queremos...

É indispensável “fazer silêncio” para entrar em contato com a realidade, sobretudo para abrir espaço ao Outro dentro de nós, para acolhê-Lo, para ouví-Lo e entrar em sintonia com sua Vontade.

Nos murmúrios interiores do coração ali encontramos os sinais da presença viva de Deus(Mt 1,18-24; 6,5-15; 1Rs 19, 9-15).

“Quando o silêncio fala, a vida se transforma”. A oração é o lugar para o silêncio como lugar de encontro.

- No percurso de sua vida, você tem reservado momentos de silêncio e preparar-se para acolher Aquele que, no silêncio pleno, vem fazer morada em seu interior.

Por Padre Medoro

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