Laicato sem clericalismo

A Igreja celebrou no último domingo, 23 de novembro, a Solenidade de Jesus Cristo, Rei do Universo e nesta o Dia Nacional dos leigos e leigas, a vocação dos cristãos leigos e leigas, a partir do tema “Cristãos leigos e leigas: Sinais de Esperança no Mundo”. O laicato, a partir do Batismo, vive sua missão de evangelizar, seja no envolvimento nas atividades eclesiais, seja no testemunho do evangelho nos diversos ambientes e realidades sociais, como sujeitos eclesiais, discípulos missionários e protagonistas na vida e na missão da Igreja.Assim, os cristãos leigos e leigas estão presentes na sociedade “como fermento na massa, sal da terra e luz do mundo”.

O tema deste ano é um convite a uma profunda reflexão sobre o protagonismo do laicato no aperfeiçoamento da ordem temporal — a missão privilegiada de ser protagonistas de transformação, atuando de forma concreta no cuidado com a vida, com os pobres e com toda a Criação. Esse protagonismo laical não é privilégio, mas responsabilidade. “Pelo batismo, todos somos chamados a iluminar a sociedade com o Evangelho, contribuindo para que a vida seja defendida, a justiça seja promovida e a esperança seja mantida viva”, afirma o CNLB-Conselho Nacional do laicato do Brasil na celebração de seus 50 anos.

O anúncio da Boa-nova de Jesus, dessa forma, se realiza em todos os espaços, como as comunidades, as famílias, o trabalho, a política, a cultura, no cuidado com a criação, nos ambientes digitais e nas periferias existenciais e geográficas.É o compromisso de ser Igreja em saída, atuando com coragem e criatividade, para que a voz dos leigos e leigas seja sempre presença ativa na construção de uma sociedade justa, solidária e fraterna. Isso implica na necessidade de que a diversidade de carismas e dons dados por Deus sejam reconhecidos para que uma comunidade possa crescer e fortalecer os vínculos de comunhão e fé entre os seus participantes.

É importanteressaltar que esses carismas e dons sejam vividos no serviço e nos ministérios dos leigos, tendo presente o bem comum da comunidade e o compromisso de todo batizado com o Reino de Deus. Daí a importância de constantemente cuidar da formação dos leigos para que eles possam, à luz do Evangelho, ser também os protagonistas de uma Igreja em saída, missionária e solidária. Importa sublinhar que se trata da vocação grandiosaque não se restringe a colaborar com o padre na comunidade, mas que se desdobra no dia a dia, onde a vida acontece.

O leigo é, pois,aquele que, mergulhado no mundo, carrega consigo a missão de testemunhar o Evangelho no trabalho, na vida política, na cultura, na economia, nas artes e nas mais diversas expressões do convívio humano. Em meio às crises sociais e às divisões políticas que marcam nosso Brasil e o mundo, cabe ao laicato ser ponte, sinal de unidade e de diálogo.Ser sal e luz não é privilégio de poucos, mas missão de todos. Num mundo marcado por injustiças, desigualdades e indiferença religiosa, o cristão leigo é convocado a ser voz profética, capaz de denunciar o mal e anunciar o bem. É sua tarefa não apenas ‘falar de Deus’, mas revelar Deus no modo de viver: na honestidade, na solidariedade, no serviço aos pobres e na promoção da paz.

Em um contexto de tantos desafios para a fé cristã e para a sociedade brasileira, o Jubileu de 50 anos do CNLB representa não apenas uma celebração do passado, mas também uma convocação para o futuro: fortalecer a presença dos leigos e leigas nos diversos espaços da Igreja e do mundo, como sujeitos ativos da evangelização e da transformação social.As novas diretrizes da Igreja sugerem, por isso mesmo, a superação do clericalismo e o apoioà participação do laicato. O clericalismo não é apenas um problema dos padres, mas também dos leigos, porque só existe clericalismo quando ele é alimentado. As Diretrizes precisam ajudar a superar essa mentalidade, promovendo ministérios laicais que estejam a serviço da comunidade, não do padre ou do bispo.



. Medoro, irmão menor-padre pecador

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