Morre Jourdan Amóra, símbolo da resistência e da liberdade na imprensa fluminense



O jornalismo fluminense perdeu neste domingo (19) uma de suas vozes mais emblemáticas. Faleceu, por volta das 10h30, no Complexo Hospitalar de Niterói (CHN), o jornalista Jourdan Amóra, diretor do jornal A Tribuna. Ele estava internado havia cerca de duas semanas e morreu em decorrência de falência múltipla dos órgãos.

Nascido em Araçuaí (MG), em 1938, e criado em Niterói, Jourdan Norton Wellington de Barros Amóra construiu uma trajetória que se confunde com a própria história da imprensa fluminense. Repórter, editor, empresário e militante, foi reconhecido pela coragem de enfrentar censuras, crises políticas e revoluções tecnológicas sem jamais abrir mão da independência editorial.

Ainda adolescente, fundou o jornal Praia das Flechas, sua primeira experiência no ofício que marcaria toda a sua vida. Nos anos 1950, trabalhou em veículos como Diário do Povo, Última Hora, Diário Carioca e Jornal do Brasil, ganhando notoriedade por pautas sociais e pela defesa dos direitos humanos.

Em 1965, após ser demitido do Jornal do Brasil sob acusação de “subversão”, fundou A Tribuna, transformando o pequeno diário de Niterói em um símbolo da liberdade de imprensa e da resistência democrática. Durante a ditadura militar, chegou a ser preso pela DOPS após denúncias contra o governo estadual. No dia seguinte à sua prisão, o jornal estampou uma capa histórica com uma única palavra: “Libertas…”

Visionário, Jourdan foi também um dos pioneiros da imprensa de bairro. Em 1972, lançou o Jornal de Icaraí, distribuído gratuitamente porta a porta, e criou outros projetos, como a revista Tela e A Tribuna de São Gonçalo, ampliando o alcance da informação local e formando novas gerações de repórteres.

À frente de A Tribuna, Jourdan foi testemunha e protagonista de momentos decisivos da história política e social do estado do Rio de Janeiro. Enfrentou censuras, crises e transformações tecnológicas com a mesma convicção: a notícia é um direito, e o jornalismo, um dever. Seu estilo direto, sua postura firme e seu amor pela cidade fizeram dele uma referência incontornável.

Casado por mais de 50 anos com a professora Eva de Loures Amóra, falecida em setembro deste ano, viveu ao lado dela o que chamava de “a mais longa e leal redação da vida”. Deixou dois filhos, Gustavo e Luis Jourdan, além da neta Ana Luísa.

Entre suas contribuições à comunicação, fundou o Museu da Imprensa, a Associação Brasileira dos Jornais do Interior e a Associação dos Jornais do Interior do Estado do Rio de Janeiro, fortalecendo o jornalismo regional e comunitário.

Defensor incansável da liberdade de expressão, Amóra costumava dizer:


“Enquanto houver cidade, haverá pauta. E enquanto houver pauta, haverá Tribuna.”

O velório de Jourdan Amóra será realizado nesta segunda-feira (20), no Cemitério Parque da Colina, em Pendotiba, Niterói, das 12h45 às 14h45, com sepultamento logo em seguida.

O prefeito de Niterói, Rodrigo Neves, lamentou a perda do jornalista.


“É com muita tristeza que nos despedimos do meu amigo e grande jornalista Jourdan Amóra. Jourdan era a própria notícia. Apaixonado pela verdade e inquieto por natureza, ele transformou o ato de informar em um ato de resistência e de amor profundo por Niterói. Ele não apenas contou a história da cidade, mas ajudou a escrevê-la.”

A redação de A Tribuna decretou luto oficial e prepara uma edição especial em homenagem ao seu fundador.

A direção e toda a equipe de redação do Entre-Rios Jornal se solidarizam com A Tribuna, familiares e amigos neste momento de dor e saudade, expressando profundo pesar pela irreparável perda de Jourdan Amóra, o guardião da palavra em Niterói.

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