Tarifaço de Trump escalona tensões: Lula reage com firmeza, China critica e FPA pede diplomacia





A decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de aplicar uma tarifa de 50% sobre todas as exportações brasileiras a partir de 1º de agosto provocou forte reação do governo brasileiro e acendeu o alerta no agronegócio nacional. Durante evento em Linhares (ES), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o país tem o apoio do povo para enfrentar a medida, que classificou como uma "chantagem política" vinda da Casa Branca.

“Ninguém porá medo nesse país com discurso e com bravata. E eu acho que, nesse aspecto, nós vamos ter o apoio do povo brasileiro, que não aceita nenhuma provocação”, declarou Lula. Ele também criticou a justificativa de Trump, que alegou falsamente um déficit comercial dos EUA com o Brasil — informação desmentida por dados do próprio governo norte-americano.

“Entre comércio e serviço, nós temos um déficit de US$ 410 bilhões com os EUA [em 10 anos]. Eu que deveria taxar ele”, disparou o presidente brasileiro, que reiterou a disposição do governo de recorrer à Lei de Reciprocidade Econômica e acionar a Organização Mundial do Comércio (OMC) caso as negociações com Washington fracassem.


Agro em alerta e diplomacia como saída


O impacto direto no agronegócio preocupa a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), que em nota oficial pediu "cautela, diplomacia afiada e presença ativa do Brasil na mesa de negociações". Com os EUA sendo o segundo maior destino das exportações brasileiras — atrás apenas da China — o setor teme reflexos no câmbio, encarecimento de insumos importados e perda de competitividade internacional.

Entre os produtos mais exportados aos EUA estão café, carne, suco de laranja, petróleo, aeronaves, madeira, máquinas e motores, além de eletrônicos e materiais de construção.


China condena medida


A reação internacional também incluiu a China, que criticou abertamente o tarifaço de Trump. A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, Mao Ning, declarou que “as tarifas não devem ser uma ferramenta de coerção, intimidação ou interferência”. Segundo ela, o protecionismo norte-americano fere os princípios básicos das relações internacionais e da Carta da ONU.

A China já havia se posicionado contra o aumento unilateral de tarifas comerciais por parte dos EUA, especialmente após as ameaças feitas por Trump na Cúpula do Brics no início da semana, no Rio de Janeiro. O republicano sinalizou que países alinhados ao bloco poderiam sofrer sanções comerciais.



Bolsonaro e a conexão política


Lula também aproveitou o momento para criticar duramente o ex-presidente Jair Bolsonaro, investigado por tentar articular sanções contra o próprio país. Bolsonaro, segundo o presidente, estaria por trás da aproximação entre Trump e aliados brasileiros para pressionar o Judiciário e evitar ser julgado por tentativa de golpe de Estado.

“O 'coisa' mandou o filho, que era deputado, se afastar da Câmara para ir lá, ficar pedindo, ‘Ô Trump, pelo amor de Deus, Trump, salva meu pai’. É preciso que essa gente crie vergonha na cara”, ironizou Lula, referindo-se ao deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que se licenciou do cargo e viajou aos EUA em meio ao acirramento da crise.

Nas redes sociais, Bolsonaro elogiou Trump e afirmou que a tarifa seria uma resposta ao suposto afastamento do Brasil dos seus “compromissos históricos com a liberdade”. Ele e seus aliados negam qualquer articulação golpista, apesar das acusações da Procuradoria-Geral da República (PGR), que investiga planos que incluiriam até assassinatos de Lula, do vice-presidente Geraldo Alckmin e do ministro do STF Alexandre de Moraes.


Trump sinaliza possível diálogo, mas adia contato

Em visita ao Texas, Trump declarou que pretende conversar com Lula sobre o assunto, “mas não agora”. O presidente norte-americano reforçou seu apoio a Bolsonaro, a quem chamou de “homem honesto e forte negociador”. A ligação entre a medida tarifária e o processo judicial de Bolsonaro no Brasil acendeu alertas em diplomatas e especialistas.

Para analistas ouvidos pela Agência Brasil, a medida é uma tentativa de interferência externa nos assuntos internos do país e busca minar a autonomia do Brasil em fóruns internacionais como o Brics e na regulação de grandes plataformas digitais (big techs).



Próximos passos


O governo brasileiro deve protocolar nos próximos dias uma denúncia formal à OMC, denunciando a medida como violação de normas multilaterais de comércio. Ao mesmo tempo, o Itamaraty articula apoio internacional contra o que considera um uso abusivo de tarifas como instrumento político.

Enquanto isso, o país se vê diante de um desafio diplomático e econômico inédito nesta década: proteger sua soberania e seus interesses comerciais em meio a um embate ideológico com a maior potência econômica do mundo. 

Com informações da Agência Brasil e Brasil 61



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