
Redação
A Organização Mundial da Saúde (OMS) emitiu, nesta semana, uma nova diretriz recomendando o uso do lenacapavir, um antirretroviral de ação prolongada, como uma opção adicional de profilaxia pré-exposição ao HIV (PrEP). Aplicado por injeção a cada seis meses, o medicamento apresentou eficácia de até 100% na prevenção do HIV em estudos recentes, sendo considerado um dos avanços mais promissores na luta contra a epidemia. A indicação se soma a outras estratégias de prevenção combinada já em uso e visa ampliar o alcance da proteção, sobretudo em populações com dificuldades de adesão à PrEP oral diária.
A recomendação ocorre em um momento em que os esforços globais para conter o avanço do HIV enfrentam estagnação. Em 2023, foram registradas 1,3 milhão de novas infecções, e cerca de 40 milhões de pessoas viviam com o vírus. Estudos clínicos conduzidos em 2024, incluindo pesquisas publicadas no New England Journal of Medicine, demonstraram que o lenacapavir impediu infecções em 100% das mulheres cisgênero participantes e teve eficácia superior à de outros medicamentos já utilizados na prevenção, como o Truvada e o Descovy. “Embora ainda não tenhamos uma vacina, o lenacapavir é a melhor alternativa que temos”, afirmou Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS.
Apesar do entusiasmo com os resultados, o acesso ao medicamento ainda representa um desafio. Nos Estados Unidos, onde o lenacapavir já foi aprovado para prevenção, o custo anual gira em torno de US$ 28 mil. Para ampliar o alcance em países de baixa e média renda, a fabricante Gilead Sciences firmou um acordo com o Fundo Global para fornecer o medicamento sem fins lucrativos, cobrindo até 2 milhões de pessoas antes da chegada de versões genéricas. No Brasil, o remédio ainda não tem registro na Anvisa, e sua submissão está em fase de planejamento, segundo informou a Gilead em 2024.
A OMS também recomendou o uso de testes rápidos, inclusive autotestes, para facilitar o diagnóstico do HIV durante o início, uso ou interrupção da PrEP de longa duração. Essas medidas fazem parte de uma abordagem prática e acessível voltada à realidade de países em desenvolvimento, que continuam dependentes de financiamento internacional. No entanto, cortes recentes nos recursos dos EUA, especialmente no programa PEPFAR, acenderam o alerta. Segundo o Unaids, caso a retração do financiamento persista, milhões de mortes por causas relacionadas ao HIV podem ocorrer até 2029.
O lançamento do lenacapavir marca um ponto de inflexão na prevenção do HIV, mas especialistas alertam que o sucesso depende da equidade no acesso. “É um estudo sem precedentes e um momento decisivo”, afirmou Sharon Lewin, presidente da Sociedade Internacional de AIDS. Para alcançar a meta global de erradicar a Aids como ameaça à saúde pública até 2030, será necessário garantir que essa inovação chegue às populações mais vulneráveis, independentemente de onde vivam ou de sua condição socioeconômica. Com informações de agências de notícias
Imagem: Reprodução
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