Empresa que adquiriu área de terra diz que está analisando caso a caso junto à família que vendeu parte do espólio

Redação
Moradores da margem direita enfrentam incertezas diante da possibilidade de serem removidos de suas residências devido a uma nova construção na área. Sem ter para onde ir e sem renda para pagar aluguel, algumas famílias, que vivem pacificamente na área por mais de 30 anos [algumas até mais], vivem momentos de apreensão e insegurança. A empresa Terra Rica Empreendimentos Imobiliários Ltda, que adquiriu 1.129.122,36 m2, que pertencia ao espólio de Sylvio Guaraciaba de Almeida, diz que está em tratativas com os moradores analisando cada caso para as devidas providências dentro do que for compatível com cada moradia.

Entre os casos mais sensíveis, destaca-se o de uma moradora que tem duas crianças menores e sobrevive com o auxílio do Bolsa Família em uma pequena casa. Outra moradora, que vive na comunidade há mais de 50 anos, enfrenta um câncer e teme pelas incertezas sobre o futuro dela e de seus vizinhos, com quem convive há décadas. “Nunca recebemos qualquer notificação para desocupação do local onde moramos”, relata outro morador que prefere não se identificar e que reside há mais de 30 anos no local.
As famílias daquela localidade não são apenas ocupantes, mas também responsáveis por diversas melhorias na infraestrutura ao longo dos anos. Em 2000, por meio do então vereador Joa — atual prefeito —, conseguiram a instalação de postes de energia elétrica, um avanço significativo para as condições de vida dos moradores, que até então contavam apenas com ligações precárias com fios de alumínio e medidores distantes mais de 500 metros das casas. O abastecimento de água também foi uma conquista viabilizada pelo mesmo vereador. "Na época, o Joa foi o único que abraçou nossa causa e nos ajudou a conseguir iluminação pública e energia elétrica para nossas casas", recorda um dos moradores que viveu desde criança naquela localidade.

Uma parte, conhecida como Sítio do Braguinha, recebeu esse nome que era apelido de um antigo sitiante já falecido que, junto com seu irmão, mantinha atividades agropecuárias na região. Muitos dos atuais moradores estabeleceram-se no local há décadas e consolidaram suas moradias. Um dos moradores revelou que há algum tempo (sem precisar quando), foi procurado por um herdeiro da família Guaraciaba para assinar um contrato de locação, mas não assinou.
Recentemente, alguns residentes relataram terem sido procurados por um representante da empresa Terra Rica Empreendimentos Imobiliários Ltda, que adquiriu as terras da família Guaraciaba. Entre eles está Carlos Alexandre da Conceição, de 45 anos, que nasceu na comunidade e, embora não resida, monitora o local e ainda mantém a casa onde sua família viveu por mais de 40 anos, atualmente ocupada por um familiar. O medidor da Light, ainda em seu nome, segue instalado na pequena residência de sua propriedade, ao lado da de sua mãe, já falecida.

As dificuldades de acesso — lama, mato alto e falta de iluminação — são queixas recorrentes da comunidade, que ao longo dos anos tem buscado melhorias junto à prefeitura. Atualmente, devido às recentes chuvas e as obras no local, o ir e vir está um pouco difícil. Para chegar eles passam em um túnel sob a BR-393 ou, de carro, pelo acesso que quase foi fechado pela concessionária que administra a rodovia.
Os moradores temem ser despejados e acreditam que, por serem em sua maioria de baixa renda, correm o risco de serem injustiçados.
Um dos moradores recebeu uma “Notificação para desocupação da área”, assinada pelo representante legal da construtora e por um dos herdeiros do espólio de Sylvio Guaraciaba de Almeida, determinando a desocupação do local no prazo de 30 dias, a contar da data de recebimento da notificação, na última sexta-feira (4 de abril).
A situação segue indefinida, e as famílias aguardam um posicionamento oficial das autoridades e possíveis soluções que garantam o direito à moradia daqueles que ali vivem há tantos anos.
O que diz a Terra Rica
Nossa redação entrou em contato com o representante da empresa que vem sendo intermediário nas informações sobre cada moradia e o histórico de ocupação de cada morador e seus herdeiros junto à administração da construtora.
Segundo o representante que esteve em nossa redação na tarde desta segunda-feira (7), alguns imóveis foram ocupados por contrato de locação e alguns inquilinos descumpriram o contrato e fizeram obras e construções.
O representante esclareceu que a empresa não quer prejudicar os moradores e reconhece o problema herdado do vendedor, mas que o projeto (não revelado) está em execução, inclusive com a construção de um pequeno lago no local.
Por telefone, um engenheiro responsável pela obra, relatou que todos os trâmites estão seguindo e a Terra Rica prossegue com as melhorias naquela localidade, respeitando quem reside no local.
Imagens: Fernando Ferreira
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