Valber Moraes
O movimento de chegada de tropas de Minas Gerais e Rio de Janeiro começaram na noite do dia 31 e madrugada do dia 1º de abril daquele mesmo ano trazendo um amanhecer tenso em meio a centenas de soldados armados, carros militares e canhões de guerra que já ocupavam a região.
Os arealenses não entenderam bem o que estava acontecendo mas, acreditavam se tratar do encontro entre essas tropas.
O Contexto político em março de 1964 era que havia uma instabilidade política desde 1961, onde uma parcela da cúpula militar, alinhada a interesses empresariais e políticos, era contra o governo de Jango e já vinha sendo "ensaiada" a retirada dele do poder.
O Presidente João "Goulart era visto como um governante de esquerda, tanto que os militares tentam impedir a posse dele em 1961, após a renúncia do Jânio Quadros, e só não conseguiram porque houve uma resistência popular".
O novo "golpe" contra o governo estava sendo preparado para a primeira metade de abril, mas o general Olímpio Mourão Filho resolveu antecipar a tomada da Presidência da República, colocando suas tropas nas ruas, saindo de Juiz de Fora, Minas Gerais, em direção ao Rio, onde João Goulart estava.
Sabendo da presença das tropas de Minas nas ruas, os comandantes que eram a favor do presidente e da legalidade, no sentido de fazer cumprir a lei, enviaram seus homens para impedir que os militares avançassem para o território fluminense e, por este motivo, chegaram até Areal, onde ocorreu o encontro que marcou a história da pequena cidade de 13 mil habitantes, hoje segundo estimativa do IBGE.
Em seu livro "A ditadura envergonhada", o autor Elio Gaspari cita o que foi considerado o estopim para a decisão do comandante Mourão Filho.
"A revolta dos marinheiros na semana anterior, e o discurso de Jango no Automóvel Clube, na véspera, desestabilizaram as Forças Armadas. A organização militar, baseada em princípios simples, claros e antigos, estava em processo de dissolução. Haviam sido abaladas a disciplina e a hierarquia", diz o trecho.
Apesar do medo instalado na região, não houve confronto naquele dia e ninguém saiu ferido. Segundo o pesquisador Glauber Montes, parte das tropas enviadas para impedir a passagem dos militares de Minas Gerais acabou aderindo ao movimento contra João Goulart por "falta de uma ação enérgica do próprio presidente".
"Alguns oficiais vão cumprindo seu papel para defender o mandato do presidente, mas ele mesmo não teve uma postura firme. No dia 1º, ele saiu do Rio e foi para Brasília. A tropa se sentiu sem liderança e, na minha visão, também aderiu ao movimento de Minas por isso", disse o historiador.
O pesquisador Glauber Montes destaca que alguns autores citam nos livros que Jango poderia ter "bombardeado as tropas do Mourão, mas o presidente mesmo disse que quis evitar o derramamento de sangue, tentando arrumar soluções, mas foi perdendo as forças".
A afirmação é confirmada no livro de Gaspari em um trecho que cita, de um lado o comandante Cunha Mello - que comandava parte das tropas a favor de Jango, e de outro o Muricy, que liderava uma das tropas contra o então presidente, na página 103, relata o momento do encontro em Areal.
"Em Areal, sem a tropa do 1º RI [Regimento de Infantaria], Cunha Mello percebeu que defendia uma legalidade sem retaguarda. Muricy mandara-lhe um recado informando que 'como cavalheiro' não daria o primeiro tiro sem avisá-lo", diz.
Em outro trecho, o autor diz que: "Ninguém sabia o que poderia acontecer quando Cunha Mello e Muricy se encontrassem. A situação militar de Muricy era precária. Àquela altura, porém, nem ele nem seus colegas jogavam uma partida militar. Jogavam cartadas políticas".
E tem o relato do Sr Nino do Posto, morador de Areal desde aquela época, que cedeu suas instalações para a conversa e o contato telefônico com a Capital, para definir as futuras ações, que resultaram no apoio das tropas do Rio de Janeiro, aderindo a corporação de Minas Gerais, efetivando assim o Golpe Militar de 1964.
Sobre a preservação da memória, os moradores de Areal acreditam na importância de preservar a memória daquela data, uma vez que a cidade fez parte daquele momento político do país.
"A negligência em reconhecer o papel de Areal nos eventos de 1964 é um ataque à nossa identidade histórica. A indiferença diante da importância da nossa cidade naquele período é um desrespeito para todos nós que amamos e cuidamos da nossa história.
A história de Areal não pode ser varrida para debaixo do tapete. A omissão do nosso papel nesse momento crucial da história do Brasil é um crime contra a memória e uma afronta às futuras gerações.
Não se trata de celebrar o golpe, mas sim de lembrar e aprender com os erros do passado. A história de Areal é parte integrante da história do Brasil, e é nosso dever garantir que ela seja preservada e contada.
Demandamos que o dia 31 de março de 1964 seja sempre lembrado em nossa cidade, não somente pelas circunstâncias, mas pelo desenrolar dos fatos, as negociações, os civis fugindo da cidade, os militares cercando cada ponto do município etc. A instalação de marcos memoriais, a criação de espaços de reflexão e a promoção de iniciativas educativas são medidas para que a história de Areal seja devidamente honrada.
A sensação de que "tudo permanece inalterado, como se nada tivesse ocorrido" é uma lacuna histórica que exige reparação. A história de Areal não pode ser silenciada, afirma o historiador Miller Soares, responsável pela página Areal na História!
A Equipe de Gestão de projetos turísticos da Secretaria Municipal de Turismo da Prefeitura Municipal de Areal, está elaborando um projeto, para que se crie um memorial na cidade, próximo ao Viaduto Domingos da Veiga Soares, que foi ameaçado de implosão pelos militares no momento do Golpe, e hoje abriga a Rua da Cultura Arealense.
O Secretário de Turismo Saulo Ramos esclarece que com a criação, recentemente da Secretaria de Turismo e da Secretaria de Cultura, fica mais fácil estabelecer um diálogo com a comunidade e estabelecer esse resgate histórico, que pode vir atrair turistas para revisitar a nossa história e a do Brasil.
O Prefeito Gutinho, diz "que lembrar tal episódio é uma forma para que nunca mais se repita os horrores do período ditatorial. Hoje e sempre, devemos celebrar a democracia e os direitos da população expressos na nossa Constituição"!
Fontes: https://g1.globo.com/rj/regiao-serrana/noticia/2019/03/31/o-1964-em-areal-um-resgate-historico-que-vai-do-medo-a-interacao-dos-moradores-com-as-tropas-militares-no-rj.ghtml
Ditadura Envergonhada- Elio Gaspari
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