Comemorado no dia 11 de abril, o Dia da Escola de Samba homenageia uma das manifestações culturais mais representativas do Brasil. As escolas de samba são verdadeiras guardiãs da história, da música, da dança e das tradições populares, sendo peças-chave na formação da identidade cultural do país.
A data foi escolhida em homenagem à fundação do bloco carnavalesco Ouro sobre Azul, em 1923, no Rio de Janeiro, que mais tarde se tornaria o lendário Grêmio Recreativo Escola de Samba Portela, oficializado em 1935. A trajetória das escolas de samba começa ainda antes, com grupos que eram variações dos blocos e que, aos poucos, ganharam estrutura, nomes, siglas e representatividade.
A primeira entidade a usar o termo "escola de samba" foi, segundo relatos tradicionais, a Deixa Falar, fundada por Ismael Silva, no Estácio, em 1928. Próxima à Escola Normal, a agremiação dizia formar “professores de samba”. Contudo, pesquisadores já encontraram registros anteriores ao uso do termo, o que mostra como essa história é rica e cheia de nuances.
O primeiro concurso oficial de escolas de samba ocorreu em 7 de fevereiro de 1932, na Praça Onze, no Rio de Janeiro, promovido pelo jornal Mundo Esportivo. Participaram 19 agremiações, e pela primeira vez foram estabelecidos critérios como samba inédito, número mínimo de integrantes, proibição do uso de instrumentos de sopro e a presença obrigatória da Ala das Baianas — uma ala que, à época, era composta por homens que levavam navalhas para proteger a escola, mas que foi criada em homenagem às chamadas "tias baianas", mulheres negras que acolhiam e protegiam os sambistas quando o samba era marginalizado.
Com o passar dos anos, os desfiles foram ganhando enredos, carros alegóricos, fantasias e outros elementos que tornaram o espetáculo ainda mais grandioso. Em 1939, a Portela apresentou o primeiro enredo que ligava a narrativa à letra do samba, com o tema Teste ao Samba. A partir daí, surgiu a exigência de temas nacionais, o que acabou sendo utilizado pelos governos da época para promover ideias ufanistas e reduzir referências às raízes africanas da cultura do samba. Nos anos 1940, os enredos até ganharam um caráter didático, em uma tentativa de afastar a população de ideias consideradas “africanistas”, como apontam historiadores.
Hoje, as escolas de samba são responsáveis por espetáculos complexos e são analisadas por jurados que observam os quesitos dando notas até 10. Os quesitos julgados são: bateria, samba-enredo, harmonia, evolução, fantasia, alegorias e adereços, mestre-sala e porta-bandeira, passistas, comissão de frente, entre outros. A estrutura típica de um desfile conta com comissão de frente, carros alegóricos, casais de mestre-sala e porta-bandeira, alas, rainhas e musas, velha guarda, baianas, destaques e intérpretes que conduzem o samba no carro de som.
Vale destacar que a grande maioria usa a sigla GRES (Grêmio Recreativo Escola de Samba), mas existem outras siglas que identificam as agremiações. Até mesmo as escolas de samba mirins, como a Império do Amanhã, azul e amarelo que estreou esse ano no carnaval trirriense.
Três Rios: samba com identidade própria
No município de Três Rios, as escolas de samba também ocupam um lugar especial na cultura local. O primeiro desfile oficial aconteceu em 1972, mas muito antes disso, o bairro Caixa D'Água já vivia o ritmo contagiante do samba.
A tradicional Unidos do Caixa D’Água, escola azul e branca do bairro homônimo, foi fundada em 1º de março de 1945. No seu primeiro ano, desfilou como bloco, passando a escola de samba em 1946. Seu reconhecimento oficial veio com a Lei Municipal nº 567, de 18 de maio de 1965, que declarou a agremiação como de utilidade pública.
Atualmente, quatro escolas desfilam oficialmente no município, todas com trajetórias iniciadas como blocos:
- GRES Bom das Bocas – Verde e branco (fundada em 6/1/1963)
- GRES Bambas do Ritmo – Vermelho e branco (fundada em 13/1/1964)
- GRES Mocidade Independente de Vila Isabel – Verde, vermelho e branco (fundada em 15/11/1971)
- GRES Sonhos de Mixyricka – Azul e laranja (fundada em 12/7/1974)
Além dessas, destaca-se a GRES Independente do Triângulo (verde, vermelho e branco), fundada em 1985, que neste domingo, 13 de abril, comemora seus 40 anos de história.
Ao longo do tempo, outras agremiações também deixaram sua marca nos carnavais trirrienses, mesmo que tenham “enrolado suas bandeiras”, como se diz na linguagem carnavalesca. Entre elas:
Acadêmicos do Triângulo (verde e rosa, 1974)
Unidos de Levy Gasparian (azul, vermelho e branco, 1976)
Em Cima da Hora (verde, branco e ouro, do bairro Monte Castelo)
Bafo da Jaguatirica (amarelo e preto, da Cidade Nova)
Unidos da Ladeira das Palmeiras (verde e branco, da região da Ladeira das Palmeiras e Pátio da Estação)
Unidos da Ponte Seca (amarelo e preto, do bairro Triângulo e Ponte Seca)
Portal do Samba (vermelhe e azul, do Portão Vermelho e adjacências)
Paraíso das Garças (azul e branco, da Ponte das Garças)
Região em ritmo de retomada
Cidades vizinhas também possuem fortes vínculos com o samba. Paraíba do Sul, por exemplo, já teve dias de glória com as escolas Leões do Império e Falcão Real. Embora os desfiles oficiais ainda não tenham retornado por completo, a cidade conta hoje com a Império Sul-Paraibano (verde e amarelo), que há dois anos participa com desfiles informais.
Já em Comendador Levy Gasparian, a festa revive com a recente criação da União Gaspariense, azul e vermelha, que também desfilou este ano de forma não oficial, reacendendo o espírito carnavalesco na cidade.
O Dia da Escola de Samba é, acima de tudo, um momento de reverenciar essas agremiações que, com criatividade, resistência e paixão, constroem um dos espetáculos mais autênticos do mundo. Muito além da folia, as escolas de samba educam, preservam a memória e transformam o carnaval em um verdadeiro ato de expressão cultural.
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