Combate à Intolerância Religiosa

Ontem, 21 de janeiro, celebramos o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, quando se comemora também o Dia Mundial da Religião e do Diálogo Inter-religioso. A data, cujo objetivo é promover o respeito, a tolerância e o diálogo entre todas as diversas religiões existentes no mundo, que pregam como princípio a bondade, foi criada em dezembro de 1949, através de uma Assembleia Religiosa Nacional dos Baha’is, uma religião monoteísta fundada pelo líder Bahá’u’lláh, em meados do século XIX, na Pérsia.

A ideia é incentivar a convivência pacífica entre todas as diferentes religiões e doutrinas, evitando a intolerância religiosa. Isso porque as questões religiosas sempre foram motivo para as piores guerras e conflitos que a humanidade já presenciou. Recordemos, a título de exemplos, a persistente guerra entre Israel e Ramas, a recente violência contra a Igreja Católica e as religiões dos afrodescendentes por evangélicos na favela ....

Assim, podemos discernir a importância, nesta mesma data, do Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, como um reforço ao objetivo proposto pelo Dia Mundial da Religião. Esse dia foi instituído pela Lei nº 11.635, de 27 de dezembro de 2007. A data rememora o dia do falecimento da Iyalorixá Mãe Gilda, do terreiro Axé Abassá de Ogum (BA), vítima de intolerância por ser praticante de religião de matriz africana, no dia 21 de janeiro de 2000.

Recordemos que anos atrás, o bispo da diocese de Barra do Piraí-Volta Redonda (RJ) e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para o Ecumenismo e o Diálogo Inter-Religioso da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Francisco Biasin, defendeu que para alcançar uma convivência mais fraterna entre as religiões é necessário antes de tudo desvincular o conhecimento de um outro caminho de fé de qualquer influência ideológica e política.

Para ele, um caminho de fé pressupõe uma sincera busca de Deus ou do Transcendente que nasce da consciência do ser humano e a partir daí o leva a construir relacionamentos com a natureza e com os outros seres humanos que harmonizem com tal busca. E isso em sintonia com o Papa Francisco: “A Palavra de Deus, a graça do Espírito Santo não é ideologia, é vida, faz crescer sempre, avançar, e também abrir o coração aos sinais do Espírito, aos sinais dos tempos”. “Não pode ser chamada religião a que justifica a eliminação e a morte de outros seres humanos”.

Nessa mesma perspectiva, reforça Dom Zanoni Demettino Castro, Bispo de Feira de Santana: “Nosso país tem uma tradição de cultura cristã, mas somos um país laico, isso não quer dizer que podemos desrespeitar as culturas religiosas, mas que precisamos garantir não seja um espaço para impor um modo único, uma maneira isolada de um grupo, de uma manifestação religiosa, ou de uma Igreja. E que não se utilize de maneira distorcida os princípios cristãos, da família, da solidariedade, do respeito. (...) A vontade de Deus não passa pela corrupção, pela mentira, pelo desrespeito às pessoas, pela intransigência, mas pelo diálogo, pela fraternidade, pela construção de um mundo de paz”.

A manipulação, a utilização da fé cristã como respaldo para posturas conservadoras, políticas que defendem a ditadura ou realidades não democráticas, é uma grande preocupação. Isso não tem nada a ver com o cristianismo, o cristianismo passa pela defesa das pessoas, pela liberdade. Quando se tem presente o Cântico de Maria: “O Senhor eleva os humildes e derruba dos tronos os poderosos” (Lc 1, 46-56), percebemos que o que fazem não parece, de forma alguma, com o cristianismo, uma vez que negam a defesa dos direitos humanos, apontam para o caminho do desrespeito aos pobres, negam a diversidade e a participação autêntica das pessoas.

Por tudo isso, é necessário conhecer a religião do outro e colher aqueles pontos de convergência com o nosso caminho de fé que nos permita dialogar e, quando é possível, trabalhar juntos para construir a paz, para defender as pessoas de qualquer forma de injustiça, para o respeito e o cuidado com a casa comum. Isso implica para nós, que nos revistamos de uma atitude de profunda humildade. Os fiéis de outras Igrejas são irmãos e irmãs no Senhor e os membros de outras religiões são companheiros de caminhada na estrada da vida e da história humana.

Medoro, irmão menor-padre pecador

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