Dia da Escola de Samba: agremiações carnavalescas trirrienses ainda resistem

 Cinco entidades sobrevivem com suas programações, contam com apoio do poder público, mas ainda encontram dificuldade para manter atividades importantes

Neste 11 de abril comemora-se o Dia da Escola de Samba. A data faz referência à criação, pelo sambista Paulo Benjamin de Oliveira (o Paulo da Portela), de um bloco de carnaval (marcha-rancho) que se chamou 'Ouro sobre Azul', depois passou a ser conhecido como 'Conjunto Oswaldo Cruz', mudou o nome para 'Quem nos Faz é o Capricho', 'Vai Como Pode' e, finalmente Portela, por sugestão de um delegado de polícia, por ocasião da renovação da licença da agremiação Vai Como Pode.


Segundo registros da própria Portela, Dona Esther Rodrigues, mentora de um dos prenúncios da tradicional escola de samba, o bloco 'Quem Fala de Nós Come Mosca', composto por crianças, foi até o delegado renovar a licença da agremiação Vai como Pode. O delegado se recusou a renovar, alegando que aquele não era um nome digno para uma escola de samba, dada a influência da coirmã Deixa Falar, do bairro do Estácio, o que fez algumas agremiações aderirem ao prefixo Escola de Samba, desfilando com mais organização e características próprias. Como os sambistas e animados foliões da época se reuniam na estrada do Portela, o nome serviu de inspiração e foi utilizado para a que seria uma das maiores e mais tradicionais escolas de samba do carnaval carioca.


 Tradição na cidade desde a década de 1940



Essa tradição das entidades carnavalescas denominadas escolas de samba ganhou mais adesões por outros lugares. O que não foi diferente em Três Rios, com a fundação do bloco Unidos da Caixa D´água, em 1º de março de 1945, mas que em 1946 passou a ser escola de samba com as cores azul e branco. A escola foi reconhecida de Utilidade Pública Municipal pela Lei nº 567 de 18 de maio de 1965.

Entre ranchos e blocos nasceram duas das mais tradicionais escolas de samba da cidade. Em 6 de janeiro de 1963, ainda como bloco, o Bom das Bocas. E, no ano seguinte, em 13 de janeiro de 1964, o bloco Bambas do Ritmo. As duas agremiações se tornaram escolas de samba no mesmo ano, em 1972, quando estrearam nessa categoria com memoráveis desfiles, sagrando-se o Bom das Bocas campeão.


No início da década de 1970, um grupo animado já batucava pelas ruas da Vila Isabel, o maior bairro da cidade. Esse grupo, fundou, em 15 de novembro de 1971, a escola de samba Mocidade Independente de Vila Isabel, que desfilou pela primeira vez, sob forte temporal, na Avenida Condessa do Rio Novo, sagrando-se campeã logo na estreia.


Anos depois o carnaval trirriense ganhou mais agremiações carnavalescas, nesse caso, das que desfilam atualmente, em 1974, o bloco Sonhos de Mixyricka, que desfilou como bloco até 1988, quando foi campeão e, por força do regulamento, junto a mais dois blocos (Bafo da Jaguatirica e Em Cima da Hora), passaram a se apresentar como escolas de samba em 1989.

No mesmo regulamento, o bloco Independente do Triângulo, fundado em 13 de abril de 1985, desfilou pela primeira vez em 1986 e, como bloco, seguiu sua trajetória até 1989, quando foi campeão da categoria e se tornou escola de samba no ano seguinte. Porém, como não houve desfile oficial em 1990, o Triângulo fez sua estreia vitoriosa em 1991.

 

Dificuldades não tiraram a tradição e o brilho

Durante todo esse tempo, o carnaval trirriense se fortaleceu, mesmo diante da falta de apoio e total marasmo que enfrentou no final da década de 1990, até que no início dos anos 2000, o então prefeito Celso Jacob, ligado à festa e ex-presidente de escola de samba, resolveu reforçar o apoio do poder público para o desfile das escolas de samba, que retornou oficialmente em 2002, na Avenida Condessa do Rio Novo, com quatro agremiações e sem o Bom das Bocas, que retornou no ano seguinte, em 2003.

Desde então, as escolas de samba passaram a ter o total apoio da Prefeitura para a realização dos desfiles, alcançando grande força na gestão do prefeito Vinícius Farah, outro desfilante e apaixonado pelo carnaval. Mesmo com dificuldades, na gestão do prefeito Josimar Salles, o brilho não foi menor. Muito menos a pandemia da covid-19, com a paralisação do carnaval por dois anos (2021 e 2022), fez com que o brilho da festa se apagasse.

Na atual gestão do prefeito Joa, outro desfilante e apaixonado pelo carnaval, a subvenção teve considerável aumento e a mudança no dia do desfile, que tradicionalmente acontecia no domingo, mas que foi para a terça-feira, não fosse a chuva forte que caiu sobre a cidade, que fez a Prefeitura adiar o desfile para o domingo seguinte. Inicialmente previsto para a terça-feira, 13 de fevereiro, o desfile foi ser realizado no domingo, 18 de fevereiro com grande presença do público, reforçando a tradição das escolas de samba da cidade.

Em área central e, segundo muitos entendidos, local ideal para os desfiles, a Avenida Condessa do Rio Novo, é palco dos desfiles desde 2002. Vale lembrar que as escolas de samba viveram um período áureo na Avenida Alberto Lavinas (a Beira-Rio) de 1975 a 1994, retornando à Condessa do Rio Novo em 1991.

Barracões ainda são problema


Hoje, um grande problema enfrentado pelas escolas de samba diz respeito ao local para confecção dos carros alegóricos e fantasias.

O galpão que no passado foi de uma fábrica de talco, no bairro do Triângulo, passou a abrigar as escolas de samba Bom das Bocas e Sonhos de Mixyricka. Mocidade e Bambas ocuparam outros galpões por conta própria. O Independente do Triângulo passou a usar uma parte de sua sede para fazer suas alegorias, o que não impediu o susto em agosto de 2022 com um incêndio que destruiu diversos materiais da agremiação.

O espaço no Triângulo levou mais tranquilidade à escola de samba Bom das Bocas (campeã de 2024), que antes foi obrigada a guardar alegorias no entorno de sua sede, quando sofreu com furtos e vandalismo que causaram grande prejuízo à agremiação em abril e outubro de 2021.

Recentemente a escola de samba Bambas do Ritmo passou a enfrentar o problema de não ter espaço para guardar suas alegorias e fantasias, como relatou o presidente Fabiano Pacheco. O galpão particular precisaria ser desocupado pela agremiação, causando grande transtorno e complicada logística.

Mesmo problema enfrenta a Mocidade da Vila que está com suas alegorias estacionadas ao tempo sob sol e chuva no galpão da antiga fábrica de talco, correndo risco de incêndio e sendo depredadas aos poucos.

A Prefeitura já havia acenado com a construção de um local para abrigar as cinco agremiações. O mesmo galpão, no Triângulo, seria a tão sonhada Cidade do Samba trirriense, nos moldes,claro, do que é o carnaval da cidade. Mas, o sonho ainda não se concretizou e a questão preocupa os dirigentes das agremiações que ainda não resolveram o problema que causa prejuízo com as esculturas no tempo, perda de material e depredação do local, que fica aberto e no momento tem muito mato ao redor, causando preocupação aos moradores pelo fato dos carros serem focos em potencial do mosquito aedes aedes aegypti, transmissor da dengue, zika e chikungunya.

Em setembro do ano passado, o próprio galpão que abriga três agremiações teve um princípio de incêndio em uma área de vegetação próxima que por pouco não atingiu as alegorias guardadas.

A resistência e luta das escolas de samba da cidade, importantes fomentadoras da cultura local e regional, ainda são fortes entre seus abnegados dirigentes e componentes.

A data de hoje serve para uma reflexão importante quanto ao fortalecimento dessas entidades que agregam culturas das mais diversas, promovendo arte, dança, atividades recreativas, ações sociais importantes para suas comunidades e, acima de tudo o samba que as alicerçou durante todo esse tempo.

A escola de samba é, indiscutivelmente, uma fonte inesgotável de cultura.

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