Dom Nélson: Quaresma e Romaria a Aparecida

A Diocese de Valença celebrou mais uma Romaria a Aparecida no dia 02 de março, último sábado. Éramos aproximadamente uns dois mil romeiros na Casa da Mãe Maria, a Senhora de Aparecida. Um momento forte de comunhão eclesial celebrando o Ano da Oração em preparação ao grande Jubileu da nossa Igreja Católica Apostólica Romana e do Centenário de nossa diocese e da fé cristã e Três Rios. Na ocasião fomos agraciados com a rica homilia de nosso bispo, Dom Nélson Francelino Ferreira, que transcrevemos integralmente a seguir:

Amados irmãos(as) presentes nesse Santuário e todos os que nos acompanham pelos meios de comunicação, saudamos nosso irmão Dom Orlando e os Redentoristas que cuidam desse Santuário com muito zelo.

Aqui, na casa da Mãe, nos sentimos em casa: seja o peregrino devoto:

- o jovem em busca do sentido da vida, trazendo as marcas de sua aventura,

- a mãe que traz as suas lágrimas preciosas e suas orações pelos seus filhos,

-o homem ferido na sua dignidade pela falta de trabalho ou de saúde, convivendo com a injustiça e o abandono,

- o doente que traz consigo as incertezas do seu tratamento;

- o apreciador da beleza da criação, amaçada pela cobiça e pela cultura da exploração,

- o religioso ou leigo que procura refrigério para a alma,

- o visitante ocasional,

- enfim, todos os que se encontram aqui em casa, acolhido pelo olhar materno de Maria na Imagem Aparecida.

- Estar na casa da Mãe ajuda-nos a olhar para o futuro com confiança; a sua proteção encoraja-nos a não desanimar, por mais difícil que seja a luta, mas a enfrentar os novos desafios com grandeza de espírito.

O Evangelho de hoje nos apresentando a Parábola da Misericórdia (Lc15), revela-nos o rosto do Pai bom, disposto a perdoar, a acolher e a fazer festa com os filhos, que reconhecem o seu pecado. A Parábola nos apresenta um filho que decide organizar a sua vida segundo os seus projetos, rejeitando os do pai. Por isso, exige do pai a parte de sua herança. Tendo obtido o que pediu, parte e esbanja tudo quanto possuía numa vida desregrada. Este filho perde os bens, mas perde, sobretudo, a si mesmo. Humilhado ao extremo, decide, então, regressar à casa paterna e recomeçar uma vida nova. O pai esperava-o (v. 20), porque nunca tinha deixado o seu coração afastar-se daquele filho. Recebe-o comovido e de braços abertos, restituindo-lhe a dignidade perdida (22-24).

Com esta parábola, Jesus revela o modo de agir do Pai, em relação aos pecadores que se aproximam e dão sinais de arrependimento. Mas os fariseus e os escribas, ditos religiosos do tempo de Jesus (Estes se multiplicam em nossos dias atuais, com uma religiosidade contaminada com o verniz da ortodoxia hipócrita; chegam a julgar o Magistério da Igreja, se achando até melhores do que Jesus Cristo), recusam-se a participar da festa do perdão; atitude simbolizada nas atitudes do filho mais velho (v. 29), que, sempre bem comportado, se vê no direito de julgar e condenar as atitudes do pai e do irmão. O pai não desiste de nenhum dos seus filhos, expondo-se a todo tipo de interpretação e julgamento. Por isso, sai uma e duas vezes de casa, revelando aos dois filhos um amor que sabe esperar, procurar, respeitar e exortar, porque a todos quer abraçar e reunir na sua morada.

Diante dessa parábola, talvez seja relativamente fácil ver-nos no filho pródigo. Pode ser mais difícil dar-nos conta de que, na verdade, pensamos e agimos, muitas vezes, como o filho mais velho, que contabiliza o que dá ao Pai e o que não recebe d'Ele, tal como contabiliza o que irmão mais novo recebeu, sem dar nada em troca, chegando até ofender o Pai...

Com essa parábola, o Senhor quer fazer-nos compreender que, para quem é fiel a Deus, está reservada uma recompensa ainda maior: não a alegria de receber, mas a alegria de dar.E esta é, por excelência, a mensagem da Parábola da Misericórdia. Mais do que “Parábola do filho pródigo", deve ser chamada a “Parábola do Pai misericordioso”, que nos emociona com a grandeza do seu coração.

Amparado pela mensagem do Evangelho e inspirados pela Campanha da Fraternidade 2024, queremos aprender com a atitude do Pai a abrir o coração à todos os irmãos, aos pródigos ou aos pretensos justos, a vermos e respeitarmos a todos, a partir do ponto de vista manifestado pelo Pai da parábola, que não é a da justiça fria e cega, mas, a misericórdia.

Com esse gesto, assumindo o compromisso de ampliar, assim, o conceito de amizade social, comprometendo-nos em extirpar de nós esse "fermento farisaico" de nós mesmos, recorrendo ao sacramento da reconciliação, eliminando todas as tendências que nos outorga o direito de julgar e condenar, agredir e excluir o irmão que não tenha se adequado aos nossos esquemas de bondade, pureza e justiça.

Caríssimos, há uma grande alegria no coração de Deus, quando um dos Seus filhos regressa a Ele, porque trata-se de um irmão que estava morto e volta à vida, estava perdido e foi encontrado"

Que essa Romaria onde derramamos nossas dores e vergonhas no colo da Mãe Aparecida nesse caminho quaresmal, nos ajude a voltar para nossos trabalhos pastorais em nossas paróquias com atitudes de acolhida e cuidado para com os irmãos fragilizados pelos seus pecados. Essa atitude, sem sombras de dúvidas, nos fará não protagonista de julgamentos e exclusões, mas nesses tempos difíceis, nos farão profetas da esperança nesse duplo jubileu do ano de 2025:

- Jubileu ordinário de nossa Salvação

- Jubileu do I Centenário de criação de nossa Igreja Particular de Valença. 


"Com amor divino guarda os peregrinos nessa caminhada para o além. Dá-lhes companhia, pois também um dia foste peregrina em Belém..."

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