
Eu tinha onze anos, lembro-me bem.
Das cinquentas órfãs internas, mais da metade já havia ido para casa, de férias. Desde a manhã meu coração parecia bater na boca, só em pensar que iria passar uns vinte dias com minha mãe , Dona Filhinha – enfermeira, parteira. Que importava fosse ficar num hospital onde ela morava e trabalhava?!
Já eram quase duas horas da tarde de vinte e seis de dezembro, quando a menina do parlatório, subindo pela escadaria que dava acesso à sala de bordados, entrou esbaforida pela porta de duas bandas e me entregou um embrulho.
Trêmula, ali mesmo desfiz o amarrado de barbante e o vestido escorregou pelas minhas mãos até que consegui encostá-lo à minha frente, segurando-o pelos ombros e procurando me ver no vidro da enorme janela daquela sala.
A blusa rosa, com tiras marrons imitando suspensórios, mangas fofas com elástico. A gola redonda abotoava atrás.
Corri ao dormintório, tirei o uniforme, peguei minha melhor combinação, vesti-a, desabotoei as costas do vestido, ergui-o no alto e ele desceu, geladinho, pelo meu corpo inquieto. Ajeitei a franja do cabelo, peguei minha maleta e disparei orfanato abaixo.
Em instantes eu estava lá embaixo, na portaria. Com o coração crescendo dentro do peito.
Ainda hoje ouço, em minha lembrança, a voz suave e pausada de minha mãe, ao ver-me radiante, iluminada pela alegria:
-Ficou lindo em você!
Por Izabel Daud
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