Que Monza seremos nós?

Passava um carro, talvez fosse um Monza, certamente não era um Chevete, que pouco despertou a atenção dos amigos que dividiam a mesa do Marcelo comigo.

Curioso, deu para perceber num relance que era um professor que deu aulas para os meus filhos. Sou tão grato a ele por nos conceder dois advogados, uma fisioterapeuta e um concursado da Caixa, que o reconheceria por gratidão mesmo que seus vidros estivessem enfumêcidos.

Logo a seguir, aí sim, todos se viraram para admirar uma Mitsubish Pajero de última geração, que desfilava diante de olhares boquiabertos.

"Que lindo!". "Parabéns!". Esse foi o rastro, o eco sobre a passagem de um desconhecido aclamado o vencedor naquela noite.

Era admiração, não gratidão. Pouco importa, venceu!

A partir daí não teve como não reconhecer o abismo social a que foram atirados nossos mestres. Exaltados por séculos por seguir sua vocação, independente da baixa remuneração que foi sustentada pelos dogmas da tal vocação, hoje não passam de seres em extinção.

Quem quer ser professor?

Que motivos ainda conduzem ao magistério jovens que precisam comprar ingressos para o Rock in Rio? Que juventude é essa que vai passar toda a sua formação namorando aquela bolsa Shutz sabendo que jamais a terá a tiracolo?

Foi se o tempo em que nossos Delfinos, Adautos, Armandos, Taninhas e Hermelinos levavam os filhos para comer as coxinhas do Telminho, doce de leite do seu Antonio e levá-los para dançar no Roller Dance. A excursão mais longa e animada não passava de Paraiba do Sul.

Dava pro gasto e ainda sobrava para a pipoca do seu Toninho. E agora?

Afinal, quem vai pilotar os Monzas de amanhã e ensinar a cartilha para os condutores das novas e portentosas SUVs?

Por José Roberto Padilha 

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