Paixão de Cristo, paixão da vida

Avançamos na quaresma com os exercícios da oração, penitência e caridade em preparação à celebração da Páscoa do Senhor, iluminados pela Campanha da Fraternidade.

Esse ano, pela terceira vez, com o tema Fraternidade e fome e o lema “Dai-lhes vós mesmos de comer!”(Jo14,16).

A conjuntura desde a pandemia está marcada pelos cruéis desemprego e empobrecimento, o que fez ser prioridade da caridade a garantia da segurança alimentar. A fome não pode esperar.

E a comunidade trirriense abraçou essa missão de forma generosa, a ponto de socorrer solidariamente, através da Paróquia de São José Operário – e isso sem falar de outras instituições -, a quase 900 famílias com uma cesta básica por mês.

Cristãos, cidadãos e empresários de mãos dadas frente à paixão de Cristo que se prolonga na paixão do mundo.

A luta por garantir o pão de cada dia continua. Todavia, estamos frente a outro e maior desafio, que implica num urgente e indeclinável compromisso do poder público, da sociedade e dos cristãos: o crescimento da violência e dos assassinatos, sobretudo de jovens, em nossa cidade e região. 

A droga é, sem dúvida, uma das grandes causas. Mas existe uma causa sócio-cultural mais ampla e profunda que é a relativização da vida humana.

A vida é desgraçadamente tratada como um lixo descartável. Mata-se por qualquer motivo que seja contrário aos interesses que do homicida.

Convivemos nos últimos dias com o assassinato de dois jovens pacíficos da cultura do amor, da afetividade e da paz. E isso “coroado” com as notícias televisivas do último final de semana, especialmente do “Machosfera”, que é o movimento machista das redes sociais que virou caso de polícia.

Essa “calamidade” que exige, além das metidas punitivas, medidas preventivas e protetivas, é missão prioritária, urgente, imediata, indeclinável das famílias, das escolas, dos meios de comunicação e das Igrejas.

Exige educação para a vida e a vida comum! E quero, na minha condição pastoral, destacar o dever ético moral de toda ação evangelizadora.

Somos discípulos de Jesus Cristo que com sua pregação, seus milagres e, sobretudo, com sua morte na cruz, declarou a pessoa humana o absoluto de Deus. Absoluto é aquele por quem você é capaz de morrer.

Por todos os seres humanos Jesus deu a sua vida. Aliás, foi essa a sua identidade: “Eu vim para que todos tenham vida e vida em abundância” (Jo 10,10). E fez dessa a sua missão e da Igreja, como declarou na sua despedida dos apóstolos, ao término do “lava-pés” da última ceia:“Dei-vos o exemplo para que façais o mesmo” (Jo 13,15).

Isso implica, é claro, na transmissão dos valores indeclináveis às novas gerações que tem os “princípios de berço” negados, contestados, pela pseudocultura atual que, a cada dia mais, destrói a hierarquia de valores, por uma “dança” de valores, em que é considerado valor apenas aquilo que é segundo os meus próprios interesses.

E nesse contexto, as crianças tem os valores contestados, rejeitados, quando saem de casa, juntos aos colegas de sua convivência e outros, ou mesmo no isolamento de seu quarto através das novas mídias, sobretudo, do uso solitário e indevido dos celulares.

A consequência cruel é, como afirmamos reiteradamente, a perda da paixão pela vida dos demais e até mesmo pela própria vida. Desgraçadamente homicídios e suicídios se abraçam. Possa esse tempo quaresmal fazer-nos apaixonados pela vida! Paixão de Cristo, paixão da vida!

Medoro, irmão menor-padre pecador

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