“Penitência que me agrada é livrar o oprimidodas algemas da injustiça.
Abrigar o desvalido. Repartir comida e roupa com o faminto e maltrapilho”. (Trecho de música do cancioneiro católico)
A Igreja vê a importância de refletir sobrea fome como tema na quaresma, pois como um tempo favorável para a conversão, aborda essa temática na perspectiva da conversão pessoal e coletiva, pois a fétem uma dimensão social.E a fome é, sem dúvida alguma, uma realidade que interpela a todos nós, diariamente, no nosso cotidiano.
Nós, que estamos aqui na Paróquia São José Operário, no Triângulo, na cidade de Três Rios, nos nossos diversos projetos sociais nos deparamos com essa realidade e percebemos a necessidade de intervirmos em todos os aspectos para a superação da fome entre nós.
A Campanha da Fraternidade vai nos apresentar o tema em três momentos. Primeiro é o Ver a realidade, é entender aquilo que são causas que fazem com que a realidade da fome esteja entre nós e as suas consequências que percorrem os momentos das vidas de diversas pessoas em nossas comunidades.
A concentração de renda que gera essa desigualdade social é, com certeza, uma das principais causas da realidade da fome entre nós.
O segundo é o momento de iluminar a nossa realidade com o Evangelho e também com os diversos documentos da Igreja que nos ajuda a refletir toda essa realidade, e, ao mesmo tempo, ajudar a rezarmos nesse momento de recolhimento quaresmal e alimentar o nosso ânimo profético para construirmos ações que a nossa responsabilidade de cristãos nos impõe.
E o terceiro momento é o da ação. E ela exige de nós o entendimento de que há vários níveis de ações, que uma não contrapõe a outra e sim que são fundamentais para a sua superação. A primeira é de nível imediato.
Gilberto Simplício - Sociólogo
A Campanha da Fraternidade vai nos apresentar o tema em três momentos. Primeiro é o Ver a realidade, é entender aquilo que são causas que fazem com que a realidade da fome esteja entre nós e as suas consequências que percorrem os momentos das vidas de diversas pessoas em nossas comunidades.
É fundamental conhecer os mecanismos que fazem com que a fome exista para que possamos denunciar profeticamente essa situação.
Não podemos naturalizar essa realidade como diz o Papa Francisco: “Produzimos comida suficiente para todas as pessoas, mas muitas ficam sem o pão de cada dia. Isso ‘constitui um verdadeiro escândalo’, um crime que viola direitos humanos básicos.
Portanto, é um dever de todos extirpar esta injustiça através de ações concretas e boas práticas, e através de políticas locais e internacionais ousadas.”
A concentração de renda que gera essa desigualdade social é, com certeza, uma das principais causas da realidade da fome entre nós.
A Igreja vem denunciando essa realidade há muito tempo através de discursos e documentos que fazem parte do Ensino Social da Igreja. O Papa Pio XI em 1931 na Encíclica Quadragéssimo Anno nº 167 já dizia:
“Deve-se procurar que a repartição dos bens criados seja pautada pelas normas do bem comum e da justiça social, Hoje, porém, à vista do clamoroso contraste entre pequeno número dos ultra ricos e a multidão inumerável dos pobres, não há homem prudente que não reconheça os gravíssimos inconvenientes da atual repartição da riqueza”.
Já Papa João Paulo II, em sua carta pelo dia Mundial da Paz,em 1993 dizia: “A disparidade entre ricos e pobres tornou-se mais evidente, mesmo nas nações economicamente mais desenvolvidas. Trata-se de um problema que se impõe à consciência da humanidade, visto que as condições em que se encontra um grande número de pessoas são tais que ofendem a sua dignidade natural e, consequentemente, comprometem o autêntico e harmónico progresso da comunidade mundial”, reafirmando a sua famosa frase no início de 1980, na Cidade do México: “Ricos cada vez mais ricos às custas de pobres cada vez mais pobres”.
Entender essas causas é essencial para todos nós, ainda mais no Brasil em que 1% dos mais ricos retêm maior renda que a metade da população, o que traz o nosso país a triste marca de um dos mais desiguais do mundo.
O segundo é o momento de iluminar a nossa realidade com o Evangelho e também com os diversos documentos da Igreja que nos ajuda a refletir toda essa realidade, e, ao mesmo tempo, ajudar a rezarmos nesse momento de recolhimento quaresmal e alimentar o nosso ânimo profético para construirmos ações que a nossa responsabilidade de cristãos nos impõe.
A escolha do versículo Mt 14,16 nos dá essa responsabilidade, “Dai-lhes vós mesmos de comer”. Jesus quando dá essa responsabilidade aos discípulos, transfere para todos nós esse compromisso. É um compromisso de todos. De cada cristão, das Igrejas e de toda sociedade.
E o terceiro momento é o da ação. E ela exige de nós o entendimento de que há vários níveis de ações, que uma não contrapõe a outra e sim que são fundamentais para a sua superação. A primeira é de nível imediato.
“A fome tem pressa, não pode esperar”. Temos que dar assistência imediata a quem está em estado de vulnerabilidade social e que a fome é uma das suas consequências. Para isso, contamos com a solidariedade de todos, que se unem em campanhas para ajudar os que mais necessitam. É muito importante o papel de Pastorais, movimentos e da Comunidades organizadas para chegarmos em quem realmente precisa. Aqui, temos que destacar, sem dúvida nenhuma, as Conferências Vicentinas.
O segundo nível é o da dignidade humana, ou seja, ajudar na formação e no crescimento humano, para que as pessoas através do seu próprio trabalho se libertem dessa situação em que se encontra.
Neste ponto, entram os diversos projetos sociais que ajudam a qualificar as pessoas para o trabalho e para que busquem soluções individuais ou em grupos.
E a o nível político, que é a luta por mudanças estruturais, onde possamos diminuir cada vez mais essa concentração de renda, gerador das desigualdades.
Construindo políticas públicas de emprego, de assistências, de segurança alimentar entre outras que favoreçam cada vez mais essa população que vivem em situação de vulnerabilidade social.
Na certeza que possamos fazer nessa quaresma, através da Campanha da Fraternidade, um encontro mais concreto com a pessoa de Jesus Cristo.
Quero terminar esse artigo com umas falas do nosso Papa Francisco em que diz: “Jesus não só está do lado dos pobres, mas também partilha com eles a mesma sorte”, e que “um gesto de beneficência pressupõe um benfeitor e um beneficiado, enquanto a partilha gera fraternidade. A esmola é ocasional, ao passo que a partilha é duradoura.
A primeira corre o risco de gratificar quem a dá e humilhar quem a recebe, enquanto a segunda reforça a solidariedade e cria as premissas necessárias para se alcançar a justiça”.
E por fim “os crentes, quando querem ver Jesus em pessoa e tocá-Lo com a mão, sabem aonde dirigir-se: os pobres são sacramento de Cristo, representam a sua pessoa e apontam para Ele”.
Gilberto Simplício - Sociólogo
Medoro, irmão menor-padre pecador
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