2ª Parte
Já em casa, depois de guardar no armário as compras, descalçar os sapatos e afrouxar a roupa no corpo, pego uma cadeira velha e vou sentar-me no gramado do campo, de frente para a trepadeira cheinha de folhas e cachos de flores vermelhas - que há algum tempo venho matutando como podar-lhe uns galhos sem, no entanto, magoar nem espantar uma bonita rolinha que ali fez seu ninho.
Dias atrás, sem perceber vai-e-vem de rolinha nenhuma, quando dei pela coisa o ninho já estava prontinho. Uma obra de arte. E dentro dele a artista: uma silenciosa rolinha com aqueles olhinhos pretos paradinhos...
Várias vezes eu ficava ali perto, de propósito, parada, observando. Consciente de sua nobre missão, nem de posição ela trocava. Dei-lhe um tempo de paz; minha presença, ainda que discreta, poderia estar a incomodá-la.
Uma bela manhã, ao molhar as plantas, ergo os olhos. Maravilha! Os dois filhotinhos, desajeitados, já até comendo no bico da mãe. Chamo meu filho, a filha, a ajudante da casa – todos precisam saber da novidade! Já sabiam.
- Como já sabiam? E por que não me contaram?
Subo na beirada do pequeno muro, pra ficar mais alta e ver de perto o ninho. Os filhotinhos se esticam, se esforçam para pegar no bico da mãe o alimento. Nesse estica-espicha chego a pensar que o ninho ficou pequeno pra tanta gente... Mas tudo está de acordo, nada falta, nada sobra.
O tempo vai passando. Vem o sol, vêm os ventos, as chuvas mais fortes. Nada abala a pequenina fortaleza. Me pergunto, admirando-os: quanto tempo permanecerão aqui no ninho? Como será, quando acontecerá o primeiro voo? Mais crescidinhos agora, mais assanhados, já quase não ficam sob as asas da mãe. Reparo no acimentado, embaixo, na direção do ninho: algumas manchinhas brancas e esverdeadas, meio pretas talvez, de sujo de passarinho – e que só saem com água e vassoura.
Mas, nem tudo é só felicidade no pequeno ninho... Não fosse a mãerolinha, esperta que só ela, e os dois pimpolhos já eram! Semana que vem eu conto.
(Continua na próxima semana)
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