O Extraterrestre



Era uma vez um extraterrestre. Ele nasceu entre nós, em Três Corações, Minas Gerais, em uma família humilde. O pai era jogador de futebol e sua mãe dona de casa.

Desde cedo, já apelidado pelos amiguinhos de Etlé, ele percebeu que não era desse mundo. Não voava, como Super-homem, nem subia as paredes, como Homem-aranha. Porém, tinha uma força, impulsão e velocidade superiores a dos humanos.

Todos eram jogadores de futebol e ele já nasceu atleta. As máquinas Apolo e Nautilus foram inventada nos anos 70. E nos anos 50, parecia ter uma em casa tal a sua musculatura.

Mesmo enfrentando adversários da mesma idade, parecia jogar em meio às crianças. Eles batiam em sei corpo e caíam. E contra as crianças você não joga, se diverte, se impõe. E era o que ele fazia por todos os gramados que pisava.

Tais aberrações foram chamando tanta atenção que poderiam descobrir que não era daqui. Precisava ser um ser humano comum, carregado de imperfeições para disfarçar. E passou, fora de campo, a ser um de nós. E assim surgiu o lado B de sua história, conhecida como Étson.

A cada obra de arte com a bola, Étson pisaria nela do lado de fora.

E assim que chegou do México, tricampeão e levado pela corrente pra frente, se calou diante da opressão e tortura que levavam nosso país para trás. Poderia ser mais que o Sócrates, comandar a luta pela Anistia, as Diretas Já, mas poderiam desconfiar daquele que além de jogar como ninguém, se mostraria igualmente um líder popular.

Etlé gostaria de ser um pai do tamanho do seu futebol, mas o Étson precisava ser um terráqueo, com seu egoísmo nato, e tratou de renegar uma de suas filhas. Como desconfiariam daquele que nem ao seu velório compareceu?

Não foi fácil a passagem de Edson Arantes do Nascimento entre nós. Uma vida disfarcando seus super poderes com poderes nada nobres que carregamos. Como Clark Kent, nem pode levar Louis Lane pra cama.

Seria uma covardia.

E assim, ambos, Etlé e Étson, nos deixaram aos 82 anos. Um fato, comum aos dois, permaneceu como reflexão a todos nós, que vivemos entre os desígnios dos céus e os prazeres da terra : foram enterrados com o mesmo terno. E nenhum deles escolheu o modelo e a cor.

Poderia ser de Ouro. E brilhar. Como poderia ser de lata, e ofuscar. Melhor guardar na memória as maravilhas de um e esquecer as decepções do outro.

Daqui pra frente, podemos até não chutar com os dois pés, marcarmos 1.283 gols, cabecear de olhos abertos a 1.80 m, mas precisamos ter um coração melhor. Assim na terra, como no céu.


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