Bom das Bocas comemora 60 anos de tradição e samba

Grande força do carnaval de Três Rios, escola terá missa e festividades hoje com apresentação de folia de reis e seus segmentos; amanhã (7), tem show da Beija-Flor


Foto: Jonair de Christo

Foto: Reprodução/ arte digital de ilustrador e designer gráfico Pablo Mendonça


Uma das mais tradicionais escolas de samba do interior fluminense e grande força do carnaval trirriense, o GRES Bom das Bocas comemora nesta sexta-feira, 6 de janeiro, 60 anos de fundação.

Com as cores verde e branco, a escola do bairro Caixa D´água notabilizou-se por memoráveis desfiles nas passarelas das avenidas Condessa do Rio Novo – em épocas distintas – e na Beira-Rio, atual Prefeito Alberto Lavinas.

Ao todo, como escola de samba, desde seu primeiro desfile nessa categoria, em 1972, a agremiação tem 15 títulos conquistados. O último, em 2018, quando desfilou com o enredo “Tesouros de um Rei chamado Chico”.

Em 2019 e 2020 a escola obteve o terceiro lugar. Em 2021 e 2022, os desfiles e o carnaval foram cancelados em Três Rios devido à pandemia da covid-19.

A partir da boca do pontilhão, muitas histórias

Integrantes da agremiação recebem o troféu de campeão do desfile de estreia como escola de samba, em 1972

Grandes baluartes tiveram sua contribuição para a história dessa escola de samba que nasceu como bloco de empolgação formado só por homens em 1963, pouco tempo depois se tornando bloco de enredo desfilando como tal até 1971, mostrou sua força e as raízes que fortaleceram sua trajetória.

Humberto Duarte Pereira, o Bina Fuzil, fundador da escola (Reprodução de vídeo)

A antiga quadra, terreno da família do fundador Humberto Duarte, o Bina Fuzil, viveu gloriosos momentos, quando ficava lotada nos ensaios pré-carnavalescos e a rua 8 de maio, além das vias adjacentes, ficavam engarrafadas com dezenas de veículos estacionados, ocupando até a Rua do Quincão, próxima à entrada do pontilhão sob a linha férrea, que dá acesso ao bairro onde abnegados sambistas mantiveram a escola com grande dificuldade, mas com muito amor.

Dentre esses baluartes, podemos citar o saudoso Ivan Cerqueira, que presidiu a escola e era um apaixonado pelo pavilhão boquense. Hoje, a nova sede leva o seu nome.

Na avenida, vozes marcantes defenderam os sambas de enredo que fizeram história e até hoje são cantados.

Entre esses nomes, podemos citar os saudosos Tiãozinho Gogó de Ouro, Mosquito, Reginaldo do Salgueiro; isso sem falar em outros segmentos com destacada atuação de boquenses apaixonados, como Licinho, Luiz Empenado, a saudosa passista Maíca, as portas bandeiras Maria Helena Madeira e Irene de Souza, Antônio Picolé, o saudoso locutor Lutero Batista Reis (o Futrica), Zezé Biquinha, o saudoso ex-presidente João Batista Euzébio, Mestre Amaro e sua esposa e costureira Leila Terezinha, já falecidos, o saudoso Seu Cidinho, Paschoal, entre tantos outros nomes que enriquecem a galeria de abnegados boquenses.

Chega um grande artista


O carnavalesco Wanderley Rodrigues fez história na verde e branco nas décadas de 1970 e 1980 (Foto: arquivo Ezilma Teixeira)

A chegada de um grande e talentoso artista, chamado Wanderley José Rodrigues (9/7/1924 – 23/8/1995), no carnaval de 1974, deu ao bom das Bocas novos ares e uma mudança estética que marcou época.

Mestre Leley, como era conhecido o saudoso carnavalesco, criou memoráveis desfiles, até hoje lembrados. Sob sua chancela, a escola conquistou importantes títulos, como os de 1975, 1976, 1980 e 1988.

O último carnaval idealizado por Mestre Leley foi em 1994, quando a escola, sob a presidência de Nemésio Gomes, desfilou com o enredo “Folia de Reis – do Rei Midas ao Rei Pelé”, sendo vice-campeã naquele ano em que, por iniciativa do presidente Nemésio, foi gravado um documentário com imagens raras gravadas na antiga quadra e na casa do saudoso carnavalesco Leley.

Na sequência, a comissão de frente de 1974, o destaque Valdir Belô em 1977 e uma ala do desfile campeão de 1980 (fotos reprodução Jornal O Cartaz/ Arquivo pessoal Rubem Moreira - Kiko)


Nas fotos, a partir da esquerda, o carro do corso no desfile de 1979, quando a escola contou a história do carnaval trirriense no enredo "Da Catinga da Nêga ao Bom das Bocas"; o transformista Baby e a destaque Celina Santos, no desfile de 1981, no enredo "Europa, França e Bahia" (fotos reprodução Jornal O Cartaz/ Revista Destaque 80)

O retorno em grande estillo

Durante longo período em que o carnaval trirriense ficou parado, muitos sambistas se movimentaram para retomar o desfile considerado um dos melhores do interior fluminense.

Em 2002, o carnaval retornou com grande incentivo do então prefeito Celso Jacob, mas, sem o Bom das Bocas.

Pouco tempo depois do carnaval de 2002, sob a presidência de Otorino Bilheri de Souza (atual presidente), a escola deu a volta por cima e marcou seu retorno para desfilar em 2003.

Nas apurações: em 2007, os saudosos Ivan Cerqueira, ex-presidente da escola, com o locutor Luiz Carlos (o Lulu); em 2008, a radialista Mariah Ameida entrevista o diretor Darci Ferreira após a confirmação da vitória; em 2009, o saudoso João Batista vibra com a vitória do desfile "Na rota do sol" (fotos: Arquivo ERJ/ Jonair de Christo)

Na época, o então presidente Otorino teve grande dificuldade para retornar com a agremiação, mas, sua persistência, o importante apoio da comunidade e uma grande vontade de retomar uma tradição que estava parada havia cerca de 8 anos, fez a escola renascer.

Um dos projetos capitaneados pelo presidente foi a gravação de um CD que em sua coletânea reunia alguns sambas de enredo que marcaram época na escola; até mesmo dos tempos de bloco de enredo.

Gravado em Três Rios, no estúdio do músico João Aguiar (atual secretário de Cultura do município), sob sua produção, o CD mexeu com os brios dos boquenses e o gigante adormecido acordou.

O resgate das trilhas sonoras de desfiles inesquecíveis ganharam nova gravação nas vozes de Tiãozinho, Mosquito, Niltinho, Genê e Robinho Nova Era. Parte da importante história da escola estava resguardada para a posteridade.

Alguns sambas, como Coisas da Velha Província (de 1971, quando bloco) e o clássico Riquezas Minerais (de 1972, na estreia como escola de samba), não ficaram de fora.

Vale lembrar que também figuraram no CD, sambas assinados por nomes consagrados do carnaval carioca, como Davi Corrêa (grande vencedor na Portela), autor em parceria do samba de 1981 (Europa, França e Bahia) e Neguinho da Beija-Flor, autor em parceria do samba de 1982 (Viagem Maravilhosa ao Mundo da Fantasia).

Isso sem falar de compositores consagrados na região, como o saudoso Pádua, e ainda José Mário – um dos que mais assinou sambas na escola - e Fernando Barbosa.

A escola retornou em 2003, desfilando com o enredo “Asas e Voos”, de autoria da saudosa escritora, poetisa e historiadora Maria Aparecida Bravo Xavier, com enredo desenvolvido pelo carnavalesco Trajano Antunes Gomes e obtendo o vice-campeonato.

No ano seguinte, em 2004, ainda sob o comando do presidente Otorino, a escola desfilou com o enredo “Grécia – Berço das Filhas de Minemosine, também da enredista Maria Aparecida Bravo Xavier, com trabalho do carnavalesco Walter Matheus. O título foi dividido com a Mocidade Independente de Vila Isabel.

Nos desfiles de 2009, 2010 e 2011 (a partir da esquerda), momentos marcantes do Bom das Bocas: o primeiro casal de mestre-sala e porta bandeira - Chiquinho e sua mãe, a saudosa Maria Helena; uma das alas mais bonitas da escola, comandada por Dão Carteiro; o belo carro criado por Junior Pernambucano, premiado com o Troféu Ziriguidum (fotos: Jonair de Christo)


 
Outro desfile marcante aconteceu em 2006, quando a escola apresentou o enredo “De Paris a Vila Rica ao Brasil dos caras-pintadas.

Um ideal de liberdade, igualdade e fraternidade”, também sob o comando do presidente Otorino Bilheri, a escola fez uma bela apresentação com criações do carnavalesco Trajano Gomes.

O samba de enredo foi defendido por Reginaldo do Salgueiro. Naquele ano, surgia no barracão da escola, um talento que viria marcar os desfiles seguintes da agremiação.

As atenções se voltaram para o trabalho do artista Junior Pernambucano, um nordestino que chegava à cidade para dar uma nova roupagem ao Bom das Bocas.

A era Junior Pernambucano

Junior Pernambucano

A partir de 2007, Junior Pernambucano passaria a assinar os desfiles como carnavalesco. Desde então, a escola sofreu uma mudança estética que agradou aos boquenses e especialmente o público.

Foram desfiles marcados por apresentações grandiosas e conjuntos alegóricos que deixavam arquibancadas e jurados boquiabertos com tanta beleza e criatividade do artista nordestino. De 2007 a 2020, a exceção dos desfiles de 2009 (com o carnavalesco Hugo Bispo), 2014 (com o carnavalesco Gilber Rosa) e 2016 (com o carnavalesco Vitor Matheus e uma comissão de carnaval), Junior esteve à frente dos trabalhos com suas criações, que renderam mais seis títulos conquistados.

Nas fotos (à esq.): Maria Aparecida Bravo Xavier, o carnavalesco Trajano Gomes e o presidente Otorino em 2005 (foto Jonair de Christo); a rainha da Bateria Furiosa, Vanessa Gatto e Mestre Ringo, em 2011 (foto Jonair de Christo); grande baluarte e diretora Teresa Alexandre; Mestre Amaro, à frente da bateria, em 1987, no belo desfile "O Mar de Minas Gerais"

Nas fotos (à esq.): O ex-presidente Luiz Carlos Rios (Kal); Os saudosos ex-presidentes Nemésio Gomes e Fernando Mariano (Fernandão); Otorino Bilheri durante homenagem ao baluarte Cidinho, tendo o Paschoal ao fundo; o destaque Rogério Scarp (Rorô) no desfile campeão de 2004

Nas fotos (à esq.): O ex-vice presidente Joe e o presidente Otorino na homenagem à Tia Lúcia (ao centro); carro de som da escola com Mário Sempre Samva, Zé Bola e Zé Mário (foto Jonair de Christo); a saudosa porta bandeira conceição com o mestre-sala Russo no desfile de 1994; o atual comandante da Bateria Furiosa, Mestre Junior

Nas fotos (à esq.): Destaque Lourdes Kopke no abre-alas de 2004; Jorge Camburão, Kiko e Arlindo Pombo na avenida, no desfile técnico; Jorge Assunção, o incansável diretor de barracão e alegorias; no desfile de 2005, o 2º casal de mestre-sala e porta bandeira, Renan Pereira e Renata Nunes; ao lado uma foto marcante na lente de Jonair de Christo com os ritmistas mirins da escola, o futuro do bom das Bocas

Comemorações hoje e amanhã

A comemoração pelo 60º aniversário começa na data festiva de hoje (6) com missa às 19h, a tradicional apresentação da folia de reis e muito samba com todos os segmentos da escola sob o ritmo da Bateria Furiosa sob comando de Mestre Junior, tendo à frente a rainha Vanessa Gatto e o casal de mestre-sala e porta bandeira Patrick e Luana.

Amanhã (7), a festa continua a partir das 17h, com o grupo Kantaí, apresentação da aniversariante e o “2º Bom das Bocas convida”, com show da Beija-Flor de Nilópolis, uma das mais tradicionais escolas de samba do grupo especial do carnaval carioca. Até 19h a entrada será gratuita.

Preparativos para o desfile

Com o barracão instalado na antiga fábrica de talco, no bairro Triângulo, a escola já deu início aos preparativos para o desfile que promete marcar os 60 anos de existência. O enredo “Folia nossa de cada dia”, do carnavalesco Junior Pernambucano, promete entrar para a história.

"Fantasiar, sonhar, devanear! Por que não fazer uso dessa capacidade humana, projetada pela fábrica delirante chamada cérebro, para espantar qualquer amargura pessoal ou mazelas de ordem social através de folias promovidas a cada dia? É assim que iremos comemorar nossos 60 anos com muito festejo e alegria, iremos louvar aos Santos Reis e ofertamos a primeira fatia do bolo, porque é essa magia que se faz eterna, revigorada dia após dia, para quem passa meses a fio pensando em fazer folia. Rumo à Vitória!", publicou a escola em suas redes sociais quando lançou o tema, em outubro do ano passado.

O samba é assinado pelos compositores José Mário, José Américo, Batista Coqueiral, Júlio Pagé, Oscar Fernandes, Marco Banderas, Miguel da Costela, Ricardo RC e Tio Valdô e na avenida será cantado pelos intérpretes Zé Bola e Mário Sempre Samba.


Confira a galeria de desfiles campeões da escola:


A nossa homenagem se estende a tantas outras pessoas que fazem desta escola de samba um grande patrimônio do Carnaval de Três Rios e da
nossa cultura. Parabéns, Bom das Bocas!



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