O Grito


Tem certos dias em que um treinador, mesmo elogiado pela imprensa, respeitado pela torcida, como Fernando Diniz, para manter o elenco unido se deixa levar pelos gritos de uma incomodada cobra criada.

E, normalmente, esta cobra criada anda inconformada com a reserva e exige, e exibe, mesmo com prazo de validade vencido, seu currículo acima do que anda produzindo.

E quem anda gritando por uma vaga no time, com o currículo às mãos acima do que os seus pés andam produzindo, é Felipe Melo.

Ontem, com David Brás à sua disposição, um especialista da posição, que quando se machucou não só jogava bem como marcava gols, Fernando Diniz cedeu à gritaria. E já que no lugar do André seria impossível, acomodou os gritos da cobra ao lado do Nino.

Logo me veio à cabeça a gritaria que levou o Cruzeiro ao rebaixamento em 2019: Edilson, Egídio, Henrique, Thiago Neves...

Há algum tempo, pedi ao Junior, o Maestro, o telefone do Wanderley Luxemburgo. Jogamos juntos no Flamengo e somos amigos. Ele tinha improvisado Felipe Melo na zaga e perdido dois jogos seguidos pelo Palmeiras. E em jogadas pelo alto.

Lembrava a ele que o Pitbull jogou, como cabeça de área, toda sua existência à frente dos últimos defensores. E isto fica registrado no seu repertório. E quando uma bola é alçada sobre a área, ele mal percebe que passou a ser o último a proteger o Fábio.

Wanderley tanto agradeceu como não se convenceu. E caiu dois jogos depois diante da sua teimosia.

Não joguei com Fernando Diniz, nem tenho seu telefone. Mas como torcedor, tenho direito a dar um grito, aqui de Três Rios, implorando que pare de escalar Felipe Melo de zagueiro.

Quem sabe meus apelos cheguem aos seus ouvidos antes que a vaga na Libertadores se cale outra vez?

Por José Roberto Padilha
Foto: Reprodução do Colunista

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