O que mais deve ter doído no goleiro argentino é que todas as quatro bolas que o venceram mal tocaram nas suas redes. Elas mansamente foram lhes conceder carinho.
Em nem um só, dos quatro gols que sofreu, foi desferido um chute forte, indefensável em sua direção, impulsionado pelas pernas cada vez mais musculosas do futebol moderno.
Foi tanta a arte que o Flamengo levou a campo, que seria um deboche sacudir as redes em meio a um estádio admirado, inerte e silenciado.
O Brasil já teve dois centroavantes como o IcePedro. E davam brilho às tardes quando Atlético-MG e Cruzeiro se enfrentavam. Reinaldo de um lado, Tostão do outro. A força virava magia.
Quando Pedro entra na grande área, onde a maioria dos tanques se apavora porque ali está pintada a linha tênue entre a glória e o abismo, e eles, centroavantes, tem segundos para equilibrar o corpo, olhar o goleiro e decidir a sorte de todo mundo, seu cérebro, ao contrário, recebe uma camada de gelo.
E diante do desespero de todo mundo, enxerga soluções que só a tranquilidade seria capaz de conceder espaço ao raciocínio.
Pode até o Firmino se firmar, Gabriel Jesus ressuscitar, Cano se naturalizar. Não convocar esse menino, aproveitar esse momento mágico, seria uma falta de respeito com o torcedor brasileiro.
Ou aquele vidro que fica à frente do Tite nos camarotes em que se esconde, com aquela mesma postura dos seus atletas metidos à europeus, com os fones de ouvido que os mantém protegidos da idolatria da sua gente, não o deixa enxergar o óbvio?
Já ensinava nosso mestre, João Baptista Pinheiro, que futebol é momento. E o momento a IcePedro pertence.
Hoje é aniversário de 70 anos de um discípulo do Pinheiro. Jogavam na mesma posição. E quem foi o treinador que lançou IcePedro no time principal?
Parabéns, meu amigo visionário Abel Braga.
Por José Roberto Padilha
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